quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Tapeçaria Cósmica em Órion


NASA/ESA/M.Roberto (STScI/ESA) e Equipe do Telescópio Espacial Hubble




Astrônomos têm assentos privilegiados para observar o nascimento de milhares de estrelas na Nebulosa do Órion (M42), a densa nuvem de gás e poeira a 1.500 anos-luz de distância do Sistema Solar. As mais quentes e massivas estrelas já emergiram de seu casulo celeste.

Poderosos ventos estelares e intensa radiação ultravioleta emergem dessas luminárias cósmicas, moldando a intricada estrutura da nebulosa. Enquanto isso, um número incontável de estralas-bebês, permanece presa às suas delicadas estruturas de origem.

Mosaico combina imagens feitas pelo Telescópio Hubble ao longo de 105 voltas em torno da Terra e dados coletados pelo telescópio de 2,2 metros de diâmetro do Observatório Austral Europeu, nos Andes Chilenos. O mosaico tem tamanho aparente ao da Lua Cheia

Fonte: http://www2.uol.com.br/astronomy/conteudo/noticia/tapecaria_cosmica_em_orion.html

Agulhas no palheiro cósmico

supernova 2005af (seta), localizada na galáxia espiral NGC 4945, no interior da constelação do Centauro, foi descoberta em 22 de fevereiro de 2005 e é a mais próxima do conjunto de 12 supernovas descobertas pelo grupo







Busca de supernovas extragalácticas exige disposição para combinar técnica e
determinação.

Por Tasso Napoleão

Foram dois astrônomos europeus emigrados para os Estados Unidos, Fritz Zwicky, suíço (1898-1974), e Walter Baade alemão (1893-1960), os autores da expressão "supernova", em 1933, associando-a corretamente a gigantescas explosões de estrelas nas fases finais de seus ciclos de vida. Um ano depois Zwicky e seus colaboradores iniciou um programa pioneiro de busca sistemática de supernovas em galáxias remotas, o que permitiu a descoberta de 281 desses objetos até 1975, ano em que o projeto foi encerrado.

Durante as décadas seguintes a descoberta de supernovas extragalácticas ficou a cargo de projetos profissionais com grandes telescópios e de amadores isolados. Algumas dezenas de supernovas foram descobertas a cada ano, ao longo desse período.Mas o grande salto para a descoberta de supernovas só ocorreu em 1998, com a entrada em operação do telescópio robótico Katzman Automatic Imaging Telescope (Kait) da California University, em Berkeley.

Este telescópio, com espelho de 76 cm de diâmetro, equipado com câmara CCD e operando no Observatório Lick, monitora automaticamente centenas de galáxias a cada noite. E seu programa de busca, conhecido como Lick Observatory Supernova Search (Loss) descobriu nada menos que 550 supernovas em oito anos - um recorde absoluto.

No início do século 21, diversos grupos amadores na Europa, Estados Unidos e Austrália tentaram desenvolver tecnologias similares às do Loss, - alguns deles com sucesso. Em meados de 2002, o engenheiro e astrônomo amador Cristóvão Jacques e eu examinávamos a situação. Temos a mesma formação e já havíamos sido parceiros em outros projetos, o que facilitou nossa interação.

Existiam no mundo cerca de 25 grupos - profissionais ou amadores - dedicados à busca sistemática de supernovas, mas a distribuição geográfica dessas equipes estava longe de ser homogênea: apenas cinco deles estavam no Hemisfério Sul.

Carência de observação.
As estatísticas de descobertas de supernovas mostravam uma drástica deficiência da ocorrência destes objetos em galáxias austrais. Como ninguém supunha que as galáxias austrais sofressem de alguma anomalia congênita que as fizesse gerar menos supernovas que suas contrapartidas boreais, estava claro que havia necessidade de melhoria na cobertura das galáxias do Hemisfério Sul.

Esta foi à primeira motivação para a criação do Brazilian Supernovae Search (Brass). A oportunidade de colaboração eficiente e produtiva entre astrônomos profissionais e amadores foi relevante para a decisão de nos dedicarmos ao projeto, ainda que soubéssemos que tudo isso consumiria algum tempo.Os dois fatores críticos de sucesso para um programa de busca estavam evidentes para nós.

O primeiro era a necessidade de automação dos processos observacionais, usando telescópios robóticos e tornando-os capazes de operar à distância, via internet. Cristóvão encarregou-se do desenvolvimento dos programas e scripts para a robotização dos telescópios. O segundo fator, a meu cargo, foi a elaboração de um catálogo específico de galáxias-alvo, levando em conta - a partir das estatísticas disponíveis na literatura profissional - os vários fatores astrofísicos que determinam a taxa de ocorrência de supernovas.

Procurar supernovas sem esses critérios específicos (por exemplo, varrendo todo o catálogo NGC) não é nada produtivo, por uma razão simples: existem galáxias que produzem até oito supernovas a cada século, enquanto outras levam entre dois ou três milênios para produzir uma única. Naturalmente, queríamos trabalhar apenas com as "mais férteis".

Buscar supernovas equivale a procurar agulha num palheiro. Isso significa que seria de enorme ajuda se ao menos soubéssemos que num determinado palheiro haverá, em princípio, uma agulha para ser localizada. Assim, para otimizar nossa probabilidade de descobertas, partimos de mais de 50 mil galáxias dos catálogos ESO-Uppsala, UGC, MCG, PGC, NGC e IC e aplicamos nossos critérios de seleção, chegando a uma amostra de 3.600 galáxias-alvo para a busca.

Os trabalhos de desenvolvimento de programas e scripts para a automação e a construção do catálogo otimizado e do acervo de imagens CCD das galáxias-alvo para a busca demandaram dois anos de preparação. Com isso, iniciamos a operação do programa em junho de 2004. A essa altura já contávamos com mais dois astrônomos amadores no programa, que passou a ser conhecido, segundo a terminologia internacional como Brazilian Supernovae Search.

Os novos integrantes eram Carlos Colesanti, empresário paulista, e Eduardo Pimentel, comerciante de Belo Horizonte. O Brass é o primeiro programa não-profissional de busca de supernovas na América Latina, e um dos quatros em operação em todo o Hemisfério Sul. Como descobrimos supernovas?

Nossa rotina de observação inclui inicialmente a aquisição remota de imagens CCD das galáxias de nosso catálogo, todas as noites, desde que as condições meteorológicas nos sítios de observação o permitam. O número de galáxias que imageamos em cada noite está em torno de 400.

Três estações têm sido usadas para o programa: uma na Serra da Piedade, próxima a Belo Horizonte (Observatório Wykrota), a segunda na região urbana da mesma cidade (Observatório Ceamig-REA) e a terceira na cidade de Mairinque, a 70 km de São Paulo (Observatório Órion).

Todas as estações utilizam instrumentais padronizadas (telescópios Schmidt-Cassegrain de 305 mm de abertura e câmeras CCD de 16 bits e 765x510 pixels). As imagens são feitas sem filtros e o tempo de exposição para cada imagem varia entre 45 e 60s, dependendo das condições do céu e da interferência da Lua.

Em condições ideais nossa magnitude instrumental está em torno de 18. Com exceção do Observatório Wykrota (até o momento), a operação dos telescópios é totalmente remota.

Triagem de candidatas.
As imagens obtidas a cada noite são armazenadas no servidor da estação de observação respectiva. Na manhã seguinte, fazemos o download das imagens obtidas na noite, e efetuamos o blinking inicial delas. Um blinking nada mais é que uma comparação visual e alternada, ao monitor do computador, das imagens CCD obtidas na noite contra as do nosso acervo de imagens (essencialmente, a mesma técnica usada por Clyde Tombaugh, em 1930, para a descoberta de Plutão).

Note-se que nosso acervo de imagens de galáxias foi construído em condições ideais de céu, na região do deserto do Atacama, ao norte do Chile: viajamos até lá, em 2003, especialmente para isso.

