O professor e astrônomo Luiz Augusto Leitão da Silva é docente na área de Exatas e Tecnológicas da Unisinos. É bacharel e mestre em Física pela UFRGS com ênfase em Astrofísica. Leitão é fundador e coordenador das oficinas de astronomia, do curso de Licenciatura em Física da Unisinos e divulgador científico por meio de jornais, rádio, TV e Internet. È o coordenador e fundador do Curso Vida Extraterrestre II: Ufologia, Ciência ou Pseudociência?, que acontece de 16 de março de 2006 a 27 de julho de 2006, na Unisinos.
Por e-mail Luiz Augusto falou à IHU On-Line que, apesar de casos como o “Roswell, da possível queda de um disco voador nos Estados Unidos, cuja tripulação haveria sido capturada pelos militares” e do “casal Betty e Barney Hill, “seqüestrados” por uma nave alienígena no início dos anos 1960”, não há nenhuma ocorrência inerente à casuística ufológica conseguiu trazer à lume uma evidência inegável da presença de alienígenas na Terra”. Confira essas e diversas outras informações na entrevista que segue.
1- IHU On-Line - É possível estudar cientificamente a ufologia? Como e a partir de quando a vida extraterrestre se transformou em tema de abordagem científica?
Luiz Augusto Silva - Sem dúvida pode-se proceder a uma abordagem científica das questões pertencentes ao domínio da ufologia. Talvez o ápice científico da ufologia tenha acontecido em meados dos anos 1960, quando a Universidade do Colorado recebeu generosas verbas governamentais para efetuar uma extensa pesquisa conduzida por cientistas civis, sem qualquer envolvimento de militares. Mas o que transparece desta abordagem é que a mania moderna de ver discos voadores e ETs desembarcando aqui na Terra é um fenômeno muito mais humano do que autenticamente extraterrestre, refletindo medos, angústias e esperanças de uma sociedade humana vulnerável às crises que ela mesma cria.
Isso fica especialmente claro quando se estudam as primeiras grandes ondas de aparições de discos voadores, principalmente do pós-guerra, em que fica evidente uma paranóia coletiva insuflada pela guerra fria entre o sistema capitalista e “os vermelhos”. Entretanto, há que se separar ufologia do estudo científico da possibilidade de existência de vida fora da Terra. Tal disciplina chama-se bioastronomia, ou ainda astrobiologia, e se trata de campo de investigação que começou a se consolidar nos últimos 50 anos. Aliás, diga-se de passagem, a Unisinos foi a primeira universidade brasileira a criar a disciplina optativa de graduação Introdução à Bioastronomia, que ocorre no segundo semestre de cada ano, e que mostra como se conduz uma autêntica pesquisa científica a respeito do problema da vida extraterrestre. Alunos de qualquer curso da Universidade podem requerer matrícula nesta cadeira, que não possui pré-requisitos.
2- IHU On-Line- Qual é o limite entre uma abordagem científica e outras abordagens do tema?
Luiz Augusto Silva - O limite é imposto pela própria metodologia de investigação científica. Quando passamos do concreto e do objetivo para visões místicas ou que envolvem experiências puramente pessoais, introspectivas e subjetivas (como, por exemplo, um “iniciado” que alega manter contatos exclusivos com seres alienígenas que não aparecem para mais ninguém), a ciência pára. Entramos, então, nos domínios da pseudociência, que é onde parece se situar atualmente a ufologia.
3- IHU On-Line - A que conclusões a ciência chegou com o estudo da vida em outros planetas?
Luiz Augusto Silva - Rigorosamente falando, só temos conhecimento da existência de vida aqui na Terra. Bem, pelo menos até o instante em que estas linhas estavam sendo escritas... É claro, a qualquer momento poderão surgir as evidências de vida extraterrestre que tanto aguardamos. Ignoramos solenemente os pormenores da provável história da vida em nossa galáxia, assim como as de outras galáxias.
Entretanto, alguns limites já podem ser estabelecidos, permitindo isolar cenários prováveis, mas ainda não provados. Por exemplo: é consenso muito grande entre astrônomos e biólogos que provavelmente existam formas de vida elementares em muitos outros planetas, talvez até mesmo em outros lugares do próprio sistema solar, como na lua Europa de Júpiter, e talvez em Marte.
Com relação à outra extremidade do espectro da vida, ou seja, as formas bastante complexas (genericamente referidas como metazoárias), as opiniões se dividem. Ainda não está claro se o aparecimento da inteligência é uma vantagem, do ponto de vista evolutivo. Assim, há os que apostam que, apesar do tamanho imenso do universo, talvez estejamos praticamente sozinhos.
Outros, mais otimistas, sustentam que poderia haver, neste preciso momento, milhões de civilizações avançadas só em nossa galáxia, sem falar nas demais. Pessoalmente, compartilho da opinião segundo a qual provavelmente existem pouquíssimas civilizações na Via Láctea. Pode bem ser que, hoje, nós sejamos os únicos seres inteligentes autoconscientes, residindo em nosso sistema estelar doméstico. Mas ciência não é questão de acreditar ou não acreditar. É preciso provar e demonstrar. Daí a evidente necessidade de continuidade das pesquisas.
4- IHU On-Line - Quais são as evidências, do ponto de vista arqueológico?
Luiz Augusto Silva - Até o momento, nenhuma, apesar do clamor de autores visivelmente desonestos, que, no afã de enriquecerem vendendo livros de qualidade duvidosa, defendem, por exemplo, que as grandes pirâmides do Egito foram construídas com a ajuda de tecnologia alienígena avançada. O grande expoente nesta escola é o autor suíço Erich von Däniken[1], que já foi publicamente desmascarado há muitos anos, o que não o impediu de ficar rico, e de ainda vender seus livros hoje...
Erich von Däniken (1935): escritor suíço, mais conhecido por seus trabalhos sobre a influência extra-terrestre na cultura humana desde os tempos pré-históricos. Escreveu o livro Eram os deuses astronautas? 48 ed. São Paulo: Melhoramentos, 2001, originalmente lançado em 1968, no qual especula sobre a possibilidade das antigas civilizações terrestres serem resultados de alienígenas que para cá teriam se deslocado. Von Däniken apresentou como provas as confusas coincidências entre as colossais pirâmides egípcias e incas, as quilométricas linhas de Nazca, os misteriosos moais da Ilha da Páscoa, entre outras maravilhas do planeta. Ele também cria uma certa teoria de cruzamentos entre os extra-terrestres e espécies primatas, gerando a raça humana. Dizia o autor também que esses extra-terrestres eram considerados divindades pelos antigos povos: daí vem a explicação do título do livro. Por seu incrível poder de persuasão, unido à época lançada, um ano antes do homem ir à Lua, von Däniken conseguiu vender milhares de livros e convencer muitos leitores. Aos poucos, os cientistas foram desvendando os segredos do livro e suas teorias acabaram sendo demolidas pela realidade. Maiores informações a respeito do autor no sítio www.daniken.com. (Nota da IHU On-Line)
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