sábado, 19 de janeiro de 2008

Cientista crê em vida fora da Terra

Cientista crê em vida fora da Terra

Marcelo Gleiser diz ter "uma certeza quase estatística" de que existe vida fora da Terra. Leia, a seguir, a continuação da entrevista que o físico concedeu à Folha:

Folha - Por que você acha importante levar o conhecimento da ciência para o público em geral?
Marcelo Gleiser -
Do ponto de vista mais filosófico, a ciência faz parte da cultura geral da sociedade. Os cientistas são membros da sociedade. Eles geram idéias, da mesma forma que artistas ou escritores. Acho que deve fazer parte do trabalho do cientista levar para as pessoas essas idéias.

Do ponto de vista mais prático, temos de levar em conta que ciência custa caro. E quem financia a ciência é o contribuinte, por meio de recursos públicos. É importante justificar a importância de seu trabalho para que esses recursos continuem vindo.

O cientista não deve ficar numa posição confortável em seu laboratório, achando que pode ficar quietinho e que esse cheque sempre estará vindo. Ele tem de justificar a aplicação desse dinheiro, que poderia ser empregado para ajudar a abrir uma escola ou sanear uma favela.

Folha -
Isso quer dizer que você critica os cientistas que são contrários à divulgação científica.
Gleiser -
Exatamente.

Folha - Mas como você justifica a necessidade de investir recursos em cosmologia, tendo em vista as necessidades sociais que existem?
Gleiser -
Essa quantidade de dinheiro é irrelevante se for comparada com a que é investida em outras áreas da ciência. A cosmologia é uma fatia muito pequena desse bolo, mas ela tem de estar lá. Ela responde a questionamentos que as pessoas sempre tiveram com relação a questões grandiosas sobre a origem do mundo.

É importante que seja assegurado o trabalho de pesquisadores que lidam com essas questões. Outro aspecto interessante é que o estudo da cosmologia depende de pesquisas experimentais que exigem muita sofisticação tecnológica, usando satélites e outros instrumentos, cujo desenvolvimento sempre traz benefícios diretos e indiretos para a sociedade.

No fundo, essa pergunta é errada. A divisão de recursos públicos deveria ser feita de forma a atender todas as áreas importantes, sem que os investimentos em uma área sejam prejuízos para outra.

Folha - Você acredita que existe vida inteligente fora da Terra?
Gleiser -
Acredito. Mais que isso, tenho uma certeza quase estatística. Existem cerca de 400 bilhões de estrelas só em nossa galáxia, que é a Via Láctea. E se estima que existam cerca de 100 bilhões de galáxias no Universo.

Esses números são tão absurdamente enormes que seria muito improvável que somente nosso planeta tenha reunido condições atmosféricas para desenvolver vida. E isso considerando somente o que nós entendemos como vida, o que pode ser uma visão muito pequena.

Só na Via Láctea, deve haver milhões de planetas com condições de surgimento de vida. E estou certo também que nosso planeta não é o único no Universo que tenha produzido vida inteligente. Considerando esses números astronômicos, seria muito privilégio.

Quanto mais aprendemos sobre o Universo, mais insignificantes nos tornamos. Acho que nossa inteligência, apesar de ser tão importante para nós, não é a única do Universo.

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