Em média, cada um de nós despende uma hora por dia com o procedimento de blinking, e, tipicamente, a cada 400 imagens, haverá cerca de 10 a 12 com pontos luminosos "suspeitos". Esses "suspeitos" são analisados cuidadosamente para verificar a possibilidade de terem sido produzidos por raios cósmicos, pixels defeituosos, artefatos de imagem, asteróides ou estrelas variáveis.

As imagens são comparadas a seguir com todas as imagens da mesma galáxia existentes nos bancos de dados dos observatórios profissionais. Ao todo, fazemos uma série de nove testes.
Caso o "suspeito" passe por todos eles, uma imagem de confirmação será feita na noite seguinte. Apenas se esta confirmação se mostrar positiva é que enviamos a notícia da provável descoberta à União Astronômica Internacional (IAU) para validação.

Nos dois primeiros anos de operação do programa Brass obtivemos mais de 60 mil imagens e descobrimos 12 supernovas. Todas elas foram confirmadas e validadas pela IAU, recebendo os nomes de SN 2004cw, 2004cz, 2004ew, 2005af, 2005al, 2005aw, 2005cb, 2005cn, 2005dn, 2006D, 2006ci e 2006co.

Várias foram do interesse da comunidade profissional, gerando posteriores espectros e trabalhos de pesquisa em observatórios como o Keck, VLT, Las Campanas e Spitzer Space Telescope. Entre elas está a supernova mais próxima descoberta nas últimas duas décadas (a 2005af) e uma rara supernova descoberta antes do máximo (a 2006D).

Nossa experiência com o programa BRASS permite estimar que, sob as condições de observação atuais, ao menos seis descobertas de supernovas por ano são perfeitamente possíveis, sendo necessárias em média cinco mil imagens para cada descoberta.

A única restrição a um aumento do ritmo atual de descobertas é o clima desfavorável, durante boa parte do ano, nos sítios de observação. Para resolver esta limitação em longo prazo estamos planejando a instalação de mais uma estação remota nos Andes chilenos ou argentinos.


Fonte: http://www2.uol.com.br/astronomy/conteudo/materia/agulhas_no_palheiro_cosmico.html



Em busca de mundos de diamantes



Camada subterrânea de diamantes de um planeta carbonado exposta devido a um impacto recente.Uma atmosfera fina e cheia de fumaça esconde boa parte da superfície do planeta, que parece coberta de alcatrão Lynette Cook




Em busca de mundos de diamantes.

Alguns planetas extra-solares podem conter diamante puro - e poderão sair ilesos de qualquer coisa que o Universo lance neles
Por Ray Villard.

No filme de ficção científica de 2003 The core, um veículo de navegação subterrânea transportando "terranautas" se desvia de diamantes, de até 3.000 km2, que flutuam no manto terrestre. Num cenário não tão inverossímil quanto o desse filme, nossa galáxia pode conter uma série de planetas cobertos por um espesso manto de carbono cristalizado - formando o que conhecemos como diamante.

A superfície desses planetas carbonados hipotéticos provavelmente se apresenta como uma paisagem de alcatrão, negra como carvão, com elevações duras como cerâmica e que resistem a temperaturas altíssimas. Protegidos por essa dura couraça, mundos de diamante poderiam muito bem existir nas vizinhanças menos evoluídas da nossa galáxia.

Esses podem ser os únicos planetas capazes de conter informação sobre as estrelas de nêutrons. Se existirem, devem orbitar muito próximos de estrelas normais, onde temperaturas extremamente altas derretem as rochas comuns.

É provável que planetas carbonados se formem em torno de estrelas de formação recente através do choque com elementos mais pesados encontrados no núcleo da Galáxia.

Num Universo que continua a evoluir quimicamente e que cada vez está mais cheio de poeira, os planetas-diamante um dia poderão ser os planetas recém-nascidos mais abundantes em qualquer lugar. Embora nenhum planeta-diamante tenha sido descoberto até agora, os teóricos estão bastante interessados em explorar essa possibilidade.

Numa conferência sobre planetas extra-solares realizada em Aspen, Colorado, em fevereiro do ano passado, o astrônomo da Princeton University, Marc Kuchner propôs a idéia de mundos de diamantes. Kuchner acredita que mundos desse tipo poderão aparecer nos próximos dez anos, à medida que mais e mais planetas forem descobertos em torno de estrelas vizinhas.

Os astrônomos esperam encontrar planetas terrestres em torno de estrelas próximas pelo final dessa segunda década de descobertas de exoplanetas. À medida que forem determinadas as características desses planetas, os astrônomos provavelmente vão se dar conta de que seu interior é muito mais complexo e variado que imaginam.

Além disso, atualmente, os teóricos têm como base quase que exclusivamente a estrutura do Sistema Solar. Nosso sistema solar contém basicamente três tipos de planetas: os gigantes inflados com gás em baixa densidade Júpiter e Saturno; os gigantes gelados Urano e Netuno; e os quatro planetas terrestres Mercúrio, Vênus, Terra e Marte.

Estes últimos corpos sólidos rochosos são estratificados, como as camadas de bolo e musse nas tortas de chocolate. Todos dispõem de um núcleo de ferro envolto por uma casca de material rochoso mais leve.

As teorias convencionais sugerem que os planetas terrestres se formaram por aglutinação de matéria contida num disco de poeira e gás que girava em torno do Sol 4,5 bilhões de anos atrás. O disco de poeira continha grãos de fumaça misturados aos gases.

Estes elementos foram forjados em fornalhas de fusão nuclear que havia no interior de uma geração mais antiga de estrelas. O carbono está entre os subprodutos mais comuns das reações de fusão que ocorreram no interior de estrelas semelhantes ao Sol, na etapa final de sua vida. Nas etapas seguintes da evolução dessas estrelas boa parte de sua atmosfera escapou para o espaço, como um balão de gás aquecido desgarrado.

À medida que a atmosfera externa se expande e vai se resfriando, o carbono forjado no interior da estrela pela fusão (que consome hélio) se esfria e forma grãos de poeira, ejetados de volta para o espaço. Esses grãos formam cerca de 1% das nuvens de gás interestelar.

No entanto, o ponto crucial está nos detalhes da mistura química exata que produz a matéria-prima para os planetas. O manto terrestre é formado principalmente por silicatos. Estes compostos de silício e oxigênio se combinaram enquanto o disco circunestelar que girava em torno do proto-sol esfriava.

Kuchner argumenta que se o disco proto-estelar de uma estrela tiver sua mistura química ligeiramente alterada poderia dar origem a compostos como a grafite e carbonatos em vez de silicatos. Esses discos poderiam ter um excesso de carbono, ou uma falta de oxigênio.

Assim, planetas com um conteúdo de carbono relativamente mais alto poderiam ter expulsado os planetas ricos em silicatos. Um indício fascinante que reforça este cenário envolve um dos habitantes mais inócuos do Sistema Solar - os meteoritos condritos carbonados.

Esses meteoritos parecem pedaços de carvão e devem ter se originado em asteróides recheados de carbono que se formaram na nebulosa proto-estelar. Isto significa que o disco solar pode ter variado quimicamente, formando bolsões de carvão.

Os bolsões podem ter formado asteróides carbonados, mas que não continham matéria suficiente para formar planetas completos. Um lugar muito provável de encontrar planetas carbonados quase sólidos seria em órbitas em torno de pulsares ou de anãs brancas massivas. No entanto, até agora os astrônomos só encontraram dois pulsares com planetas.

Um deles, catalogado como PSR B1257+12. foi descoberto por Alex Wolszczan e Dale Frail em 1991 e está a 1.000 anos-luz de distância, na constelação de Virgo (Virgem). Dois dos quatro planetas do sistema têm massa semelhante à da Terra - um tem a massa da Lua e o outro tem massa comparável à de um asteróide.

O segundo sistema de pulsar, PSR B1620-26, encontra-se no aglomerado globular M4 em Scorpius (Escorpião) e tem massa semelhante à de Júpiter.

