sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

A Sentença Divina

Por Edgard Armond

Extraído de “Os Exilados da Capela”, obra de não-ficção, apresentada como “ensaio de reconstituição histórico-espiritual do mundo, realizada com auxílio de inspiração”, tendo como Guia Espiritual Entidade denominada Razin.

O Autor foi, por 27 anos ininterruptos, Secretário-geral da FEESP – Federação Espírita do Estado de São Paulo. Vale transcrever a epígrafe, pelo Guia Espiritual:
“Queiram ou não queiram os homens, com o tempo, a luz da verdade se fará nos quatro cantos do Mundo”.

Ia a meio o ciclo evolutivo da Terceira Raça, cujo núcleo mais importante e numeroso se situava na Lemúria quando, nas esferas espirituais, foi considerada a situação da Terra e resolvida a imigração para ela de populações de outros orbes mais adiantados, para que o homem planetário pudesse receber um poderoso estímulo e uma ajuda direta na sua árdua luta pela conquista da própria espiritualidade.

A escolha, como já dissemos, recaiu nos habitantes da Capela.

Eis como Emmanuel, o espírito de superior hierarquia, tão estreitamente vinculado agora ao movimento espiritual da Pátria do Evangelho, inicia a narrativa desse impressionante acontecimento:
“Há muitos milênios, um dos orbes do Cocheiro, que guarda muitas afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um, dos seus extraordinários ciclos evolutivos...Alguns milhões de espíritos rebeldes lá existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas conquistas daqueles povos cheios de piedade e de virtudes...”
E, após outras considerações, acrescenta:
"As Grandes Comunidades Espirituais, diretoras do Cosmo deliberaram então, localizar aquelas entidades pertinazes no crime, aqui na Terra longínqua”.

Dái-nos, pois, assim, Emmanuel, com estas revelações de tão singular natureza, as premissas preciosas de conhecimentos espirituais transcendentes, relativos à vida planetária – ­conhecimentos esses já de alguma forma focalizados pelo Codificador – e que abrem perspectivas novas e muito dilatadas à compreensão de acontecimentos históricos que, de outra forma – como aliás com muitos outros tem sucedido – permaneceriam na obscuridade ou, na melhor das hipóteses, não passariam de lendas.

Aliás, essa permuta de populações entre orbes afins de um mesmo sistema sideral, e mesmo de sistemas diferentes, ocorre periodicamente, sucedendo sempre a expurgos de caráter seletivo; como também é fenômeno que se enquadra nas leis gerais da justiça e da sabedoria divinas, porque vem permitir reajustamentos oportunos, retomadas de equilíbrio, harmonia e continuidade de avanços evolutivos para as comunidades de espíritos habitantes dos diferentes mundos.

Por outro lado é a misericórdia divina que se manifesta, possibilitando a reciprocidade do auxílio, a permuta de ajuda e de conforto, o exercício enfim, da fraternidade para todos os seres da criação. Os escolhidos, neste caso, foram os habitantes de Capela que, como já foi dito, deviam dali ser expurgado por terem-se tornado incompatíveis com os altos padrões de vida, moral já atingido pela evoluída humanidade daquele orbe.

Resolvida, pois, a transferência, os milhares de espíritos atingidos pela irrecorrível decisão foram notificados do seu novo destino e da necessidade de sua reencarnação em planeta inferior.

Reunidos no plano etéreo daquele orbe, foram postos na presença do Divino Mestre para receberem o estímulo da esperança e a palavra da Promessa, que lhes serviriam de consolação e de amparo nas trevas dos sofrimentos físicos e morais, que lhes estavam reservados por séculos.

Grandioso e comovedor foi então o espetáculo daquelas turbas de condenados, que colhiam os frutos dolorosos de seus desvarios, segundo a lei imutável da eterna justiça.
Eis como Emmanuel, no seu estilo severo e eloqüente, descreve a cena:

“Foi assim que Jesus recebeu, à luz do seu reino de amor e de justiça, aquela turba de seres sofredores e infelizes. Com a sua palavra sábia e compassiva exortou aquelas almas desventuradas à edificação da consciência pelo comprimento dos deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmos.
Mostrou-Ihes os campos de lutas que se desdobravam na Terra, envolvendo-os no halo bendito de sua misericórdia e de sua caridade sem limites. Abençoou-Ihes as lágrimas santificadoras, fazendo-Ihes sentir os sagrados triunfos do futuro e prometendo-Ihes a sua colaboração cotidiana e a sua vinda no porvir (sem destaque no original).
Aqueles seres desolados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal, seriam degredados na face obscura do planeta terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura, reincarnar-se-iam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não veriam a suave luz de Capela, mas trabalhariam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia”.

E assim a decisão irrevogável se cumpriu e os exilados, fechados seus olhos para os esplendores da vida feliz no seu mundo, foram arrojados na queda tormentosa, para de novo somente abri-los nas sombras escuras, de sofrimento e de morte, do novo "habitat" planetário.

Foram às coortes de Lúcifer que, avassaladas pelo orgulho e pela maldade, se precipitaram dos céus as Terras, que daí por diante passou a ser-lhes a morada purgatorial por tempo indefinido (sem destaque no original).

