Nova sonda busca planetas candidatos a abrigar vida.
RAFAEL GARCIA
Da Folha de S.Paulo
RAFAEL GARCIA
Da Folha de S.Paulo
Se as condições meteorológicas permitirem, decola amanhã às 12h23 (horário de Brasília) o primeiro telescópio espacial criado com participação brasileira. A sonda Corot (abreviação de Convecção, Rotação e Trânsito) terá como missão encontrar planetas pequenos e rochosos -- parecidos com a Terra e capazes de abrigar vida -- fora do Sistema Solar.
A sonda será colocada em órbita por um foguete russo lançado da base de Baikonur, no Cazaquistão. Projetada pela França, que bancou 70% da empreitada, a Corot contou com participação de brasileiros no desenvolvimento de seu software de operação e em projetos científicos. Uma das estações terrestres que receberá os dados da sonda ficará em Alcântara, no Maranhão.
Apesar de ter contribuído com menos de 2% do dinheiro usado no projeto, o Brasil foi de importância fundamental. "A base de Alcântara vai permitir um aumento de quase 50% no número de estrelas observadas", diz Eduardo Janot Pacheco, professor do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica da USP) e chefe da divisão brasileira da Corot. Se a sonda não tivesse uma base no hemisfério sul, seu campo de visão cairia de 100 mil para 70 mil estrelas.
A maior parte dos cerca de 200 planetas extra-solares conhecidos até agora foram detectados por meio da influência de sua gravidade no movimento das estrelas no centro de suas órbitas. "Mas a perturbação gravitacional só permite detectar planetas grandes e próximos das estrelas", explica Sylvio Ferraz Mello, do IAG.
O diferencial da Corot é sua capacidade de detectar com precisão as variações de luz que ocorrem quando um planeta passa na frente de uma estrela, eclipsando-a. Será a primeira chance real de achar um lugar semelhantes à Terra.
Terremoto nas estrelas
A outra meta da Corot será investigar os "estelemotos" (terremotos estelares), fenômenos que podem revelar como é a estrutura interna das estrelas em seus diversos estágios de evolução. Com esses dados será possível pela primeira vez colocar sob teste as atuais teorias sobre o futuro do Sol.
Aprimorar esse conhecimento é fundamental. "No século 17 houve uma pequena era glacial na Terra porque o Sol ficou mais fraco por uns 50 anos, mas ninguém sabe bem por quê", exemplifica Janot. De acordo com ele, uma compreensão melhor da estrutura das estrelas pode ajudar a prever fenômenos como esse.
Grande parte do poder de observação da Corot se deve a sua órbita e à sua capacidade de apontar para uma mesma região do céu por até seis meses. "Vamos poder observar vários tipos de fenômenos físicos que nunca conseguimos acompanhar de maneira contínua porque nunca foi possível ver algo no espaço sem interrupção por mais de 12 horas", diz Roberto Dias da Costa, da USP, que estuda variações periódicas na luminosidade de estrelas. O Brasil também tem cientistas de outras oito universidades e três institutos de pesquisa envolvidos no projeto. Espanha, Áustria, Bélgica e Alemanha também participam do projeto. O lançamento da Corot será transmitido amanhã pela TV da agência espacial francesa.
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