Brasileiros vão mapear "radiador" polar
Cláudio Ângelo.
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
Cláudio Ângelo.
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
O aquecimento global pode estar enguiçando o principal "radiador" do hemisfério Sul. Cientistas brasileiros descobriram indícios de que as correntes de convecção do oceano Austral, que dissipam o calor da região, estão sendo afetadas pelo derretimento de geleiras na península Antártica.
No próximo verão, eles partem para o continente gelado para investigar a extensão desse dano. O projeto, liderado por oceanógrafos do Rio Grande do Sul, é um dos sete estudos brasileiros em colaboração com grupos de outros países que integram a participação do país no Ano Polar Internacional (API).
O grupo coordenado por Carlos Alberto Eiras Garcia, da Furg (Fundação Universidade do Rio Grande), vai examinar o estado de saúde da chamada circulação termohalina austral. Ela consiste em um cinturão de correntes oceânicas que ajudam a manter o equilíbrio climático do planeta.
Esse radiador colossal funciona da seguinte forma: correntes quentes trazem o calor da zona equatorial atlântica para o pólo, dissipando-o no caminho. Na Antártida --mais especificamente no mar de Weddell-- essas correntes resfriam e ficam mais salgadas. Isso aumenta sua densidade e faz com que elas afundem, formando correntes frias submarinas que sobem rumo à América do Sul, como a das Malvinas.Além de dissipar o calor, a corrente submarina traz um bônus para a América do Sul: nutrientes do fundo do oceano para o mar argentino. "É por isso que o litoral gaúcho é o mais rico [em peixe] do país", disse Eiras Garcia à Folha. Quem aprecia os congros da Argentina sabe do que ele está falando.
Acontece que, para se manter, esse cinturão de convecção precisa da diferença de densidade. E o degelo na península Antártica, uma das regiões do planeta que mais esquentaram nos últimos 50 anos, pode estar acabando com ela, ao jogar mais água doce no oceano Austral. Com salinidade diminuída, a corrente deixa de afundar.
Garcia e seus colegas vão navegar no mar de Weddel em busca desses pontos de afundamento, para determinar o estado de saúde da corrente.O prognóstico, porém, é pessimista: estudos anteriores já detectaram que as águas de fundo do estreito de Bransfield (oeste da península), já estão mais quentes e menos salgadas.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u16075.shtml
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