E após a queda, conduzida por entidades amorosas, auxiliares do Divino Pastor, foram os degredados reunidos no etéreo terrestre e agasalhados em uma colônia espiritual, acima da crosta, onde, durante algum tempo, permaneceriam em trabalhos de preparação e de adaptação para a futura vida a iniciar-se no novo ambiente planetário.

O colapso dos rapanui. - Pesquisas Iniciais

A praia de Anakena, provavelmente onde ocorreu a primeira colonização de Rapa Nui,
foi o local onde o autor conduziu suas escavações arqueológicas.
O colapso dos rapanui.
Ao contrário do que sugerem as teses vigentes sobre a extinção
dessa civilização no Pacífico Sul, foram roedores, e não humanos,
os grandes agentes da degradação ambiental na Ilha de Páscoa.
Todos os anos, milhares de turistas do mundo inteiro percorrem longas distâncias pelo Pacífico Sul para ver as famosas estátuas de pedra da Ilha da Páscoa. Desde 1722, quando os primeiros europeus ali chegaram, essas figuras megalíticas, os moais, intrigam visitantes. O interesse em saber como foram construídos e movidos levou a outra questão também enigmática: o que aconteceu às pessoas que os criaram?

De acordo com o relato corrente sobre o passado da ilha, os habitantes nativos - que se autodenominam rapanui e se referem à ilha como Rapa Nui - outrora formavam uma sociedade grande e próspera que entrou em colapso em conseqüência da degradação ambiental.

Segundo essa teoria, um pequeno grupo de colonizadores da Polinésia teria chegado entre os séculos IX e X. Trezentos anos depois, o aumento populacional acelerado e a obsessão em construir moais levaram a uma pressão cada vez maior no ambiente.
No final do século XVII, os rapanui haviam desmatado a ilha, o que resultou em guerras, fome e colapso cultural.

Jared Diamond, geógrafo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, usou os rapanui como parábola sobre os perigos da destruição ambiental. "Em apenas alguns séculos", escreveu em 1995, "os habitantes da Ilha de Páscoa liquidaram suas florestas, levaram suas plantas e animais à extinção, e viram sua complexa sociedade rumar para o caos e o canibalismo.

Estamos perto de seguir seu exemplo?" Em Colapso, publicado em 2005, Diamond descreveu Rapa Nui como "o exemplo mais claro de uma sociedade que se auto destruiu ao explorar demais os próprios recursos".

Dois elementos chave no relato de Diamond - que certamente não está sozinho ao descrever Rapa Nui como um conto sobre a moralidade ambiental - são o grande número de polinésios vivendo na ilha e sua tendência a derrubar árvores. Ao analisar estimativas sobre a população nativa, diz que não ficaria surpreso se excedesse 15 mil indivíduos em seu auge.

Uma vez derrubadas todas as árvores do grande grupo de palmeiras, seguiram-se "fome, declínio da população e canibalismo". Quando os europeus chegaram, no século XVIII, encontraram somente um pequeno vestígio dessa civilização.

Em minha primeira viagem a Rapa Nui esperava confirmar essas teses. Em vez disso, encontrei evidências que não se encaixavam na linha do tempo básica.

Quando examinei os dados de escavações arqueológicas disponíveis e alguns trabalhos similares realizados em outras ilhas do Pacífico, percebi que muito do que era atribuído à pré-história de Rapa Nui não passava de especulação.
Estou convencido, agora, de que simplesmente o colapso ambiental auto-induzido não explica a queda dos rapanui. Datações de carbono que fizemos e dados paleoambientais apontam para uma explicação diferente sobre o que aconteceu nessa pequena ilha. A história é mais complexa do que a comumente descrita.

Os primeiros colonizadores podem ter chegado muito depois do que se acreditava, e eles não viajavam sozinhos. Traziam galinhas e ratos, ambos utilizados como alimento. Mais importante é, no entanto, o que os ratos comiam.
Esses roedores prolíferos podem ter sido a principal causa da degradação ambiental. Usar os rapanui como exemplo de "ecocídio", como Diamond o chamou, torna a narrativa atraente, mas a realidade da história trágica da ilha não é menos significativa.

O colapso dos rapanui. - Pesquisas Iniciais

Pesquisas Iniciais

Mais de 3 mil km de oceano separam Rapa Nui da América do Sul, o continente mais próximo. A ilha habitável menos distante é Pitcairn, 2 mil km a oeste.

Rapa Nui tem apenas cerca de 170 km, e fica um pouco ao sul dos trópicos, o que significa que seu clima é menos convidativo que o de muitas ilhas tropicais do Pacífico. Ventos fortes e imensas oscilações no índice pluviométrico dificultam a agricultura.

A flora e a fauna são limitadas. Além de galinhas e ratos, há poucos vertebrados terrestres. Muitas das espécies de pássaros que já habitaram a ilha estão agora extintas no local.
Grandes palmeiras do gênero Jubaea cobriam a maior parte da ilha, mas elas, também, desapareceram. Pesquisa recente encontrou apenas 48 tipos de plantas nativas, incluindo 14 introduzidas pelos rapanui.