Um pulsar nada mais é que o núcleo supercomprimido de uma estrela, que explodiu como uma supernova ou se formou pelo colapso de uma anã-branca. A dinâmica do sistema M4 sugere que o planeta gigante gasoso foi capturado. Os planetas terrestres em torno de PSR B1257+12 devem ter se formado após o espetáculo pirotécnico dantesco que deu origem ao pulsar. Mas como isso aconteceu?

Em 1991 e 1992, Philip Podsiadlowski, Mario Livio e seus colaboradores propuseram um cenário pós-apocalíptico para a formação dos planetas em torno de pulsares e anãs brancas massivas. No modelo proposto duas anãs-brancas se fundem para formar um único corpo: uma anã-branca ainda mais massiva ou um objeto tão pesado que colapsa, formando uma estrela de nêutrons.

Enquanto as anãs-brancas estão espiralando uma em torno da outra, forças de maré desintegram uma delas. Isto cria um disco, semelhante ao disco proto-estelar que circunda uma estrela recém-nascida. O disco deveria ser rico em carbono, pois esse elemento é predominante nas anãs-brancas.

Os planetas aglutinados no disco seriam formados praticamente de carbono puro. "As superfícies de planetas carbonados devem ser cobertas por uma camada compostas com cadeias carbônicas longas - algo parecido com alcatrão", acrescenta Kuchner. Estes compostos de carbono devem ter se precipitado na superfície depois de serem sintetizados fotoquimicamente numa atmosfera de monóxido de carbono e metano.

A superfície desses planetas também deve ser muito seca, porque os carbonatos repelem quimicamente a água para criar monóxido de carbono e metano. "Viver nesse planeta seria praticamente o mesmo que viver em Los Angeles, onde o smog e o asfalto predominam", afirma Kuchner.

A crosta seria resistente a altas temperaturas devido à proximidade com a estrela aparentada. Para ter uma idéia de como o carbonato de silício é rígido, visite uma montadora de veículos automotivos. O material é tão resistente ao calor que é utilizado em todas as ferramentas de corte, em brocas e em partes internas de motores de motocicletas.

Os eventos que ocorrem abaixo da crosta deveriam ser muito mais glamurosos. Um dos elementos mais abundantes no Universo, o carbono puro, só existe em algumas poucas formas. Normalmente, é um sólido preto e macio - a grafite, que encontramos nos lápis comuns.

A fuligem presente no escapamento do automóvel forma as "buckyballs" - estrutura formada por 60 átomos de carbono que se unem formando uma malha esférica, como uma bola oca.

Sob altas pressões e temperaturas, os átomos de carbono se distribuem em planos cristalinos para formar uma substância absolutamente transparente e brilhante-a mais dura encontrada na Natureza - o diamante. Grafite compactada poderia formar camadas de diamante de vários quilômetros de espessura dentro de um planeta carbonado.

Uma nova interpretação dessa idéia é apresentada no livro de Arthur Clarke 3002: A odisséia final, de 1996. Nele, uma montanha gigante de diamante ejetada do núcleo de Júpiter é encontrada na lua Europa. Esse episódio baseou-se na especulação científica de que as altas pressões e temperaturas encontradas no interior dos planetas gigantes gasosos podem converter metano em diamante.

Em 1999, pesquisadores da Berkeley University, na Califórnia, produziram poeira de diamante comprimindo metano líquido a uma pressão de centenas de milhares de vezes a pressão atmosférica na superfície da Terra.

É possível imaginar também que um disco circunstelar em torno de uma estrela normal poderia criar um sistema planetário híbrido, contendo os dois tipos de planetas: alguns ricos em silicatos e outros ricos em carbonatos. Isto seria um tema excelente a ser explorado pelos autores de ficção científica.

Imagine um sistema de planetas onde se promove uma competição em que é preciso voar até um planeta vizinho e garimpar seus diamantes. Nessa disputa saem lucrando os habitantes do planeta-diamante que acreditam estar fazendo um bom negócio. Nesse planeta os diamantes são tão abundantes que estão incrustados nas rochas de granito, usadas como brita.

No seu processo evolucionário nossa galáxia vai se tornar cada vez mais rica em carbono, uma vez que no processo de envelhecimento de estrelas do tipo solar os elementos mais pesados são processados e devolvidos ao espaço. Finalmente, em várias dezenas de bilhões de anos, os planetas carbonados serão os tipos mais comuns de planetas terrestres na Galáxia. Mas será que eles terão condições de abrigar vida?

"Cozinhe-os com a luz ultravioleta de uma estrela durante bilhões de anos e poderá surgir qualquer coisa", afirma Kuchner. A disponibilidade de água pode vir a ser um problema, mas sob certas condições ela poderá existir. Ou poderá haver oceanos de hidrocarbonetos.

Nesses mundos, a complexa química da vida poderia ocorrer a quilômetros de profundidade e poderia ser bastante exótica para os nossos padrões. Haveria criaturas comedoras de silicatos e óxidos e o carbono substituiria o oxigênio no seu metabolismo.

Nas futuras buscas por exoplanetas, os planetas carbonados poderiam ser identificados espectroscopicamente utilizando os telescópios espaciais ópticos e de infravermelho. Inicialmente seriam feitas observações de trânsitos, para sondar a atmosfera do planeta e determinar se haveria abundância de monóxido de carbono, em vez de vapor de água.

Se um planeta desse tipo fosse descoberto, os astrônomos mais jovens poderiam batizá-lo de Lucy, aproveitando a canção clássica dos Beatles, de 1967, Lucy in the sky with diamonds, onde a letra original, "Picture yourself in a boat on a river (Imagine-se num barco num rio) With tangerine trees and marmalade skies (Com árvores de tangerina e um céu de geléia de frutas)", seria adaptada para "Picture yourself on a methane river (Imagine-se num rio de metano), With tarry black mountais and carbon monoxide skies (Com montanhas negras de alcatrão e um céu de monóxido de carbono)".

Os primeiros planetas descobertos além do nosso sistema solar figuram hoje entre os sistemas extra-solares mais bem entendidos. Quando Alex Wolszczan e Dale Frail detectaram um trio de planetas girando em torno do pulsar PSR B1257+12, em 1991, passaram um mau pedaço por acreditar nisso.

Afinal, um pulsar se forma a partir do colapso do núcleo de uma estrela massiva que desaparece como supernova. Ninguém achava que aquele fosse um ambiente favorável para a formação de planetas, mas de alguma forma a Natureza encontrou um caminho.

Wolszczan e Frail mediram os sinais de rádio sincronizados como um relógio, emitidos pelo pulsar e encontraram variações mínimas no seu período - os sinais gravitacionais sutis de planetas puxando o pulsar que girava vertiginosamente. Quando os dois astrônomos anunciaram a descoberta, em 1992, tinham flagrado os três planetas em suas órbitas.

O sistema PSR B1257+12.
É formado por quatro planetas que giram em torno do pulsar, - uma versão do Sistema Solar em escala reduzida à metade. As distâncias entre os três planetas terrestres internos guardam entre si a mesma proporção que Mercúrio, Vênus e Terra.

A órbita do quarto planeta descoberto recentemente é cerca de seis vezes maior que a do terceiro, o que, na mesma escala, o colocaria bem no meio do cinturão de asteróides do Sistema Solar.

As observações descartam definitivamente a existência de qualquer outro planeta massivo mais distante nesse sistema. O minúsculo quarto planeta, com massa de apenas um quinto da massa de Plutão, deve ocupar, nesse sistema, o mesmo ponto extremo que Plutão ocupa no Sistema Solar.

"Surpreendentemente, o sistema planetário em torno desse pulsar se parece mais com o nosso Sistema Solar que qualquer outro sistema planetário extra-solar já descoberto em torno de uma estrela semelhante ao Sol", conclui Konacki. - Richard Talcott

Os astrônomos já descobriram vários planetas extra-solares - aproximadamente duas centenas desde que os primeiros foram encontrados em 1991. Muitos deles são dez vezes mais pesados que a Terra, um efeito seletivo do método adotado porque o mais prolífico para encontrar planetas utiliza o efeito gravitacional que exercem sobre as estrelas em torno das quais giram.

