terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Cometa revela esplendor no hemisfério Sul (foto)



O cometa McNaught, que há uma semana atingiu sua máxima aproximação do Sol e agora se afasta com celeridade da estrela, alcançou seu brilho máximo na noite de quinta-feira (18) e pôde ser observado com facilidade a olho nu no hemisfério Sul, informou o ESO (Observatório Europeu Austral), localizado no Chile.

Imagens do cometa foram captadas pelo telescópio do ESO em Cerro Paranal, perto de Antofagasta e 1.100 km ao norte de Santiago, onde os astrônomos se surpreenderam com sua claridade e com a curvatura de sua cauda. Vários astrônomos amadores também fotografaram o cometa no Brasil.

"Este fenômeno se deve, provavelmente, à competição entre a pressão da radiação solar e a gravidade que afeta as partículas pesadas e leves do cometa", explicou um porta-voz. Outras imagens foram captadas no balneário de Pucón, 600 km ao sul de Santiago, e na região austral da Terra do Fogo, a mais de 2.000 km da capital chilena.

O cometa C/2006 P1 McNaught foi descoberto em 7 de agosto passado no Observatório Siding Spring, na Austrália, durante uma busca por asteróides próximos a Terra. A partir de 26 de dezembro, tornou-se visível a olho nu no hemisfério Norte, à medida que se aproximava do Sol, até alcançar sua menor distância, em 12 de janeiro.

Nos dias seguintes, quando se distanciou do astro, seu brilho se intensificou até se tornar um dos cometas mais brilhantes dos últimos 40 anos.

O fim da exploração espacial humana


O fim da exploração espacial humana.
No meio da semana, começou a circular no meio astronáutico o rumor de que a China havia destruído, com o lançamento de um míssil, um de seus satélites meteorológicos. Na sexta-feira (19), a Casa Branca confirmou o episódio.
A China de fato destruiu, provavelmente com um foguete de médio porte, um de seus próprios satélites. Ninguém deu muita bola, mas o episódio é causa para bastante preocupação. Esse pode ter sido o início de um processo que levará The end...

Nossa, mas se é tudo isso, por que não está nas manchetes de todos os jornais? O problema é que a maioria dos jornalistas anda vendo muito "Guerra nas Estrelas" para se incomodar. Nos filmes de George Lucas (e, para não ser injusto com ele, na imensa maioria das obras de ficção científica que retratam batalhas espaciais), a destruição de uma espaçonave resulta em sua pulverização completa -- o espaço onde ela estava logo está livre e desimpedido.

Bem, a realidade não é tão generosa assim. Ao destruir seu satélite meteorológico FY-1C, a China não deixou a Terra com um satélite artificial a menos. Na verdade, deixaram o planeta com centenas, possivelmente milhares, de satélites artificiais a mais.

Isso porque os pedaços de um artefato atingido por um míssil no espaço não são vaporizados, como em "Guerra nas Estrelas"; eles apenas se quebram e se espalham, virando detritos espaciais que seguem órbitas erráticas ao redor da Terra -- pequenos satélites.

No caso das explosões chinesas, que provavelmente aconteceu no dia 11 de janeiro, estações de rastreamento já detectaram pelo menos 40 pedaços diferentes -- mas deve haver muito mais. E detritos muito pequenos não podem ser acompanhados adequadamente, o que significa que eles podem colidir com outros satélites e causar danos irreparáveis (talvez até fatais, caso atinjam uma espaçonave tripulada).

Pense que tudo que fica numa órbita terrestre baixa está girando ao redor do planeta a uma velocidade estonteante de cerca de 28 mil quilômetros por hora (cerca de 25 vezes a velocidade do som no ar). Agora imagine uma lasca qualquer de satélite atingindo uma parede nessa velocidade. É uma pancada bem agressiva, e não há material que resista adequadamente a ela.

O espaço ao redor da Terra já é cheio de detritos espaciais -- satélites velhos, pedaços desprendidos de foguetes, estágios queimados de lançadores --, após tantos lançamentos (com graus variados de sucesso) realizados nos últimos 50 anos. Mas se a moda pegar e todo mundo começar a destruir satélites em órbita, a situação pode ficar muito pior do que está.

O resultado seria a criação de um denso invólucro de lixo espacial em torno do planeta, que por sua vez inviabilizaria a colocação de satélites nessas órbitas, assim como lançamentos que fossem além delas, mas tivessem de atravessar a camada altamente poluída.

Houve um tempo em que esse problema estava parcialmente contido por um acordo internacional de 1972, o Tratado Antimísseis Balísticos. Assinado pelos Estados Unidos e pela União Soviética, ele tinha por objetivo impedir que qualquer uma das duas potências desenvolvesse meios de alvejar um míssil nuclear em seu caminho -- uma tentativa de manter algum equilíbrio de forças e, com isso, evitar uma hecatombe nuclear.

Como efeito colateral, o tratado impedia o desenvolvimento de armas contra satélites.O fim da União Soviética, nos anos 1990, enfraqueceu a importância do acordo, mas foi mantido até 2002, quando, adivinhe só, George W. Bush decidiu que os Estados Unidos deviam abandonar a estratégia. Foi apenas um dos muitos passos dos americanos, rumo a um corrido armamentista espacial.