Relatos de visitantes europeus foram usados para argumentar que, na época da descoberta européia, a população nativa estava em declínio, mas eles às vezes se contradizem. Em seu registro, o explorador holandês Jacob Roggeveen, que levou os primeiros europeus a aportar ali, retratou a ilha como empobrecida e sem árvores.

No entanto, depois de partirem, Roggeveen e os comandantes de seus três navios a descreveram como "extraordinariamente fértil, com produção de banana, batata, cana-de-açúcar de espessura notável e muitos outros frutos da terra.

Essa nação, no que diz respeito a seu solo rico e bom clima poderia ser transformada em um Paraíso terrestre, caso trabalhada e cultivada de forma adequada". Um dos comandantes de Roggeveen escreveu, mais tarde, que havia avistado "extensões inteiras de florestas" a distância.

Um visitante do século XIX, J. L. Palmer, declarou, no Journal of the Royal Geographic Society, que havia visto "troncos de grandes árvores, Edwardisia, coqueiros e hibiscos". Os coqueiros foram introduzidos recentemente na ilha, portanto Palmer deve ter visto a hoje extinta palmeira Jubaea.

É claro que os registros históricos têm lacunas. Há tempos pesquisadores tentam dar respostas mais definitivas sobre a pré-história da Ilha de Páscoa, mas não raro contribuem mais para a confusão. O explorador e antropólogo norueguês Thor Heyerdahl, por exemplo, visitou Rapa Nui em 1950 e despertou amplo interesse sobre os moais e as grandes fundações de pedra, ou ahus, sobre as quais com freqüência estão assentados. Mas também ajudou a difundir conclusões errôneas.

Heyerdahl acreditava que as ilhas polinésias, incluindo Rapa Nui, haviam sido colonizadas por viajantes da América do Sul, e não do oeste do Pacífico. Em 1947, ele iniciou a famosa expedição Kon-Tiki, navegando numa pequena embarcação feita de madeira e materiais básicos, do Peru até as ilhas Tuamotu, a fim de provar que era possível que povos pré-históricos tivessem feito a viagem.

Em 1955, comandou uma expedição arqueológica a Rapa Nui. E propôs que a ilha havia sido colonizada a partir do leste, apontando semelhanças entre suas estátuas e trabalhos em pedra sul-americanos. Evidências lingüísticas e genéticas estabeleceram com solidez a origem polinésia dos rapanui, mas as conclusões feitas por Heyerdahl ainda anuviam os relatos arqueológicos.

Uma amostra de carvão descoberta na península Poike - que marca, em princípio, o local de uma antiga fornalha - foi datada como sendo de 400 d.C. Aliada à idéia então prevalecente de que a língua dos rapanui indicava muitos séculos de isolamento de outros grupos polinésios, a datação em carbono dessa amostra levou especialistas a concluir que a colonização humana começou ali por volta do século V.

Mais recentemente, no entanto, alguns arqueólogos rejeitaram essa datação, enquanto outros questionaram se as evidências lingüísticas refletem o isolamento dos rapanui em vez de uma colonização anterior.
Essa fase posterior da pesquisa passou a indicar a data de 800-900 d.C. como provavelmente a época mais anterior da colonização humana no local. Apesar de os arqueólogos realmente terem concentrado seus esforços em estabelecer exatamente quando a ilha foi colonizada, eles dedicaram muito de seu trabalho ao estudo das mudanças que esses colonizadores trouxeram, em especial o desmatamento.

A equipe de Heyerdahl colheu amostras de pólen mostrando que as palmeiras já haviam sido abundantes na ilha. Durante as escavações, características indicativas de onde as raízes haviam crescido em alguma época foram encontradas, revelando uma vegetação mais alastrada no passado e apontando para a possibilidade de que os humanos haviam causado a perda de cobertura florestal.

John Flenley forneceu grande parte das evidências mais recentes detalhadas nessa área. No final da década de 70 e na de 80, ele coletou e analisou depósitos de sedimentos de três crateras: Rano Aroi, próxima do centro da ilha; Rano Raraku, adjacente à pedreira onde muitas das estátuas foram esculpidas; e Rano Kau, localizada na ponta sudoeste da ilha. Cada uma dessas depressões tem um lago raso, que coleta sedimentos levados pelo vento de outras regiões da ilha.

A melhor evidência veio de um núcleo de 10,5 metros de Rano Kau, mostrando que durante milhares de anos a ilha havia sido arborizada antes de as árvores desaparecerem, processo ocorrido entre 800 e 1500 d.C. No entanto, mais recentemente a validade dessas datas - derivadas da datação por radiocarbono de amostras de sedimentos dos lagos - foi questionada.

Em 2004, Kevin Butler, Christine A. Prior e Flenley mostraram que as amostras volumosas de sedimento de locais como esses com freqüência contêm um pouco de carbono consideravelmente mais antigo que a data de depósito.
Isso significa que a cronologia proposta por Flenley poderia indicar que o desmatamento induzido por humanos fosse centenas de anos mais antigo do que realmente é.

