sexta-feira, 6 de julho de 2007

Cientistas pedem busca por vida 'estranha'

Luas de Saturno podem abrigar vida

Academia Nacional de Ciências dos EUA quer aprofundar busca por vida fora da Terra. Alienígenas podem ser muito diferentes do que imaginamos, dizem pesquisadores.

A vida extraterrestre pode ser tão estranha a ponto de não ser imediatamente reconhecível, e os cientistas que buscam alienígenas devem procurar formas familiares e também inesperadas, segundo especialistas. Eles acham que a atual abordagem da Nasa, de "seguir a água", funciona bem sob a premissa de que em todo lugar a vida é como na Terra -- baseada em água, carbono e DNA. Mas a procura pela "vida tal qual a conhecemos" pode acabar ignorando algo exótico, disse uma comissão da Academia Nacional de Ciências dos EUA na sexta-feira (6).

"O objetivo do relatório era poder procurar vida em outros planetas e luas com uma mente aberta, e talvez não perder alguma outra forma de vida porque estamos procurando uma forma óbvia", disse John Baross, professor de Oceanografia da Universidade de Washington, em Seattle, que presidiu a comissão, que incluía bioquímicos, cientistas planetários, geneticistas e outros especialistas, que consideraram todas as formas de vida existentes.

Recentes descobertas de extremófilos -- organismos que vivem em condições antes consideradas incompatíveis de calor, frio, escuridão ou contato com substâncias químicas -- mudaram as idéias sobre como a vida pode sobreviver.

Como bioquímico, Baross disse que experiências em laboratório mostram que a água não necessariamente precisa ser a base da vida -- seria possível um organismo usar metano, etano, amônia ou até substâncias mais bizarras. "Há muitas teorias sobre o que é vida e o que pode ser um sistema vivo", disse Baross por telefone.

Atualmente, a principal pista na busca por vida no espaço vem de telescópios que buscam uma assinatura espectral de planetas que possa sugerir a existência de água na superfície. Em Marte, robôs buscam sinais de que há ou houve água.

"Queríamos na verdade pensar um pouco fora daquela caixa e pelo menos tentar articular algumas das outras possibilidades além da vida água-carbono", disse Baross.

"Toda forma de vida terrestre usa algum DNA ou RNA para codificar a informação básica para sua replicação e mudança, mas talvez existam outras formas que usem um método diferente", diz o relatório.

A comissão também recomendou que a Nasa volte a olhar para alguns lugares promissores no nosso próprio Sistema Solar, como Titã e Encelado, que são luas de Saturno, ou mesmo para o caloroso vizinho Vênus.

"Se você é um bioquímico, Titã é de enorme interesse, porque é uma lua de carbono. Claramente tem alguns lagos ou piscinas de metano ou etano líquidos. Poderia haver reações ocorrendo que seriam favoráveis para a produção de bioquímicos complexos", disse Baross.

"A exploração que poderia levar a uma nova forma de vida seria a mais profunda descoberta já feita", acrescentou ele, para quem uma tragédia de proporções equivalentes seria tropeçar nessa forma de vida e ignorá-la ou, ainda pior, destruí-la por considerar que não parece vida.


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