Por JR Minkel
Um escurecimento da superfície de Marte pode ter causado um gradual aquecimento nos últimos 20 anos. Com base num modelo do clima do planeta, pesquisadores relataram que o brilho ou escuridão de seu terreno influenciam fortemente sua temperatura atmosférica. Eles concluíram que o calor absorvido por rochas escuras aumenta a velocidade dos ventos, que por sua vez removem a areia e poeira, que são claras.
Com isso, o terreno fica ainda mais escuro e o processo é realimentado. Mas o aquecimento previsto teoricamente é difícil de confirmar, dizem os pesquisadores. Ele está sujeito a mudanças que dependem do movimento da areia.Fotografias obtidas nas últimas três décadas mostram que vastas regiões de Marte se tornaram mais claras ou mais escuras em 10% ou mais. No total, isso fez com que o planeta refletisse cerca de 20% da luz solar.
Para determinar se mudanças no albedo (a porcentagem da luz solar refletida pelo planeta) afetam o clima, fotos obtidas pelas naves Viking, tiradas entre 1976 e 1978, foram comparadas com imagens da Mars Global Surveyor obtidas em 1999 e 2000.Dados sobre o albedo marciano foram incorporados a um modelo computadorizado do clima do planeta, que simulava mudanças na temperatura e na direção dos ventos ao longo de um ano.
No modelo, as áreas que se tornaram mais escuras aqueceram o ar sobre elas, levando à formação de pequenos redemoinhos que varriam partículas escuras do solo, segundo Lori Fenton, membro do grupo que realizou a simulação, no Centro Carl Sagan, Califórnia.
As regiões menos reflexivas também apresentaram ventos mais fortes, pois o ar quente se dirige às regiões mais frias, causando turbulência.A diferença de albedo entre os dois períodos gerou um aquecimanto de 0,65ºC, de acordo com Fenton e colaboradores, que publicaram seus resultados nesta semana na revista Nature.
Uma lenta elevação da temperatura no pólo sul marciano durante os verões pode ser a causa da diminuição de tamanho da calota polar nos últimos 4 anos, observam os cientistas. O processo de aquecimento, diz Fenton, estaria na verdade diminuindo, pois as maiores tempestades de poeira, que varreram todo o planeta, aconteceram nos anos 70.Documentar esta tendência, entretanto, é um desafio.
A temperatura da atmosfera marciana varia muito de ano para ano, o que impede a identificação de um aquecimento gradual. “É impossível detectar o aquecimento entre tantos outros processos que acontecem, como tempestades de poeira gigantes. Os dados não provam que estamos errados, mas são limitados demais para provar que estamos certos”, diz Fenton.
Porém, os resultados demonstram que mudanças de albedo realmente acontecem e que elas influenciam fortemente o clima marciano, diz Tim Michaels, cientista que elabora modelos atmosféricos no Instituto de Pesquisa Southwest, Colorado. “Acredito que no geral [a mudança de albedo] aqueceu a atmosfera”, afirma. Mas ao contrário do aquecimento global que acontece na Terra, o de Marte depende inteiramente do padrão de circulação de poeira – que pode mudar, nota. “Se uma tempestade de poeira forte acontecer amanhã, ela pode alterar tudo”.
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/superficie_mais_escura_de_marte_pode_provocar_aquecimento_global.html