Outros trabalhos arqueológicos e paleoambientais recentes desafiaram hipóteses que vigoraram por muito tempo sobre a pré-história de Rapa Nui. Catherine Orliac, do Centro Nacional de Pesquisa Científica, da França, realizou um estudo notável com 32.960 espécies de plantas.

Além de identificar 14 organismos não identificados antes na ilha, ela mostrou que a principal fonte de combustível dos rapanui mudou de maneira drástica. Entre 1300 e 1650, eles queimaram madeira de árvores, mas usaram capim, samambaias e plantas similares para obter combustível a partir daquele ponto.

No entanto, Orliac argumentou que pelo menos dez espécies de vegetação florestal podem ter persistido até os europeus começarem a visitar a ilha. Em outro estudo, Orliac examinou resíduos da casca dura que envolve a semente da palmeira Jubaea.

Esses exemplares que foram carbonizados, roídos por ratos ou encontrados associados a materiais humanos forneceram evidências da ocupação humana da ilha.

Ela datou vários deles e descobriu que eram posteriores a 1250.Andréas Mieth e Hans-Rudolf Bork, da Universidade Christian-Albrecht em Kiel, Alemanha, estudaram o processo de desmatamento em Rapa Nui e concluíram que as palmeiras Jubaea haviam coberto a maior parte da ilha.

Segundo eles, o desmatamento começou por volta de 1280. Os rapanui abandonaram em grande parte a península nos 200 anos seguintes, mas se assentaram novamente em algumas áreas, entre 1500 e 1675. Em 2003, o geólogo Dan Mann e vários colegas obtiveram datação por carbono de pedaços de carvão encontrados em solos de diversas localidades da ilha.

Também documentaram episódios remotos de erosão severa que, de acordo com as medições de carbono, começaram logo depois de 1200. O estudo deles, como o de Mieth e Bork, aponta que o desmatamento se deu entre 1200 e 1650, sem indícios de impacto humano anterior a esse período.

Tanto a equipe de Mann quanto Mieth e Bork conciliaram suas descobertas com trabalhos anteriores ao argumentar que a população, durante os séculos anteriores a 1200, deve ter sido pequena ou temporária.
Foi apenas quando o número de habitantes permanente cresceu que os indícios de presença humana se tornaram claros no registro paleoambiental.Mas esse cenário inclui várias suposições questionáveis. Ele exige uma pequena população colonizadora com taxa de crescimento lenta e pouco impacto ecológico.

Depois de nossa própria pesquisa em Rapa Nui, começamos a nos perguntar se a escassez de evidências acerca da presença humana anterior a 1200 deveria ser levada em consideração por seu valor nominal - talvez a ilha não tivesse sido realmente colonizada tão cedo quanto se acreditava.

O colapso dos rapanui. -Datação é Tudo

Datação é Tudo

Ao visitar rapa nui pela primeira vez, em maio de 2000, não tinha idéia de que acabaria questionando o que acreditava saber acerca do passado da ilha. Na realidade, viajava como turista, não como arqueólogo. Mas fui convidado por Sergio Rapu, governador nativo da ilha e ex-aluno meu - ele estudou arqueologia na Universidade do Havaí - a fazer pesquisas na ilha. Previa que meu trabalho e de meus alunos, iniciado em agosto de 2000, ajudaria a dar os toques finais em uma história bem estabelecida. Mas, quando comecei a rever dados de pesquisa arqueológica, estudos sobre os moais e evidências sobre mudanças ambientais, percebi que havia uma série de lacunas no que se sabia sobre Rapa Nui, e passei a ficar cada vez mais cético sobre tudo dito acerca da pré-história da ilha.

Nos anos seguintes, fizemos trabalho de campo durante um ou dois meses por ano. Meu colega Carl P. Lipo, arqueólogo da Universidade Estadual da Califórnia, juntou-se ao grupo e me apresentou ao potencial das imagens por satélite, que usamos para explorar características como as antigas estradas pelas quais os rapanui transportavam os moais da pedreira de Rano Raraku para qualquer canto da ilha. Seguir o alinhamento das rotas também resultou na documentação de vários moais até então não registrados.

Em 2004, começamos novas escavações em Anakena. Essa praia de areia branca teria sido o local mais convidativo para que os primeiros colonizadores ancorassem seus barcos (grande parte da costa é composta por despenhadeiros ou penhascos rochosos).
Por isso, a maioria dos antropólogos suspeita que as primeiras colônias tenham sido estabelecidas ao redor de Anakena. Pretendíamos estudar subsistência e mudança ambiental, não cronologia básica, que acreditávamos já estar estabelecida.A estratificação magnificamente inalterada da areia provou ser o sonho dos arqueólogos.
A integridade das camadas seria útil para determinar quando as coisas haviam acontecido. Desenterramos fragmentos abundantes de carvão (indicando o uso de fogo), ossos (incluindo os de ratos polinésios, uma espécie que chegou com os colonos) e fragmentos de obsidiana lascada (sinal claro de trabalho manual humano) nos 3 a 5 cm de barro subjacente.

Abaixo, não encontramos nada que sugerisse atividade humana. Ao contrário a argila antiga era enigmática, com vazios irregulares - locais onde o solo uma vez se moldara ao redor das raízes das árvores de palmeira Jubaea.
Sem dúvida havíamos encontrado a camada de material mais antigo relacionado a humanos em Anakena, e presumindo que este fosse o local das primeiras colônias da ilha, estávamos em excelente posição para determinar a data da colonização inicial.