Entre outros, podemos citar a ressurreição do projeto Guerra nas Estrelas, criado pelo presidente Ronald Reagan nos anos 1980, mas nunca colocado em prática, e a decisão política de negar o acesso ao espaço para nações potencialmente inimigas -- declaração feita pela Casa Branca em 2006.

A ação chinesa, além de propiciar uma nova escalada no armamentismo espacial, fornece todos os argumentos para que Bush e seus asseclas prossigam com essa política agressiva ligada ao espaço. Em suma: é de uma estupidez ímpar. De imediato, o caso deve causar um afastamento entre chineses e americanos na área de cooperação civil no espaço, como colocou Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA.

"Os Estados Unidos acreditam que o desenvolvimento e o teste dessas armas é inconsistente com o espírito de cooperação a que ambos os países aspiram na área espacial civil", disse, em nota. "Nós e outros países expressamos nossa preocupação com relação a essa ação dos chineses”.

É o cinismo imperial americano -- enquanto eles se dispunham a brincar, tudo bem. Agora que os chineses entraram no jogo, aí já vira coisa feia. E o cinismo linha-dura chinês também está presente. Até anteontem, a China protestava contra a saída dos americanos do Tratado Antimísseis Balísticos e pedia que os EUA repensassem sua estratégia para o armamentismo espacial.

Ainda é cedo para concluir até onde vai essa confusão, e se outras nações irão "às vias de fato" destruindo satélites velhos só para mostrar sua força. O fato é que, enquanto o quadro evolui, o homem segue fazendo o que até hoje mostrou mais competência para fazer: poluir. E a punição desta vez pode ser prisão perpétua, no terceiro planeta ao redor do Sol.

Nova sonda busca candidatos a abrigar vida

Nova sonda busca planetas candidatos a abrigar vida.
RAFAEL GARCIA
Da Folha de S.Paulo


Se as condições meteorológicas permitirem, decola amanhã às 12h23 (horário de Brasília) o primeiro telescópio espacial criado com participação brasileira. A sonda Corot (abreviação de Convecção, Rotação e Trânsito) terá como missão encontrar planetas pequenos e rochosos -- parecidos com a Terra e capazes de abrigar vida -- fora do Sistema Solar.

A sonda será colocada em órbita por um foguete russo lançado da base de Baikonur, no Cazaquistão. Projetada pela França, que bancou 70% da empreitada, a Corot contou com participação de brasileiros no desenvolvimento de seu software de operação e em projetos científicos. Uma das estações terrestres que receberá os dados da sonda ficará em Alcântara, no Maranhão.

Apesar de ter contribuído com menos de 2% do dinheiro usado no projeto, o Brasil foi de importância fundamental. "A base de Alcântara vai permitir um aumento de quase 50% no número de estrelas observadas", diz Eduardo Janot Pacheco, professor do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica da USP) e chefe da divisão brasileira da Corot. Se a sonda não tivesse uma base no hemisfério sul, seu campo de visão cairia de 100 mil para 70 mil estrelas.

A maior parte dos cerca de 200 planetas extra-solares conhecidos até agora foram detectados por meio da influência de sua gravidade no movimento das estrelas no centro de suas órbitas. "Mas a perturbação gravitacional só permite detectar planetas grandes e próximos das estrelas", explica Sylvio Ferraz Mello, do IAG.

O diferencial da Corot é sua capacidade de detectar com precisão as variações de luz que ocorrem quando um planeta passa na frente de uma estrela, eclipsando-a. Será a primeira chance real de achar um lugar semelhantes à Terra.

Terremoto nas estrelas
A outra meta da Corot será investigar os "estelemotos" (terremotos estelares), fenômenos que podem revelar como é a estrutura interna das estrelas em seus diversos estágios de evolução. Com esses dados será possível pela primeira vez colocar sob teste as atuais teorias sobre o futuro do Sol.

Aprimorar esse conhecimento é fundamental. "No século 17 houve uma pequena era glacial na Terra porque o Sol ficou mais fraco por uns 50 anos, mas ninguém sabe bem por quê", exemplifica Janot. De acordo com ele, uma compreensão melhor da estrutura das estrelas pode ajudar a prever fenômenos como esse.

Grande parte do poder de observação da Corot se deve a sua órbita e à sua capacidade de apontar para uma mesma região do céu por até seis meses. "Vamos poder observar vários tipos de fenômenos físicos que nunca conseguimos acompanhar de maneira contínua porque nunca foi possível ver algo no espaço sem interrupção por mais de 12 horas", diz Roberto Dias da Costa, da USP, que estuda variações periódicas na luminosidade de estrelas. O Brasil também tem cientistas de outras oito universidades e três institutos de pesquisa envolvidos no projeto. Espanha, Áustria, Bélgica e Alemanha também participam do projeto. O lançamento da Corot será transmitido amanhã pela TV da agência espacial francesa.