Ryder-Smith – Parece que a teoria da relatividade é a que estabeleceu os paradoxos mais conhecidos. A ficção científica apoderou-se da noção de relação entre espaço e tempo, mas esta relação certamente não é evidente para todos.
Dr. Capra – A observação dos movimentos de objetos numa velocidade muito elevada – próxima da velocidade da luz – permite apreciar numerosos fenômenos.
Tome por exemplo uma caneta e a faça circular extremamente rápido numa velocidade próxima à da luz. Observará que esta caneta encolhe-se na medida que a velocidade se eleva. O que ocorre na realidade? Qual é o comprimento real da caneta? Este paradoxo é resolvido por intermédio da teoria da relatividade, que supõe uma realidade do espaço e do tempo em quatro dimensões.
A caneta é uma projeção em três dimensões de uma realidade de quatro dimensões. De fato, os físicos estão tão habituados, no terreno da matemática, a este fenômeno de redução dos objetos a velocidade elevada que já não constitui um paradoxo para nós.
Ryder-Smith – Por outro lado, os físicos têm o costume de considerar a massa e a energia como uma só e única coisa, enquanto que esta noção não é habitual para a maioria da gente. Quando, neste campo, o estudo é levado até as partículas subatômicas, estas podem ser consideradas como massas de energia, animadas por um movimento constante.
De fato, neste nível não existe nada estático nem fixo. Do ponto de vista da física moderna, estes aspectos sobre o mundo encontram um paralelo na concepção dos místicos.
Dr. Capra – Com efeito, estas duas noções – a da unificação ou inseparabilidade do espaço e do tempo, e a da equivalência entre massa e energia – estão igualmente presentes no ensinamento dos místicos. Não utilizam os mesmos termos, claro, mas sustentam constantemente que se deve ter uma compreensão dinâmica do universo – tal como movimento, cadência, vibração.
Não existem estruturas rígidas, nem substância material. Tiramos esta lição exatamente da relatividade. No início fiquei abismado, mas depois muito satisfeito por comprovar esta coerência. Segundo as tradições orientais, só pode ter uma compreensão dinâmica do universo se alguém der conta de que tempo e espaço são inseparáveis. Assim, os Budistas consideram que o tempo e o espaço se interpenetram, o que descreve perfeitamente a noção de tempo e espaço da teoria da relatividade.
Ryder-Smith – Existe ainda outro vínculo entre os físicos modernos e os místicos orientais, pois ambos consideram que não se pode ser um observador objetivo separado do mundo que é observado.
Dr. Capra – Não se aprende o conhecimento místico nos livros nem na escola. Deve ser adquirido pela experiência e exige o total envolvimento do ser. Enquanto isso, os físicos contemporâneos começaram a se referir ao participante, em vez do observador. Sendo assim, o conhecimento da relevância da participação constitui um aspecto muito importante em todas as tradições místicas.
Ryder-Smith – Estes paralelos entre os físicos e os místicos são os que você considera como os mais importantes. Eles apresentam dois aspectos primordiais.
Dr. Capra – De fato. O primeiro aspecto diz respeito à unidade fundamental e à interdependência de todos os fenômenos. O segundo aborda a natureza intrinsecamente dinâmica da realidade. Existem outros paralelos, mas estes dois são os mais importantes.
Ryder-Smith – Mas, são tão profundas estas semelhanças? Podem os físicos e os místicos utilizar termos idênticos para descrever sua concepção da realidade, embora os paralelos sejam talvez superficiais?
Dr. Capra – Esta suposição é muito interessante, pois de fato é exatamente o que pensei no princípio. Disse a mim mesmo que estes paralelos efetivamente não podiam ser mais que superficiais. Minha convicção não podia firmar-se mais do que a descoberta de outros paralelos que realmente reforçaram a coesão deste ponto de vista... e é precisamente o que ocorreu.
Descobri que os paralelos que existem em diversos campos se reforçavam mutuamente. Por esta razão agora considero que a visão do mundo descrita nas tradições místicas representa os fundamentos filosóficos que melhor correspondem às teorias da ciência moderna.
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