segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Einstein e Buda - IX

Ryder-Smith A nosso parecer, este enfoque analítico dominado pelo princípio Yang tem conduzido aos graves problemas que confrontamos hoje em dia. Você cita como exemplo a medicina...

Dr. Capra –
Nossa ciência já não é capaz de compreender nem de tratar numerosas enfermidades graves e freqüentes que nos afetam hoje, pois considera o corpo humano como uma máquina composta de diversas partes. Os diferentes especialistas que tratam estas partes freqüentemente não têm em conta as estreitas relações que existem entre elas, a interdependência do corpo e da mente, nem do ajuste de todo o organismo num sistema social e num ambiente natural.

Todos estes aspectos são muito importantes na enfermidade. Ademais, dado a que a visão do mundo que subjaz na medicina atual não permite abordar estas relações recíprocas, em geral somos incapazes de tratar nossas enfermidades mais graves. Podemos observar um fenômeno muito similar no campo da economia: os economistas têm tendência a isolar a economia do sistema social e do ecossistema que lhe servem de pano de fundo.

Por conseguinte servem-se de conceitos fundamentais tais como o lucro, a produtividade, o produto nacional bruto, etc. de maneira muito limitada, embora não podem compreender fenômenos como a inflação, que devem ser considerados em seu contexto social e ecológico mais amplo. O mundo está hoje tão povoado que ninguém pode estudar um problema separando-o de seu contexto.


Ryder-Smith E os economistas que desdenham ao considerar a economia de uma nação num contexto suficientemente global, impõem também valores estreitos na opinião que formulam.

Dr. Capra –
De fato. Pensam por exemplo que a expansão é desejável. A seu parecer, o Produto Nacional Bruto deveria crescer constantemente, são favoráveis à expansão tecnológica, ao crescimento econômico, ao aumento das técnicas e das instituições.

Por conseguinte, chocam inexoravelmente com os limites naturais do ecossistema, já que nosso globo tem um caráter limitado, e não pode haver um crescimento insensível a um ambiente natural limitado. Isto é uma das causas fundamentais da maior parte dos nossos atuais problemas econômicos.

Ryder-Smith
E estes problemas poderiam ser resolvidos adotando um enfoque ecológico para abordar as questões econômicas.

Dr. Capra
Na natureza, todas as substâncias e as matérias reciclam-se permanentemente. Por conseguinte, uma economia fundamentada na reciclagem permanente de seus componentes será estável. Certamente isto não ocorre hoje, pois temos uma economia baseada no desperdício e no crescimento não-diferenciado, na superprodução, no consumo excessivo, etc.

Ryder-Smith
Segundo você, nossos problemas econômicos continuarão enquanto os consideremos de um ponto de vista estreito e demasiado analítico. Mas você procura resolvê-los examinando a economia num contexto muito global.

Dr. Capra
Chamo-o freqüentemente “ponto de vista ecológico”. É um tomar de consciência que lhe faz dar-se conta de que o mundo é fundamentalmente interdependente, que todos os fenômenos dependem um do outro. Estamos incrustados num ambiente natural assim como num contexto social que devem ser levados em conta.

Devemos, pois, compreender que destruindo nosso meio ambiente, poluindo-o ou deteriorando-o de uma maneira ou de outra, terminaremos por destruirmos a nós mesmos. Este tomar de consciência é necessário.

Ryder-Smith – Seu pensamento, como o tema de seu livro “Tempo de Mudança” – The Turning Point – (publicado no Brasil sob o título “O Ponto de Mutação”), baseia-se essencialmente no enfoque ecológico.

Dr. Capra –
Dou ao conceito da ecologia um sentido muito profundo. Na realidade, distingo na minha obra a ecologia “profunda” da ecologia “superficial”. A ecologia “profunda” implica que se admite esta interdependência fundamental a todos os níveis.

Isto envolve igualmente as classes sociais, e diversos exemplos provam que o equilíbrio ecológico exige também uma justiça social, e que uma má – ou desigual – distribuição da riqueza, que caracteriza a situação atual, deteriora o ecossistema, cujo desequilíbrio torna a ser acentuado.

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