Os poucos planetas pequenos encontrados até hoje giram em torno de pulsares, sob condições muito diversas de mundos parecidos com a Terra. A Nasa tem planos para montar vários observatórios no espaço para procurar planetas mais parecidos com a Terra (ver Planetas extra-solares, Astronomy Brasil, outubro de 2006).

O primeiro da lista, o Kepler, vai captar ligeira diminuição no brilho produzida pela passagem de planetas na frente das estrelas, utilizando uma amostra de 100 mil estrelas.

O Kepler será lançado em 2008. Um ano depois, a Space Interferometry Mission (Missão do Interferômetro Espacial) pretende detectar oscilações mínimas induzidas no movimento de 250 estrelas próximas por planetas do tamanho da Terra. A missão mais importante será a Terrestrial Planet Finder - TPF (Buscador de planetas terrestres) com dois observatórios complementares.

O primeiro será um coronógrafo, que bloqueia a luz da estrela-mãe para encontrar planetas pequenos. O segundo será uma série de telescópios infravermelhos que funcionarão como um interferômetro.

Os observatórios TPF vão medir as dimensões, temperaturas e órbitas dos planetas do tamanho da Terra. Os espectroscópios do TPF vão medir as quantidades de gases comodióxido de carbono, metano, ozônio e vapor de água para saber se os planetas poderiam abrigar vida. - R.T.














































































Agência Russa investiga queda do foguete Soyuz-2

A agência espacial russa Roscosmos anunciou hoje que está verificando se um pedaço do foguete portador russo Soyuz-2 caiu na quinta-feira em território dos Estados Unidos, no Estado de Wyoming.

"Especialistas estão estudando minuciosamente este assunto. Nas próximas horas chegaremos a uma conclusão", disse Igor Panarin, porta-voz da Roscosmos, à agência Interfax.

Supostamente, uma parte da terceira fase do Soyuz-2 lançado em 27 de novembro da base de Baikonur (Cazaquistão) não se desintegrou ao atravessar a atmosfera terrestre e caiu no Wyoming, causando alerta entre a população local. O porta-voz descartou que o pedaço de "ferro velho espacial" pertença ao acelerador Fregat, já que este caiu no no oceano Pacífico.O Soyuz-2 colocou em órbita o satélite astronômico europeu Corot. Após o lançamento, duas de suas partes caíram na região siberiana de Tyumen, na fronteira com o Cazaquistão. Normalmente, a terceira parte do foguete costuma desintegrar-se nas camadas mais densas da atmosfera após separar-se do resto da espaçonave.

Aparentemente, o pedaço do Soyuz-2 caiu perto da localidade de Riverton (Wyoming), mas antes da queda sua esteira pôde ser vista em vários Estados, como Colorado e Novo México. Segundo os especialistas, os restos do foguete não representam nenhuma ameaça para o homem ou ao ecossistema.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15819.shtml

Buraco negro é descoberto no interior de aglomerado de estrelas

Da Efe, em Londres.
Uma equipe de cientistas descobriu um pequeno buraco negro no interior de um dos chamados cúmulos globular aglomerado de estrelas atraídas por sua gravidade recíproca.

Thomas J. Maccarone, da Universidade de Southampton (Reino Unido), e outros colegas de várias universidades americanas comunicam no site da revista "Nature" a descoberta de um buraco negro de uma massa muitas vezes superior à do Sol.O achado é importante, destaca a publicação, uma vez que os astrônomos estão há anos debatendo se os buracos negros podem existir no interior dos cúmulos globulares.

Muitos especialistas descartavam essa possibilidade com o argumento de que os buracos negros seriam expulsos em conseqüência das interações das forças de gravidade dos astros.

Outros cientistas achavam o contrário, que os processos dinâmicos nas regiões mais densas dos cúmulos podiam produzir buracos negros equivalentes a mil massas solares.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15814.shtml

Outro Olhar

Créditos: R. Corradi (Isaac Newton Group),
D. R. Gonçalves (Instituto de Astrofísica das Canárias).


Outro olhar... Outro olhar sobre o que nos rodeia... Outro olhar sobre o Universo... Em Português!

Se não é nosso visitante habitual e chegou até esta página intrigado com a imagem do Olho satisfaça a sua curiosidade devolvendo o olhar e percebendo o que representa mais abaixo nesta página.

Mas já que nos visita, porque não explorar o resto dos nossos conteúdos? Já viu a nossa Imagem do Dia? As Notícias com glossário incorporado? E os Temas do Mês? E que tal esclarecer aquela dúvida astronômica que sempre o incomodou no Pergunte ao Astrônomo...

Se ainda não está convencido, volte a visitar-nos em breve. O nosso Portal do Astrônomo é um projecto em expansão e brevemente esperamos ter ainda mais motivos para que nos visite. Planeamos adicionar em breve uma secção de links comentados, outra com material didático e experiências interessantes que pode fazer em casa, animações, cursos online, etc...

Imagem da Nebulosa Planetária do Olho de Gato (NGC 6543), uma das nebulosas planetárias melhor conhecidas do céu. A imagem revela a bela simetria desta nebulosa, especialmente na região central. Também se pode observar o halo tênue de material gasoso que a envolve, se estendendo até uma distância de três anos luz.

A imagem foi obtida pelo Telescópio Óptico Nórdico (NOT), situado no Observatório Roque de los Muchachos do Instituto de Astrofísica das Canárias. As cores (falsas) representam a emissão de luz por parte de átomos de diversos elementos químicos: o vermelho provém de átomos de Azoto enquanto que as tonalidades verdes e azuis têm origem em átomos de Oxigênio. Os Astrônomos calculam que as regiões mais externas do halo têm entre 50.000 e 90.000 anos.As nebulosas planetárias são produzidas nas últimas etapas da vida de uma estrela semelhante ao nosso Sol. Quando o seu combustível nuclear acaba, a estrela não consegue contrariar a força da gravidade e colapsa sobre si mesma. Este facto provoca uma subida da sua temperatura e permite o inicio de novas reações nucleares no seu interior.

Em seguida (quando a estrela se converte numa estrela Gigante Vermelha e finalmente acaba como uma estrela Anã Branca), mais da metade da sua massa é expelida através de fortes "ventos estelares". Quando este gás expelido pela estrela é aquecido até cerca de 10.000 graus por ação da radiação do núcleo da estrela, forma-se um dos objetos astronômicos mais belos, uma Nebulosa Planetária.

Smart 1. O "Meteorito Iônico

3 de setembro de 2006
Existe uma grande troca de material entre os planetas rochosos. O choque de um meteorito na Lua pode enviar pedaços de lá para cá. O mesmo pode acontecer entre Marte e a Terra.

Porém, para que um pedaço da Terra vá parar em outro mundo, o impacto deve ser de proporções tais que pelo menos alguns fragmentos consigam vencer a forte gravidade terrestre – a maior entre os mundos rochosos do Sistema Solar.

Mas há um jeito de resolver isso. Podemos simplesmente arremessar um “meteorito” da Terra, direto na Lua. E por que faríamos tal coisa? Como uma criança que atira uma pedra na árvore para colher frutos, um impacto proposital – e bem planejado – pode servir ao estudo do material ejetado, permitindo determinar a presença de minerais na Lua, incluindo água.

Foi exatamente o que fez a sonda Smart 1 (sigla para Small Missions for Advanced Research and Technology), uma sonda de 370 quilogramas e 1 metro cúbico desenvolvida pela Agência Espacial Européia.

Às 2h42min (pelo horário de Brasília) ela caiu numa planície vulcânica lunar chamada Lago da Excelência. O choque serviu para montar um mapa mineral detalhado, o que ajudará a refinar teorias sobre a formação da Lua.

Tudo funcionou bem até o fim da missão, que foi um grande sucesso. Mas ainda serão necessários meses até que se possa considerá-la realmente concluída, já que é preciso estudar demoradamente o grande volume de dados coletados.