Portanto, fiquei decepcionado quando o laboratório que faz a datação por carbono dessas amostras nos enviou um e-mail comunicando que as datas mais antigas eram de apenas 800 anos atrás, o que significava que a ocupação começara por volta de 1200.

As datas das camadas mais próximas à superfície eram progressivamente mais recentes, o que não é consistente com a possibilidade de que de alguma forma nossas amostras tivessem sido contaminadas por carbono moderno.

Realmente não havia como explicar esses números, pelo menos não pelo modelo convencional aceito de desenvolvimento de Rapa Nui. Quando a cópia em papel do relatório chegou, algumas semanas depois, examinei os dados de novo. Quanto mais analisava, mais parecia que nossos resultados não eram o problema.

Conversei com Atholl Anderson, da Universidade Nacional Australiana. Ele havia feito uma triagem cuidadosa de datações por carbono da Nova Zelândia e concluído que os primeiros colonos chegaram lá por volta de 1200, várias centenas de anos depois do que os arqueólogos acreditavam no início.

A reação às suas idéias foi bastante fria no começo, mas o tempo e evidências adicionais provaram que estava correto. Com essa experiência nas costas, Anderson me aconselhou a manter a cabeça aberta e confiar nos meus dados mais do que em quaisquer idéias anteriores.

Mas a cronologia tradicional estaria simplesmente errada? Lipo e eu analisamos mais a fundo as evidências sobre a colonização humana inicial. Avaliamos 45 datações por carbono publicadas indicando presença humana mais de 750 anos atrás utilizando um protocolo de "higiene cronométrico".

Rejeitamos datas medidas com base em de fontes não confiáveis, como organismos marinhos, que exigem correções para o carbono mais antigo vindo do ambiente oceânico. Também desconsideramos datas únicas que não haviam sido confirmadas por uma segunda datação do mesmo contexto arqueológico.

Utilizar somente datas emparelhadas ajuda a assegurar a confiabilidade dos dados. Ficamos com somente nove datas aceitáveis. Com essa seleção, evidências sobre a primeira ocupação ocorrendo por volta do século IX simplesmente ruíram.

Apesar de os nossos resultados não se encaixarem na data de colonização aceita para Rapa Nui, eles se ajustavam à cronologia do desmatamento que Orliac, Mann, e Mieth e Bork haviam desenvolvido.
É preciso simplesmente descartar a idéia de que uma população pequena e temporária ocupou a ilha por séculos. Ao contrário, postulamos que o impacto ambiental foi disseminado desde o começo.

A noção de que os humanos não chegaram a Rapa Nui até cerca de 1200 não foi a única coisa que me fez repensar minhas suposições acerca da ilha. Pesquisas feitas em outras ilhas do Pacífico fornecem um paralelo atraente e uma possível explicação para o dano ambiental em Rapa Nui.

O colapso dos rapanui. - Ratos no Paraíso

Ratos no Paraíso

Durante milhares de anos, a maior parte de Rapa Nui esteve coberta de palmeiras. Registros de pólen mostram que a Jubaea se estabeleceu lá há pelo menos 35 mil anos e sobreviveu a várias mudanças climáticas e ambientais. Mas, na época em que Roggeveen chegou, em 1722, a maior parte da floresta havia desaparecido.

Não se trata de uma observação nova o fato de que virtualmente todas as cascas de sementes de palmeira encontradas em cavernas ou escavações arqueológicas de Rapa Nui mostram sinais de terem sido roídas por ratos, mas o impacto desses ratos no destino da ilha pode ter sido subestimado. Evidências de outros locais no Pacífico revelam que com freqüência esses animais contribuíram para o desmatamento, e eles podem muito bem ter tido um papel importante na degradação ambiental de Rapa Nui. O arqueólogo J. Stephen Athens, do Instituto Internacional de Pesquisas Arqueo-lógicas, fez escavações na ilha de Oahu, Havaí, e descobriu que o desmatamento da planície Ewa ocorreu em grande parte entre 900 e 1100, mas que a primeira evidência de presença humana nessa parte da ilha só aconteceu por volta de 1250.

Não havia explicações climáticas para o desaparecimento das palmeiras, mas havia indícios de que o rato da Polinésia (Rattus exulans), introduzido pelos primeiros colonizadores humanos, estava presente na área por volta de 900. Athens mostrou que era bastante provável que os ratos tivessem desmatado grandes áreas de Oahu.

Paleobotânicas demonstraram o efeito destrutivo de ratos na vegetação nativa em muitas outras ilhas, mesmo naquelas ecologicamente diversas como a Nova Zelândia. Em áreas das quais eles são removidos, com freqüência a vegetação se recupera rapidamente.

E na ilha Nihoa, no noroeste das ilhas havaianas, onde não há evidência de que os ratos jamais tenham se estabelecido, a vegetação nativa ainda sobrevive, apesar dos assentamentos humanos pré-históricos.

