Dr. Capra – Efetivamente estou convencido disto. Esta convicção é resultado da seguinte observação: o físico moderno pode orientar-se em duas direções: Buda ou a Bomba. Na atualidade, um terço ou a metade de nossos investigadores e de nossos engenheiros trabalham no campo militar, e assim utilizamos este fabuloso potencial de criatividade e de engenhosidade humanas para conceber armas dotadas de um poder destruidor cada vez maior.
Considero que, nesta situação, é muito importante ressaltar que a física também pode tomar um caminho muito diferente, para uma concepção próxima à dos místicos. Esta concepção implica um certo estilo de vida que proíbe, por exemplo, prejudicar seus irmãos e irmãs, ou outras criaturas.
Então deve ser reforçada a proteção da vida e não a sua destruição. Penso que os paralelos que existem com o misticismo são de extrema importância. Não somente são fascinantes, mas que também são muito válidos social e culturalmente. Esta revolução constituiu tal desafio que os físicos tiveram que atravessar uma profunda crise.
Lendo os trabalhos de Bohr, de Heisenberg, de Einstein e outros, é muito interessante observar que todos declaram atravessar uma crise muito real. Sem dúvida esta crise é essencialmente intelectual, mas é acompanhada igualmente de um choque emocional e, talvez, de uma crise existencial.
Isto me fez compreender a natureza quase idêntica da crise que atualmente devemos defrontar como sociedade. Experimentamos, de fato, uma crise econômica, crise provocada pela utilização de armas nucleares, uma crise ecológica, um aumento da violência, da inflação, do desemprego, etc. Considero agora que estes fenômenos são as diferentes manifestações de uma só e única crise, que é essencialmente uma crise de percepção.
Ryder-Smith – Esta crise de percepção é provocada pelo fato de que a maior parte de nós ainda está obstinadamente ligada uma visão caduca do mundo. Ainda seguimos a via traçada por Newton e Descartes, na busca de respostas baseadas no raciocínio analítico.
Dividimos os nossos problemas em elementos e logo nos esforçamos em dispor corretamente as peças do quebra-cabeça. Dr. Capra, pensa que deveríamos também pôr ênfase nas relações entre estes elementos, e considerar os problemas num contexto mais amplo? No livro que vai publicar dentro de pouco tempo, sob o título “Tempo de Mudança” (The Turning Point), você advoga em favor de uma visão dos sistemas baseada numa análise funcional.
Dr. Capra – Esta visão realça a interdependência e a inter-relação dos sistemas. Um sistema é um conjunto integrado, cujas qualidades essenciais derivam da inter-relação e da interdependência de seus componentes. De fato, em meu livro, trato principalmente de sistemas vivos.
Todo organismo é um sistema vivo, desde a simples célula até o músculo ou um órgão do corpo humano. O corpo humano é, no seu conjunto – espírito /corpo – um sistema. Um sistema social é um sistema vivo. Por exemplo, uma família, um grupo social, uma nação, etc. Todos estes sistemas são conjuntos integrados, regidos por princípios de organização bastante idênticos.
Como pode ver, a concepção tradicional punha ênfase nos elementos, simplificando e explicando o conjunto em função de suas partes, enquanto que a análise funcional está em oposição a esta concepção, completando-a, pois se esforça em compreender o todo em função das relações entre suas partes.
Entretanto, estas duas visões são necessárias, mas nossa cultura até agora só dedicou sua atenção ao raciocínio redutor, ignorando a noção funcional dos sistemas.
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