Estima-se que tenha sido produzida uma cratera entre 3 e 10 metros de diâmetro, espalhando escombros em uma área de 78 quilômetros quadrados. A queda, no entanto, foi como “mera desculpa”. O principal objetivo da missão foi testar tecnologias que serão usadas em futuras missões planetárias.

A Smart 1 foi lançada em setembro de 2003 e tornou-se a primeira missão espacial européia a usar um motor iônico. Ele permite um funcionamento contínuo de baixo empuxo, utilizando eletricidade gerada por painéis solares para produzir um feixe de partículas eletricamente carregadas que empurram a nave.

O motor iônico provou ser altamente eficiente, fazendo cem milhões de quilômetros com apenas 60 litros de “combustível”. É que a Smart 1 também usou de propósito um caminho muito mais longo até a Lua, percorrendo mais de 300 órbitas em volta da Terra antes de atingir seu objetivo.

Espera-se que uma frota de naves-robô de várias nações venha a visitar o nosso satélite natural nos próximos anos. Mas somente durante a década de 2020 acontecerão pousos tripulados.





Missão vai procurar planetas fora do sistema solar

A primeira missão espacial em busca de planetas como a Terra deverá ser lançada nesta quarta-feira de Baikonur, no Cazaquistão.

O projeto foi liderado pela agência espacial francesa, Cnes, mas também envolveu outros países, incluindo o Brasil. Batizada de Corot, a espaçonave é a primeira capaz de detectar planetas fora do Sistema Solar, apenas algumas vezes maior do que a Terra.

"Nós deveremos ter condições de detectar (planetas) duas vezes maior do que a Terra", afirmou o professor de astronomia na Universidade de Londres e representante da Agência Espacial Européia no comitê científico Corot.

O menor planeta fora do Sistema Solar encontrado até hoje é cinco vezes maior do que a Terra. Estima-se, entretanto, que a Corot possa detectar centenas de planetas menores assim como outros muito maiores enquanto vasculha o espaço.

A Corot deverá ser lançada por um foguete Soyuz-2-1b a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, às 12h43 de Brasília de quarta-feira. A espaçonave será levada para a órbita polar, a 827 quilômetros da Terra, onde começará a procurar campos estelares. A duração prevista da missão é de aproximadamente dois anos e meio.

Fora do Sistema Solar
Cientistas esperam que a missão amplie o seu conhecimento sobre planetas do tamanho da Terra que estão fora do Sistema Solar. A identificação desses planetas é considerada crítica na busca por eventuais formas de vida extraterrestre.

O primeiro planeta "extrasolar" foi observado em 1995, quando dois astrônomos do Observatório de Genebra detectaram um planeta orbitando a estrela 51 Pegasi, a uma distância de 50 anos-luz. Desde então, foram descobertos 209 planetas em 170 sistemas solares e o número aumenta a uma média de dois por mês.

Monitorar estrelas
"Nós esperamos 25 anos para lançar uma missão dessas no espaço", disse Ian Roxburgh, professor de astronomia na Universidade de Londres e representante da Agência Espacial Européia no comitê científico Corot.

Segundo Roxburgh, a missão também servirá para "monitar um número significativo de estrelas para descobrir como elas são no interior e como evoluem ao longo do tempo".

Além do Brasil, participam da missão Áustria, Espanha, Alemanha, Bélgica e a Agência Espacial Européia (ESA, na sigla em inglês). A França assumirá 75% do custo do projeto, estimado em US$ 221 milhões.










Túnel do Tempo, o sonho Secreto dos Físicos

Eles não contam para ninguém e não gostam de comentar o assunto em público. Mas muita gente de primeiro time anda atrás da resposta: como é que se faz para viajar no tempo?

Flávio Dieguez e Carlos Eduardo Lins da Silva, de Washington, com Cássio Leite Vieira.
"No fundo, o que todo médico que trabalha com Aids procura é uma vacina em seu laboratório. Assim como os físicos buscam a viagem no tempo. Só que ninguém conta”.
Robert Gallo, virologista americano.

"Imaginem a gritaria sobre desperdício de dinheiro público se descobrissem que a National Science Foundation fazia pesquisas sobre viagem no tempo. Por isso, os cientistas tentam disfarçar seu interesse”.

Stephen Hawking, físico inglês.
Não existe sonho mais fantástico do que viajar através do tempo, voltar ao passado ou avançar pelas décadas à frente. O problema é que, além de fantástico, esse é um sonho comprometedor. Nenhum cientista pode sonhá-lo em público sem correr o risco sério de dar uma de maluco.

Mas agora, para surpresa dos próprios físicos, a possibilidade de atravessar os séculos para frente e para trás não pode ser de forma alguma descartada.

Desde o final da década passada o físico americano Kip Thorne, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, trouxe à tona um objeto simplesmente estupendo: o wormhole, que, em inglês, quer dizer buraco de minhoca. Com esse nome nada futurista, até meio invertebrado, o wormhole pode ser a peça-chave de um futuro ônibus do tempo.

E o que é esse bicho? É uma espécie de túnel que, segundo a teoria, pode existir no Universo. Como se fosse um atalho cósmico, ele ligaria pontos superdistantes de um modo tal que, se alguém pudesse caminhar por ele, chegaria rapidamente à outra extremidade.

Ou seja, ganharia um tempo enorme. A idéia de Thorne, então, seria aproveitar esses túneis, deslocando suas extremidades para os pontos desejados e conseguir, com idas e voltas por dentro deles, saltos não apenas no espaço, mas também no tempo (sem destaque no original).

Por enquanto, essa máquina do tempo só existe na teoria. Mas, exatamente porque só existe na teoria, tem aquele fascínio dos aviões e helicópteros esboçados nas pranchetas do século XV pelo italiano Leonardo da Vinci. Como o velho gênio italiano, Kip Thorne foi além dos limites do que é possível em sua era. Ao virar a página, você vai ler o que Thorne tem a dizer sobre a máquina mais fascinante que o homem já desejou criar.

Ir para frente é fácil. Duro é andar para trás
Você pode não levar a sério, mas viajar no tempo não é apenas possível. É até inevitável, em certas circunstâncias. A ciência sabe disso desde 1905, data em que o alemão Albert Einstein formulou a Teoria da Relatividade.

"O princípio é muito simples", disse à SUPER o americano Michael Morris, da Butler University, em Indianápolis, pesquisador vital nos mais importantes avanços da atualidade. "Basta embarcar numa nave que alcance velocidade bem próxima à da luz, de 300000 quilômetros por segundo", explica Morris.

"Automaticamente o tempo na nave vai começar a passar mais devagar do que na Terra”. Na volta, portanto, o viajante estará mais jovem do que os que não voaram. Em números, se o relógio da nave, nessa velocidade, marca a passagem de 12 horas, os da Terra marcam muito mais: uma década. Ou seja, em relação a quem ficou aqui, o viajante terá feito uma travessia de dez anos para o futuro.

Sagan faz um pedido.
Já não há dúvida alguma sobre esse efeito, que foi testado e comprovado exaustivamente nos últimos trinta anos. A precisão dos resultados só não é maior porque, como as velocidades usadas são muito inferiores à da luz, o ritmo do tempo também não se altera muito. Assim, as viagens já feitas ao futuro geralmente são curtas, da ordem de frações de segundo. Mas a possibilidade, hoje, é um consenso tranqüilo entre todos os físicos, diz Morris.

Em 1985, ele embarcou numa investigação muito mais complicada: era a possibilidade de viajar para o passado. A história começou com um telefonema do astrofísico, divulgador científico e escritor Carl Sagan, da Universidade Cornell, a um amigo.

O amigo era o físico teórico Kip Thorne, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Sagan estava escrevendo o romance Contato[1], lançado no Brasil em 1986. Queria saber se era cientificamente plausível viajar pelo "hiperespaço", que na ficção-científica é um meio de cruzar imensas distâncias quase instantaneamente. Foi então que, decidido a mergulhar no assunto, Thorne convocou Morris para ajudá-lo nas pesquisas.