Como clandestinos ou fonte de proteína para os viajantes polinésios, os ratos teriam encontrado um ambiente acolhedor em Rapa Nui - um fornecimento quase ilimitado de alimento de alta qualidade e, a não ser pelos humanos, nenhum predador. Em um cenário tão ideal, os roedores podem se reproduzir com tanta rapidez que sua população teria dobrado a cada seis ou sete semanas.

Um único casal poderia, dessa forma, gerar uma população de quase 17 milhões em pouco mais de três anos. Na década de 70, no atol de Kure, nas ilhas havaianas, a uma latitude similar à de Rapa Nui, mas com um fornecimento menor de alimento, registrou-se que a densidade populacional do rato polinésio teria alcançado 182 por m2. Em Rapa Nui, isso equivaleria a uma população de 1,9 milhão de animais. A uma densidade de 300 por m2, o que não seria desmedido, dada a abundância de alimento, a população de ratos pode ter excedido 3,1 milhões.

As evidências de outras partes do Pacífico tornam difícil acreditar que os ratos não tenham causado uma degradação ambiental rápida e ampla. Mas ainda há a questão de seu efeito em relação às mudanças causadas por humanos, que cortavam árvores para vários fins e praticavam agricultura de corte e queima. Acredito haver evidências substanciais de que foram roedores, mais que humanos, que levaram ao desmatamento.

Nossas escavações em Anakena, assim como estudos arqueológicos anteriores, encontraram milhares de ossos de rato. Ao que tudo indica, a população de ratos polinésios cresceu com rapidez, e decaiu mais recentemente antes de se extinguir face à competição de espécies de rato introduzidas por europeus.

Quase todas as cascas de semente de palmeira descobertas na ilha mostram sinais de terem sido roídas, sugerindo que esses animais que já foram onipresentes afetaram a capacidade de reprodução das palmeiras Jubaea. Motivos para considerar os ratos mais culpados que os humanos também são revelados pela análise de sedimentos obtidos em Ranu Kau que, como as evidências do Havaí, parecem indicar que a floresta decaiu (deixando menos pólen no sedimento) antes do uso extensivo de fogo pelas pessoas.

Quando a segunda rodada de resultado por carbono chegou, um quadro completo da pré-história de Rapa Nui começava a se formar. Os primeiros colonizadores chegaram de outras ilhas da Polinésia por volta de 1200. A quantidade deles aumentou rapidamente, talvez a um ritmo de 3% ao ano, o que seria similar ao rápido crescimento de outros locais no Pacífico.

Na ilha Pitcairn, por exemplo, a população cresceu 3,4% por ano depois da chegada dos amotinados do Bounty em 1790. Em Rapa Nui, um crescimento anual de 3% significaria que uma população de 50 colonos teria aumentado para quase 1.000 em um século.

O número de roedores teria explodido com mais velocidade ainda, e a combinação de humanos cortando árvores e ratos comendo as sementes teria levado a um rápido desmatamento. Portanto, na minha opinião, não houve um período longo durante o qual a população humana viveu em algum tipo de equilíbrio idílico com o frágil ambiente.

Também parece que os habitantes da ilha começaram a construir moais e ahus logo depois de chegar ali. Por volta de 1350, a população provavelmente chegou ao máximo de cerca de 3 mil pessoas, e permaneceu estável até a chegada dos europeus. As limitações ambientais de Rapa Nui teriam evitado que a população crescesse muito mais.

Em 1722, a maioria das árvores da ilha já tinha sumido, mas o desmatamento não precipitou o colapso da sociedade, como Diamond e outros argumentaram. Não existem provas confiáveis de que a população da ilha tenha alcançado 15 mil pessoas ou mais, e a verdadeira queda dos rapanui foi resultado não de disputas internas, mas do contato com os europeus.

Quando Roggeveen desembarcou no litoral de Rapa Nui, poucos dias depois da Páscoa (daí o nome da ilha), ele levou consigo mais de 100 de seus homens armados com mosquetes, pistolas e cutelos. Antes de avançar muito, Roggeveen ouviu disparos vindos da retaguarda.

Ele se virou e viu dez ou 12 habitantes mortos e muitos outros feridos. Seus marujos afirmaram que alguns dos rapanui haviam feito gestos ameaçadores. Qualquer que tenha sido a provocação, o resultado não foi de bom agouro para os habitantes da ilha.

Doenças trazidas de fora, conflitos com invasores europeus e escravidão seguiram-se durante os 150 anos seguintes, e essas foram as principais causas do colapso. No começo da década de 1860, mais de mil rapanui foram levados da ilha como escravos e, no final da década seguinte, o número de habitantes nativos chegava somente a cerca de 100. Em 1888, a ilha foi anexada ao Chile. Atualmente permanece como parte daquele país.

Na década de 30, o etnógrafo francês Alfred Métraux visitou a ilha. Mais tarde descreveu o fim de Rapa Nui como "uma das atrocidades mais medonhas cometidas por homens brancos nos Mares do Sul". Foi genocídio, não ecocídio, o causador do fim dos rapanui. Não ocorreu uma catástrofe ecológica em Rapa Nui, pois ela foi resultado de vários fatores, não somente de miopia humana.

