Ao visitar rapa nui pela primeira vez, em maio de 2000, não tinha idéia de que acabaria questionando o que acreditava saber acerca do passado da ilha. Na realidade, viajava como turista, não como arqueólogo. Mas fui convidado por Sergio Rapu, governador nativo da ilha e ex-aluno meu - ele estudou arqueologia na Universidade do Havaí - a fazer pesquisas na ilha. Previa que meu trabalho e de meus alunos, iniciado em agosto de 2000, ajudaria a dar os toques finais em uma história bem estabelecida. Mas, quando comecei a rever dados de pesquisa arqueológica, estudos sobre os moais e evidências sobre mudanças ambientais, percebi que havia uma série de lacunas no que se sabia sobre Rapa Nui, e passei a ficar cada vez mais cético sobre tudo dito acerca da pré-história da ilha.
Nos anos seguintes, fizemos trabalho de campo durante um ou dois meses por ano. Meu colega Carl P. Lipo, arqueólogo da Universidade Estadual da Califórnia, juntou-se ao grupo e me apresentou ao potencial das imagens por satélite, que usamos para explorar características como as antigas estradas pelas quais os rapanui transportavam os moais da pedreira de Rano Raraku para qualquer canto da ilha. Seguir o alinhamento das rotas também resultou na documentação de vários moais até então não registrados.
Em 2004, começamos novas escavações em Anakena. Essa praia de areia branca teria sido o local mais convidativo para que os primeiros colonizadores ancorassem seus barcos (grande parte da costa é composta por despenhadeiros ou penhascos rochosos). Por isso, a maioria dos antropólogos suspeita que as primeiras colônias tenham sido estabelecidas ao redor de Anakena. Pretendíamos estudar subsistência e mudança ambiental, não cronologia básica, que acreditávamos já estar estabelecida.A estratificação magnificamente inalterada da areia provou ser o sonho dos arqueólogos. A integridade das camadas seria útil para determinar quando as coisas haviam acontecido. Desenterramos fragmentos abundantes de carvão (indicando o uso de fogo), ossos (incluindo os de ratos polinésios, uma espécie que chegou com os colonos) e fragmentos de obsidiana lascada (sinal claro de trabalho manual humano) nos 3 a 5 cm de barro subjacente.
Abaixo, não encontramos nada que sugerisse atividade humana. Ao contrário a argila antiga era enigmática, com vazios irregulares - locais onde o solo uma vez se moldara ao redor das raízes das árvores de palmeira Jubaea. Sem dúvida havíamos encontrado a camada de material mais antigo relacionado a humanos em Anakena, e presumindo que este fosse o local das primeiras colônias da ilha, estávamos em excelente posição para determinar a data da colonização inicial.
Portanto, fiquei decepcionado quando o laboratório que faz a datação por carbono dessas amostras nos enviou um e-mail comunicando que as datas mais antigas eram de apenas 800 anos atrás, o que significava que a ocupação começara por volta de 1200.
As datas das camadas mais próximas à superfície eram progressivamente mais recentes, o que não é consistente com a possibilidade de que de alguma forma nossas amostras tivessem sido contaminadas por carbono moderno.
Realmente não havia como explicar esses números, pelo menos não pelo modelo convencional aceito de desenvolvimento de Rapa Nui. Quando a cópia em papel do relatório chegou, algumas semanas depois, examinei os dados de novo. Quanto mais analisava, mais parecia que nossos resultados não eram o problema.
Conversei com Atholl Anderson, da Universidade Nacional Australiana. Ele havia feito uma triagem cuidadosa de datações por carbono da Nova Zelândia e concluído que os primeiros colonos chegaram lá por volta de 1200, várias centenas de anos depois do que os arqueólogos acreditavam no início.
A reação às suas idéias foi bastante fria no começo, mas o tempo e evidências adicionais provaram que estava correto. Com essa experiência nas costas, Anderson me aconselhou a manter a cabeça aberta e confiar nos meus dados mais do que em quaisquer idéias anteriores.
Mas a cronologia tradicional estaria simplesmente errada? Lipo e eu analisamos mais a fundo as evidências sobre a colonização humana inicial. Avaliamos 45 datações por carbono publicadas indicando presença humana mais de 750 anos atrás utilizando um protocolo de "higiene cronométrico".
Rejeitamos datas medidas com base em de fontes não confiáveis, como organismos marinhos, que exigem correções para o carbono mais antigo vindo do ambiente oceânico. Também desconsideramos datas únicas que não haviam sido confirmadas por uma segunda datação do mesmo contexto arqueológico.
Utilizar somente datas emparelhadas ajuda a assegurar a confiabilidade dos dados. Ficamos com somente nove datas aceitáveis. Com essa seleção, evidências sobre a primeira ocupação ocorrendo por volta do século IX simplesmente ruíram.
Apesar de os nossos resultados não se encaixarem na data de colonização aceita para Rapa Nui, eles se ajustavam à cronologia do desmatamento que Orliac, Mann, e Mieth e Bork haviam desenvolvido. É preciso simplesmente descartar a idéia de que uma população pequena e temporária ocupou a ilha por séculos. Ao contrário, postulamos que o impacto ambiental foi disseminado desde o começo.
A noção de que os humanos não chegaram a Rapa Nui até cerca de 1200 não foi a única coisa que me fez repensar minhas suposições acerca da ilha. Pesquisas feitas em outras ilhas do Pacífico fornecem um paralelo atraente e uma possível explicação para o dano ambiental em Rapa Nui.
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