Thorne chegou a uma conclusão extraordinária: o imaginário hiperespaço talvez pudesse viabilizar as expedições no tempo. E com destino ao passado, tanto quanto ao futuro! Em 1994, ele lançou um livro clássico com essas conclusões: Black Holes and Time Warps (Buracos Negros e Dobras no Tempo, ainda não editadas no Brasil).

Como tirar as dúvidas?
Antes de começar a falar em passeios ao passado, duas coisas precisam ficar claras. Primeiro, a possibilidade é real, existe mesmo. Não é mágica, não é bruxaria. Segundo essa possibilidade está sendo estudada com extrema cautela, pois os conhecimentos atuais da Física podem não ser suficiente para resolver as dúvidas que ainda existem.

Enfim, os meios materiais para construir uma máquina do tempo como a que a teoria sugere estão muito além da tecnologia disponível. Muito, muito além. Como escreveu Thorne em seu livro: "Mesmo se as máquinas do tempo fossem possíveis pelas leis da Física ainda estaríamos mais longe delas do que o homem das cavernas estava das viagens ao espaço".

Como cavar um buraco de metrô no espaço vazio.
Para viajar no tempo da maneira como o teórico americano Kip Thorne visualizou é preciso embarcar num paradoxo: abrir um buraco no espaço vazio, bem do tipo que liga nada a lugar nenhum. Para entender melhor, pense por um momento nos buracos negros.

Eles nascem quando uma estrela superpesada (pelo menos três vezes e meia, maior do que o Sol) se apaga e fica sem energia luminosa. A estrela escurecida desaba sobre si mesma, produzindo uma esfera absolutamente preta, ultracompacta, com uma força gravitacional apavorante.

Traga até mesmo os raios de luz. Dentro dela, ninguém sabe direito o que existe. Certamente não é o espaço comum. Será que, entrando lá, alguém iria sair em outro lugar do Universo?

Passeio num wormhole.
Em 1986, Thorne já sabia que não. Tudo o que cai num buraco negro é esmagado. Propôs então viajar dentro de wormholes, os tais "buracos de minhoca" que já eram descritos em outros estudos de Cosmologia. A grande vantagem dos wormholes (que são conhecidos apenas em teoria) sobre os buracos negros é que, apesar de também ter densidade altíssima, eles não trituram ninguém.

Mais do que isso: como os wormholes têm duas bocas, situadas em locais diferentes do Universo, seriam os túneis ideais. Só faltava direcioná-los. A partir da Teoria da Relatividade - que ensina que um relógio em movimento marca o tempo mais devagar em relação a um relógio que está imóvel - Thorne imaginou pôr uma das bocas de um wormhole dentro de uma nave, mandando-a para uma velocíssima viagem. A outra boca ficaria na Terra.

Na volta, uma das bocas, a que viajou, estaria atrasada no tempo. É claro! Se essa viagem acontecesse hoje, numa velocidade bem próxima à da luz, bastariam 12 horas de passeio para conseguir um intervalo de dez anos na Terra. Pronto! Sai um túnel do tempo para viagem: uma das bocas estaria em 2006; a outra, em 1996. E quanto tempo levaria para atravessar o túnel do tempo depois de pronto? Menos de 1 segundo.

Estigma de físico maluco
É uma hipótese tão doida que Thorne viu-se diante do risco de ser chamado exatamente disso: doido. Tornou-se muito zeloso da imagem de seus colaboradores, Michael Morris e Ulvi Yurtsever, além da sua própria. Tanto que, em seu livro, escreveu que temia "que a reputação científica de Morris e Yurtsever fosse manchada com o estigma de físicos malucos de ficção científica".

Decidiu não falar mais sobre o assunto com a imprensa. Procurado pela SUPER, apenas reafirmou, por telefone e pela Internet, sua opção pelo silêncio. Morris foi mais claro: "Muitas coisas que dizemos não significam o que normalmente a imprensa acha que significam. Nós não gostamos de ver esse assunto ser sensacionalizado e ninguém quer ser acusado de ter contribuído para a sua sensacionalização".

A SUPER com está reportagem cumpre seu papel de informar, revelando a importância que Thorne e Morris deram à pesquisa sobre o tempo. Como diz o físico brasileiro Carlos Escobar, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, "o tema, sem dúvida, deve ser coberto pela imprensa. Com toda a seriedade”.

Por que o sonho ainda é só um sonho
As viagens no tempo ainda não estão garantidas por vários motivos. Tecnologicamente, nem se fala. Se é que existem de fato, os wormhole têm um peso bem maior que o do planeta Terra. Não existe veículo capaz de carregar a boca de um monstro desses, como seria necessário para montar uma máquina do tempo. Mas o maior problema é teórico.

Porque a origem dos wormholes tem a ver com a energia espalhada pelo espaço. Mesmo onde não há nenhum átomo ou fragmento de átomo, existe luz e força gravitacional, e isso é energia. Ou melhor, é um caos: a energia, em vez de se espalhar por igual, pode muito bem, sem aviso prévio, acumular-se de forma brutal num ponto qualquer. Pois aí poderiam nascer os wormholes.

Mas há dois problemas. Primeiro: eles surgem e somem num piscar de olhos. Tão rápido que nem dá tempo de transformá-los em túneis do tempo. Segundo problema: no nascimento, eles seriam infinitamente pequenos. Seria preciso achar alguma coisa que pudesse aumentar o tamanho do wormhole e mantê-lo aberto durante um período maior.

Essa "alguma coisa", para Thorne, seria matéria com gravidade negativa, ou antigravidade. De novo, ele se socorreu na Teoria da Relatividade, segundo a qual dois fatores produzem gravidade. Um é a massa, sempre positiva. O outro é uma pressão que a massa cria à sua volta, e a pressão tanto pode ser positiva (de fora para dentro) quanto negativa (de dentro para fora).

Em algumas situações, a gravidade da pressão negativa supera a da massa. Portanto, sobra gravidade negativa. A matéria nessas condições seria útil. Ela serviria para manter o wormhole aberto e aumentá-lo. Os argumentos de Thorne convenceram diversos cientistas, que agora tentam projetar um "gerador" de wormholes.

O italiano Claudio Maccone, do Centro de Astrofísica de Turim, acredita que um eletroímã pode dar conta do recado. Ele começou a fazer contas em 1994, concluindo que o eletroímã precisaria ter no mínimo 3 quilômetros de comprimento. O wormhole resultante teria baixa densidade, o que não é o ideal. Mas poderia alterar a trajetória de um raio de luz, e se isso acontecer é sinal de que a idéia do eletroímã funciona.

Outros estudiosos resolveram olhar para o céu em busca de wormholes naturais, gerados de alguma forma durante a evolução do Universo, e que podem ser gigantescos. Se eles tiverem gravidade negativa, devem criar efeitos de luz marcantes, como as imagens duplas. É o que sugere John Cramer, da Universidade do Estado de Washington.

Por isso, caso uma estrela apareça com a imagem duplicada, é muito provável que ela esteja passando por trás de um wormhole. Dos grandes. E será magnífico captar esse efeito na Terra. Teríamos uma demonstração de que a antigravidade expande mesmo o wormhole. Teríamos também um "sim" da natureza para as mais ousadas conjecturas já feitas sobre o tempo.

O romance foi filmado. Livro e filme narram a história de uma mensagem que, finalmente, chega do espaço à Terra, sendo a principal personagem interpretada pela atriz Jody Foster. Na sua próxima ida à locadora, lembre-se de incluí-lo no seu “pacote” (N.O.).

Inteligência Solitária

Dois cientistas desfazem esperanças e proclamam que há pouca probabilidade de o Universo conter seres maiores quem uma bactéria muito, menos uma espécie, inteligente capaz de se comunicar com os terráqueos.