Acredito que o mundo enfrente, hoje, uma crise ambiental global sem precedentes, e compreendo a utilidade de exemplos históricos sobre as armadilhas da destruição ambiental. Portanto, foi com certa inquietação que concluí que Rapa Nui não fornece tal exemplo.

Mas, como cientista, não posso ignorar os problemas encontrados na narrativa aceita sobre a pré-história da ilha. Erros ou exageros nos argumentos para a proteção do ambiente somente levam a respostas simplistas ao extremo e prejudicam a causa do ambientalismo. No final, acabaremos nos perguntando por que nossas respostas simples não foram suficientes para fazer alguma diferença na confrontação dos problemas atuais.

Os ecossistemas são complexos, e há necessidade premente de compreendê-los melhor. Com certeza o papel dos roedores em Rapa Nui mostra o impacto potencialmente devastador, e com freqüência inesperado, de espécies invasoras. Espero podermos continuar a explorar o que aconteceu em Rapa Nui e a aprender qualquer que seja a lição que essa ilha remota tem a nos ensinar.

Cientistas solucionam mistério do ciclo do nitrogênio...


Cientistas solucionam mistério do ciclo do nitrogênio, nutriente que sustenta a vida.
David Biello.

Locais onde ocorrem transformações no nitrogênio essenciais para a vida na Terra são finalmente descobertos De todos os ciclos dos elementos da Terra, o do nitrogênio deve ser o mais complexo e custoso.

Afinal, é preciso muita energia para converter as moléculas de nitrogênio gasoso que formam quase 80% da atmosfera - compostas por dois átomos desse elemento - em compostos utilizáveis (o mais freqüente é o nitrato, formado por um átomo de nitrogênio ligado a três de oxigênio).

As bactérias conhecidas em termos gerais como diazotróficas podem realizar essa façanha com a ajuda de uma enzima especial e um suprimento de ferro (na indústria, utiliza-se alta temperatura e pressão). A fixação do nitrogênio - como o processo é conhecido - impõe um limite ao crescimento das plantas.

Além disso, seus produtos são nutrientes essenciais para todas as formas de vida (ou seja, a maioria delas não os produz e tem de obtê-los através da alimentação). Apesar disso, esse ciclo crucial permanece pouco compreendido.

"Não sabemos o que acontece na realidade", diz o biogeoquímico Curtis Deutsch, da Universidade de Washington, em Seattle. "Na verdade, desconhecemos quais fatores ambientais governam a velocidade ou a distribuição do processo".

Deutsch e seus colegas tentam reparar isso estudando a fixação do nitrogênio nos oceanos. Com esse objetivo, eles usaram modelos de circulação global mostrando como as águas do oceano se misturam, assim como sinais químicos na água que revelam onde é provável que esteja ocorrendo a fixação do nitrogênio, de acordo com o artigo deles na Nature de 11 de janeiro.

Ao mesmo tempo em que as bactérias diazotróficas fixam nitrogênio, outros microorganismos mais antigos atuam em áreas de baixa oxigenação, tais como sedimentos ou zonas mortas, para transformar o nitrogênio de volta no gás inerte que forma a maior parte de nossa atmosfera.

Especificamente, os processos opostos de fixação e denitrificação influenciam a proporção global entre nitrato e fosfato (outro nutriente) na água.
Onde o nitrato é produzido por fixação, a proporção sobe acima do normal à medida que as bactérias diazotróficas consomem fosfato e liberam nitrato, enquanto a denitrificação remove o nitrato sem causar impacto nos níveis de fosfato - portanto, reduzindo sua proporção.

Os cientistas determinaram que as áreas de fixação do nitrogênio ficam perto das zonas nas quais o oxigênio se encontra em seu mínimo e a denitrificação pode ocorrer; eles chegaram a essa conclusão ao cruzar medições dos níveis de nitrato e fosfato ao redor dos oceanos do planeta (coletadas por cientistas ao longo de décadas) com um modelo das correntes oceânicas.

"Uma análise das observações dos nutrientes com um modelo da circulação dos oceanos foi usada para inferir que a fixação era a responsável pela mudança nos nutrientes ao longo das vias de circulação oceânica", observa o geoquímico Jorge Sarmiento, da Universidade de Princeton.
Essa evidência vai contra estudos anteriores do próprio Sarmiento, que argumentava que a fixação de nitrogênio ocorria predominantemente no Atlântico Norte, em razão da poeira rica em ferro dos continentes daquela parte do globo.

Mas ela ganha respaldo de outros estudos, como um mapa de satélite mostrando a multiplicação de um microorganismo que fixa nitrogênio - a cianobactéria Trichodesmium - e pesquisas envolvendo diversos isótopos de nitrogênio no nitrato e culturas de laboratório de bactérias fixadoras de nitrogênio que mostram que os minúsculos organismos fazem seu trabalho mesmo quando cercados por concentrações relativamente altas de nitratos.

Uma peça-chave de evidência, entretanto, permanece ausente: medições reais de fixação que ocorrem nesses pontos do Oceano Pacífico. "A comunidade científica aceitará isso com muito mais facilidade se houver evidência biológica real, se alguém medir diretamente", observa Angela Knapp, geoquímica marinha da Universidade do Sul da Califórnia.