Flávio Dieguez.
Em agosto de 1998, um comando de rádio partiu da sede da Nasa, a agência espacial americana, em Washington, e automaticamente ajustou o foco do mais poderoso instrumento astronômico já construído, o telescópio espacial Hubble. O objetivo era prepará-lo para flagrar, uma imagem extraordinária capaz de mostrar galáxias nunca vistas, situadas na fronteira do Universo visível. O resultado deixou os astrônomos perplexos e mais convencidos do que nunca de que a Terra não é o único planeta habitado no Cosmo.

Apesar de mostrar só uma ínfima fatia do céu, a foto revelou mais de 1000 galáxias juntas. Multiplicando esse número pela área total do céu vista da Terra numa circunferência de 360 graus, deduz-se que o Universo reúne 100 bilhões de galáxias, tendo cada uma, em média, de 100 a 400 bilhões de estrelas. Uma quantidade incalculável de mundos.

Números dessa magnitude fortalecem a esperança da ciência na existência de ETs (veja No século 21 faremos contato, em SUPERINTERESSANTE, número 12, ano 13, página 76)[1], mas não são o bastante para eliminar o ceticismo de muitos pesquisadores.

Prova disso é o sucesso do livro Rare Earth (Terra Rara), do paleontólogo Peter Ward e do astrônomo Donald Brownlee, ambos americanos e da Universidade de Washington, em Seattle. Lançado em janeiro e ainda não publicado no Brasil, o livro sustenta que o Cosmo provavelmente está repleto de bactérias - mas é muito pouco provável que tenha seres evoluídos, mesmo que seja uma simples lesma.

Polêmico, o trabalho de Ward e Brownlee entrou para a lista dos dez mais vendidos nos Estados Unidos um mês depois de chegar às livrarias e sacudiu a comunidade científica por defender essa tese com argumentos sólidos e plausíveis e uma trama bem articulada.

O elo mais forte da rede de raciocínios é que os micróbios conseguem sobreviver em ambientes destrutivos porque, sendo dotados de uma única célula, podem sofrer mutações e se adaptar a situações extremas, como o excesso de calor e de frio, ou se esconder de um bombardeio de asteróides e cometas. Já os seres mais avançados, complexos e feitos de muitas células, precisariam de lugares tranqüilos e estáveis para evoluir.

Assim, embora o Cosmo possa ser um oásis para microorganismos, não chega a ser um paraíso para plantas e animais, para não falar em sociedades avançadas.

"Não podemos provar que as criaturas complexas e as civilizações são raras", explicou Brownlee à SUPER. "Mas achamos que essa possibilidade merece ser analisada com mais atenção”. Boa parte dos especialistas concorda com essa posição - mesmo os que acham que o livro da dupla exagera no pessimismo.

"Eu não interpretaria as descobertas recentes da Astronomia de maneira tão negativa. Temos boas razões para desconfiar que há outros mundos habitados no Universo", ponderou à SUPER o planetologista americano James Kasting, da Universidade do Estado da Pensilvânia, respeitado pesquisador da área. Mas Kasting garante que o livro merece os elogios que vem recebendo. "Todos os que se interessam por esse assunto deveriam lê-lo. Não há nada de errado em ser pessimista”.


Presença De ET Civilizado Não Esta Descartada.
Se o paleontólogo Peter Ward e o astrônomo Donald Brownlee estiverem certos, dificilmente existirão alienígenas civilizados no Universo. "Mas o fato, de eles terem, feito um excelente trabalho não quer dizer que tenham razão", declarou à SUPER o astrônomo Seth Shostak, um dos líderes do Seti, sigla em inglês, para Programa de Busca de Inteligência Extraterrestre, situado na Califórnia, Estados Unidos. Para o cientista, Ward e Brownlee subestimam as possibilidades geradas pela imensa quantidade de estrelas existentes.

Uma conta imaginária ajuda a entender esse raciocínio probabilístico. Considere primeiro que, como querem Ward e Brownlee, a evolução dos animais seja mesmo um fato raríssimo. Digamos que ela aconteça em apenas um a cada 1 milhão de mundos. A proporção é bem pequena, mas, nesse caso, em uma galáxia de tamanho médio, contendo 200 bilhões de estrelas, haveria até 200 000 mundos povoados por animais. Supondo agora que só um milésimo desses planetas dê origem a uma civilização, ainda assim ficaríamos com 200 sociedades de ETs.

Não é pouco, mas o pesquisador do Seti acredita que esse número tende a ser bem maior, pois, para ele, o surgimento de bichos grandes talvez não seja tão raro assim. Ward e Brownlee afirmam que as espécies daqui sobreviveram apenas porque estavam bem protegidas na Terra, que é um lugar excepcionalmente calmo.

O problema é que a ciência não sabe se as criaturas precisam mesmo de tranqüilidade para sobreviver. "Basta ver", argumenta Shostak, "que a extinção dos dinossauros, devido à queda de um asteróide gigante, levou ao florescimento dos mamíferos, que tinham cérebro maior do que o de seus antecessores".

"Assim, podemos acabar descobrindo que bombardeios de asteróides, em vez de prejudicar, até favorecem a evolução de seres inteligentes", brinca. A sério, o cientista pondera que o importante é lembrar que sabemos pouco sobre o Universo. Continuar investigando é o único meio de descobrir se somos ou não uma inteligência solitária entre as estrelas.

Zonas Mortas No Cosmo?
Galáxias estéreis
Ward e Brownlee sustentam que apenas as galáxias espirais, parecidas com a Via Láctea, poderiam ter planetas com condições de abrigar seres complexos, pois têm elementos vitais como oxigênio, ferro ou carbono. Esses não existem em galáxias elípticas. Já as galáxias anãs e as que estão em colisão são violentas demais. Sobram as espirais, cerca de 20% do total.

Limite estreito
Dentro das galáxias espirais, dizem Ward e Brownlee, só uma faixa relativamente estreita de astros teria condições semelhantes às que o Sol oferece ao desenvolvimento de criaturas complexas. No centro da galáxia há tantas estrelas que sua luz torraria os possíveis ETs. Na borda, a pobreza de elementos químicos dificultaria a evolução. Bastam 5% dos astros

Mas o planetologista James Kasting diz que diversos tipos de astros, não só os semelhantes ao Sol, poderiam sustentar uma zoologia complexa. Além disso, a quantidade de estrelas como o Sol não é pequena, pois ela pode superar a marca dos 20 bilhões, segundo as estimativas aceitas.

Estrelas de sobra
Muitos especialistas alegam que o número de galáxias é imenso - em torno de 100 bilhões, segundo as estimativas. Assim, mesmo se apenas um quinto delas - 20 bilhões - tiver condições propícias deve haver uma grande quantidade de planetas habitados por aí.

Ajuda extra
Não basta só uma estrela ser adequada, afirmam Ward e Brownlee. A Terra é protegida pelo planeta Júpiter: por ter uma massa elevada, ele atrai cometas e asteróides que poderiam cair aqui e extinguir as espécies. A Lua, ao girar em torno Terra, lhe dá estabilidade. Assim, nosso planeta não balança estavelmente, o que abalaria toda a sua biologia.

Biologia resistente
Não está claro se a Biologia precisa mesmo de proteção especial para se desenvolver. De fato, a Terra já foi bombardeada em diversas ocasiões, ao longo de sua história. A despeito de diversos episódios de extinção em massa, a evolução não deixou de avançar em sua superfície.

Subsolo privilegiado
O interior do nosso planeta, por ser quente, move os continentes, gerando vulcões e terremotos. Esse processo recicla, na medida certa, elementos químicos essenciais à irrupção biológica. Dificilmente haverá condições geológicas semelhantes em outros mundos.

Calor interno
Geologia ativa não é, necessariamente, prerrogativa terrestre. A Astronomia mostra que somente corpos celestes pequenos como as luas perdem a energia produzida durante sua formação e carecem de substâncias radioativas para gerar calor interno. No Sistema Solar, além da Terra, Vênus e Marte também tiveram movimentos geológicos no passado. A matéria aqui indicada tem por título “A hora do encontro”. Foi o objeto da mensagem anterior.

A Hora do Encontro

Astrônomos acham que a grande descoberta dos próximos 100 anos será a da vida fora da Terra. O Universo está cheio de ETs, avaliam, e já não parece tão difícil encontrar um deles por aí.

Flávio Diegues, com Ivani Vassoler, de Washington


Agosto de 2099. A voz do computador, na sala principal de um grande observatório anuncia que o telescópio captou raios de luz incomuns, que não poderiam ter sido emitidos por nenhuma estrela conhecida.

Observações posteriores confirmam a suspeita - a luminescência, vinda de um mundo incrivelmente longe da Terra, só pode ter sido enviada por uma criatura inteligente tentando fazer contato com outros seres.

A cena é fictícia, mas provavelmente acontecerá na realidade, nas próximas décadas. O Universo contém muitos ETs - essa é a constatação geral que, nos últimos anos, aumentou a confiança de que vamos achar alienígenas em outros planetas. Não demora muito.

A expectativa é fazer contato no século XXI. "Essa será a mais importante façanha científica do próximo século e a probabilidade de isso acontecer é muito alta", disse à SUPER um dos gurus da Astrofísica, o americano Alan Dressler, dos Observatórios Carnegie, em Washington.

Para ele, a aposta mais segura é em algum tipo de micróbio extraterrestre. Só que as chances não param aí. O cerco para captar sinais enviados do espaço por possíveis ETs inteligentes aumentou.

Durante muito tempo essa missão foi encarada apenas pela Sociedade Planetária, na Califórnia, Estados Unidos, com o seu Programa de Busca de Inteligência Extraterrestre, conhecido pela sigla em inglês, Seti.

Este, ano várias outras instituições se integraram à tarefa. Entre elas estão a Universidade Harvard e da Califórnia, nos Estados Unidos, o Observatório Medicina, na Itália, e a Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.

Com o reforço, será possível investigar, nos próximos vinte anos, cerca de 5.000 estrelas. É dez vezes mais do que o Seti pôde fazer, sozinho, em uma década e meia de existência.

A busca fica mais emocionante à medida que aumenta o número de planetas descobertos em torno de outras estrelas. Agora, cada vez que um deles é detectado, à taxa de cinco por ano, antenas e telescópios se voltam para lá na expectativa de captar uma mensagem inteligente.

Outra novidade é que, em vez de ouvir apenas sinais de rádio, como sempre fez, o Seti também passou a captar sinais codificados na forma de luz. A idéia foi do físico americano Charles Townes, um dos inventores dos aparelhos de laser, atualmente na Universidade da Califórnia.

A dificuldade de encontrar um ET desenvolvido é muito maior do que o de descobrir micróbios lá fora. Mas também é possível que a hora do encontro com um deles chegue até antes de 2099, como disse Townes à SUPER. "Mesmo considerando que seres inteligentes sejam raros no Universo, o contato agora pode acontecer a qualquer momento”.

A Hora do Encontro

Um Universo cheio de extraterrestres

Todos os cientistas concordam que estimar a quantidade de civilizações existentes no Universo não é brincadeira. Os mais otimistas, como os astrônomos do Seti, acreditam que pode haver até quarenta espécies desenvolvidas apenas na nossa Galáxia, a Via Láctea.

É um cálculo ponderado se pensarmos que existem mais de 100 bilhões de estrelas na Via Láctea, e ela é somente uma entre as 100 bilhões de galáxias que giram pelo espaço. Ou seja, deve haver 10.000 quintilhões de astros. Sobre uma estimativa assim, não há como ter certeza.

Mas não devemos ser os únicos seres vivos dessa multidão de mundos.

É assim que o problema é visto pela astrônoma americana Jill Tarter, diretora do mais importante projeto do Seti, chamado Fênix.

“A única maneira de saber se existem ou não é procurar por eles", disse ela à SUPER. Lúcida e serena, ela argumenta que deve demorar até serem captados indícios certos de uma mensagem alienígena.

Apesar disso, afirma ter esperança de que isso vai acontecer nos próximos 100 anos. "Sim, achar um ET inteligente é uma possibilidade concreta", confirma a pesquisadora.

O mesmo pensa o biólogo Christian de Duve, Prêmio Nobel de Medicina em 1974. "É possível que esse encontro se dê no século que vem", afirmou à SUPER. Para ele, a existência de ETs é quase obrigatória no Cosmo.

"Acredito que, onde houver as condições adequadas para o surgimento de seres vivos, eles irão aparecer, de um jeito ou de outro”.

Essas condições são, basicamente, água em forma líquida e calor, como a Terra tinha ao se formar há 4,5 bilhões de anos. O entusiasmo de Duve deve-se ao fato de que esses ingredientes são muito abundantes no Universo.

Trata-se de um dado novo, que está alterando a visão da ciência de maneira radical, de acordo com o americano Alan Dressler.

"Há menos de duas décadas, acreditava-se que pouquíssimos lugares do Cosmo seriam convenientes ao desenvolvimento de organismos”.Vários achados recentes contribuíram para mudar essa avaliação.

Um dos mais convincentes é o de que pode existir um vasto oceano em Europa, uma das luas que circulam Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Embora tenha o tamanho da Lua, Europa pode conter mais água do que todos os oceanos da Terra somados.

A surpresa fica por conta de que Júpiter e seu satélite estão incrivelmente longe do Sol, a mais de 1 bilhão de quilômetros. Assim, não deveriam ter calor suficiente para manter a água em estado líquido. De fato, o planetão é mesmo gelado.

Mas, como é muito grande, ele aperta Europa com uma imensa força gravitacional. O resultado é que as rochas subterrâneas do satélite se esfregam umas nas outras, gerando atrito e calor suficiente para manter as moléculas de H2O em forma fluida.

A conclusão é simples: se até essa lua distante apresenta boas condições para o desenvolvimento de criaturas, então elas não devem ser tão raras no Cosmo, dentro ou fora do Sistema Solar.

Ainda mais que dentro da família do Sol há outros quatro mundos que também podem ter água e calor. Três deles são luas de planetas gigantes, como Europa. Titã gira em torno de Saturno, Io à volta de Júpiter e Tritão de Netuno (veja as fotos abaixo).

O quarto mundo é Marte, que Dressler considera o mais promissor de todos. "Há grandes chances de o primeiro micróbio fora da Terra ser encontrado no subsolo marciano. Isso pode acontecer dentro de apenas vinte anos", diz ele.

A Hora do Encontro

Mil cópias da Terra girando pela Galáxia

Os avanços tecnológicos que impulsionam a pesquisa de sinais de ETs no Cosmo prometem transformar 2012 num ano de grandes emoções.

Nessa data, a Nasa planeja lançar ao espaço o Terrestrial Planet Finder, conhecido pela sigla em inglês TPF, que quer dizer descobridor de planetas terrestres. Mais ou menos na mesma época, a Agência Espacial Européia pretende decolar um irmão do TPF, chamado Darwin.

Esses serão os primeiros telescópios em condições de observar planetas do tamanho da Terra que giram em volta de estrelas a mais de 500 trilhões de quilômetros daqui. Atualmente, a essa distância, só é possível detectar mundos gigantes como Júpiter, dentro do qual caberiam 1.300 planetinhas como o nosso.

Satélite-monstro de 100 metros de comprimento, o TPF ficará estacionado a mais de 1 bilhão de quilômetros do Sol para evitar que a luz da estrela ofusque as lentes do aparelho. Daí, ele deverá encontrar mais de 1.000 planetas parecidos com a Terra - acredita-se que a semelhança aumente a chance de eles serem habitados.

A meta é examinar a atmosfera das centenas de cópias da Terra que deverão ser captadas. O ar pode revelar sinais de que na superfície dos planetas existam criaturas. O indício mais esperado é o oxigênio. Como esse elemento é naturalmente raro nos corpos celestes, se ele estiver presente é porque foi produzido por organismos.