Uma peça-chave de evidência, entretanto, permanece ausente: medições reais de fixação que ocorrem nesses pontos do Oceano Pacífico. "A comunidade científica aceitará isso com muito mais facilidade se houver evidência biológica real, se alguém medir diretamente", observa Angela Knapp, geoquímica marinha da Universidade do Sul da Califórnia.

Além disso, ainda não se sabe onde as bactérias que fixam nitrogênio no Pacífico obteriam o ferro necessário. "O suprimento de ferro proveniente de baixo (das águas ricas em nutrientes) combinado com qualquer que seja a quantidade de ferro fornecida pela poeira através da atmosfera parece ser adequado", afirma Sarmiento.

Os locais exatos onde ocorre um ciclo fundamental podem ter sido encontrados, mas com eles surgiram inúmeros outros mistérios.

Pesquisadores usam erupção vulcânica como laboratório climático.


Pesquisadores usam erupção vulcânica como laboratório climático.
David Biello

Vestígios da erupção do monte Pinatubo, em 1991, ainda estão nos céus. Eles ajudam a decifrar o funcionamento do clima global.

O clima da Terra - componente crítico da regulação de calor do planeta - não pode ser reproduzido em laboratório. Para entender como ele funciona, portanto, os cientistas precisam confiar em "experimentos naturais", ou eventos naturais que podem ser usados como fontes de dados para pesquisa.

Alguns desses eventos tomam forma apocalíptica, como a erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, em junho de 1991, que lançou 10 km³ de cinzas, gases e outros materiais a grande altitude. Ao pesquisar como essa erupção afetou o clima global - e determinar como rastrear suas marcas em outras formas de registro - os cientistas transformaram a catástrofe em instrumento para ampliar o conhecimento.

"O grande problema com o clima - e tentar estudá-lo - é que não se pode brincar com ele no laboratório", diz Joanna Futyan, climatologista da Universidade Columbia. "Tentamos usar esse evento abrupto como experimento natural: aconteceu algo extraordinário e pode-se observar como a atmosfera responde a isso".

Futyan e o físico John Harries, do Imperial College de Londres, analisaram como a umidade atmosférica, a temperatura e a energia radiante do planeta - diferença entre a energia do sol absorvida pela Terra e a irradiada de volta para o espaço - responderam à erupção.

O espectro dessa energia enviada de volta para o espaço a partir da superfície (medido via satélite) mudou nos últimos 30 anos como resultado do aquecimento global, mas a velocidade e a magnitude dessa mudança permanecem difíceis de ser medidas e se baseiam numa série de processos atmosféricos, como a quantidade de vapor d´água.

A resposta da atmosfera à erupção do Pinatubo revela que esse sistema reage rapidamente. Os aerossóis de sulfato expelidos pelo vulcão, que bloqueiam a luz solar, resfriaram o planeta em quatro meses. Em seis meses, o planeta irradiou 2,6 watts /m² menos calor para o espaço do que antes da erupção.

Como resultado, a umidade caiu, mas de forma lenta, e no fim de 1992 o clima atingiu mais uma vez o equilíbrio, escreveram os pesquisadores na Geophysical Research Letters de 2 de janeiro. "Pelas observações do Pinatubo, o fluxo líquido [de energia] voltou ao equilíbrio rapidamente", diz Futyan. O Pinatubo também deixou sua marca nas condições do tempo.
Quando o vulcão entrou em erupção, ele enviou dióxido de enxofre para a atmosfera. Um certo comprimento de onda de luz ultravioleta transformou parte dos átomos de enxofre nessas moléculas num em um isótopo mais leve - a assinatura química de erupções estratosféricas como essa.

Ao cair de volta na superfície, o sulfato contendo essa proporção entre isótopos peculiar depositou-se em áreas desertas, como a camada de neve da Antártida. O químico Mark Thiemens, da Universidade da Califórnia em San Diego, e sua equipe escavaram 30 toneladas de neve em busca de um registro isotópico como esse, que já foi observado em camadas geológicas antigas da Terra.

Tanto o Pinatubo como seu predecessor - o Monte Agung, que entrou em erupção em 1963 - deixaram traços desse tipo na neve, enquanto erupções de menor altitude geraram marcas diferentes, revelam Thiemens e sua equipe na revista Science de 5 de janeiro.

A compreensão da química resultante de vários tipos de erupção tornará possível extrapolar o registro vulcânico e sua influência sobre o clima para tempos passados.
Os efeitos de erupções catastróficas como a do Pinatubo podem ser transitórios, mas fornecem uma imagem de como o clima pode responder a outros constrangimentos, como as emissões humanas dos gases do efeito estufa.

Eles também ajudam a avaliar como esse complexo sistema pode reagir a tentativas humanas de reparar conseqüências catastróficas de uma mudança climática como essa - como injetar aerossóis de sulfato nos céus, como proposto pelo químico e Prêmio Nobel Paul Crutzen. "É uma maneira quantitativa de ver quão sensível a estratosfera é às perturbações", observa Thiemens. "A natureza faz alguns dos experimentos para você."