sexta-feira, 13 de abril de 2007

Rumo a uma comunidade galáctica?


Entrevista com David Grinspoon

Para o curador de astrobiologia do Departamento de Ciências Espaciais no Museu da Natureza e Ciência de Denver, no Colorado, EUA, e consultor da Nasa para estratégias espaciais, o astrônomo David Grinspoon, é bem provável que existam espécies mais inteligentes do que nós. Grinspoon é cientista planetário do Southwest Research Institute, em Boulder, Colorado (EUA). Em seu livro, Planetas Solitários - A Filosofia Natural da Vida Alienígena. São Paulo: Globo, 2005, Grinspoon recapitula a História da humanidade na busca pelos "irmãos de outros planetas". O cientista concedeu a entrevista a seguir a IHU On-Line, por e-mail.

1- IHU On-Line - Quando e como a vida extraterrestre se transformou em objeto de pesquisa científica?

David Grinspoon - A questão tem interessado aos cientistas desde quando há cientistas. Mas, claro, as coisas mudaram quando percebemos, 400 anos atrás, que os planetas, as outras luzes em movimento no céu, eram realmente outros mundos. Então pudemos começar a imaginar como eram aqueles mundos e se eles poderiam ter criaturas vivas. Enquanto aos poucos ganhávamos mais informações a respeito daqueles mundos, pelos telescópios, pensamentos sobre uma possível vida em outra parte tornaram-se mais sofisticados. Isso também ajudou a focar nosso estudo sobre a vida na Terra. O que realmente é incomum a respeito da Terra, como planeta, é onde mais encontrar as qualidades que permitem a existência de vida. As coisas mudaram de novo quando, no início dos anos 1960, começamos a mandar espaçonaves para outros planetas e a ver seu ambiente mais detalhadamente. Então a exobiologia[1] realmente nasceu como ciência associada à exploração de planetas, mas também com o estudo da origem e evolução da vida na Terra.


Também nos anos 1960 percebemos que podíamos procurar por sinais de outras civilizações com rádio-telescópios, e a primeira SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) começou. Finalmente, nos últimos anos, o campo foi renomeado “astrobiologia” enquanto recebeu nova energia de descobertas muito importantes que encorajaram pensamentos a respeito da vida extraterrestre.

Descobrimos que existem outros oceanos de água líquida em nosso sistema solar debaixo de superfícies lunares congeladas em torno de Júpiter e Saturno. Esses são lugares que devem ter vida. Aprendemos que Marte e Vênus tiveram oceanos no passado. Achamos que a vida na Terra pode sobreviver em uma inacreditavelmente larga gama de condições. Então a vida pode existir em mais lugares no universo que já tenhamos imaginado. E aprendemos que muitas, muitas estrelas, até mesmo a maioria delas, têm planetas em suas órbitas. Então há muitos lugares em nosso universo que podem estar habitados.

2- IHU On-Line - Como caracterizaria o conhecimento científico existente sobre ufologia?

David Grinspoon - Os cientistas têm boas razões para acreditar que existam outras civilizações fora daqui, apenas pelo argumento estatístico acerca de quantas estrelas e planetas existem lá fora, e sobre o quão velho o universo é. Mesmo que a vida inteligente seja um fenômeno raro, muito improvável em cada planeta individualmente, ainda assim há tempo e espaço suficientes de modo que em algum lugar “eles” estão lá fora. E em algum lugar, eles aprenderam a viajar pelas estrelas. É um argumento muito lógico, mas não temos prova alguma.

Há alguns relatórios intrigantes acerca de diversos fenômenos celestiais, que algumas pessoas interpretaram como evidências para visitantes de outros planetas. Esses relatórios são geralmente rejeitados pela principal corrente científica, pois são cômicos, necessitam de confiança em uma testemunha ocular, e não há evidência clara de que possa ser colocada em um laboratório e estudada, ou observações que foram repetidas e não têm nenhuma outra explicação.

Não ainda, pelo menos! É fácil ver como as pessoas podem enganar-se acreditando no que elas querem crer, vendo aquilo que querem ver. Mas isso funciona dos dois jeitos, e às vezes eu me preocupo com o fato de a ciência não estar preparada para aceitar tal evidência.

3- IHU On-Line - Que conseqüências sociológicas e filosóficas traria o fato de sabermos que não somos o "centro" do universo?


David Grinspoon - Mesmo com os argumentos estatísticos que eu mencionei acima, sugerindo que nós provavelmente não estejamos sozinhos, não temos prova alguma desse fato. É possível ainda que haja algo extremamente incomum a respeito da Terra e sua história evolutiva.

Mas isso seria bem diferente de saber, de ter sólidas evidências de que realmente não estamos sozinhos. Essa poderia ser uma descoberta fundamental a respeito de nossa relação com o resto do Universo, sobre o que significa estar vivo. O Universo está cheio de outras entidades que são realmente, no sentido cósmico, nossos irmãos? Eu acho que sim, mas ainda não sabemos. Nós somos muito jovens ainda.

Temos telescópios há apenas 400 anos, radio- telescópios e espaçonaves há menos de 50 anos, em um universo que tem bilhões de anos de idade. É hora de conhecer a vizinhança. Eles terão algumas das mesmas questões profundas que nós a respeito da vida. Talvez eles tenham algumas das respostas.

4- IHU On-Line- Recentemente saíram declarações suas nos jornais defendendo a possibilidade de haver vida em Titã? Como o senhor justifica essa afirmação?

David Grinspoon-
Recentemente aprendemos muito sobre a estranha lua de Saturno, Titã, graças à espaçonave Cassini. Titã é um lugar com líquido fluido, chuva e evaporação. Não um ciclo da água, mas um ciclo do metano similar ao ciclo da água da Terra. No meu ponto de vista, esse ciclo energético, com corpos de líquido, é um atributo que faz um planeta ser promissor para a vida. Titã também é cheia de moléculas orgânicas. E nós somos basicamente moléculas orgânicas dissolvidas em água líquida.

É muito frio lá, mas existem vulcões, e provavelmente, portanto, lençóis de líquido quente. E, finalmente, parece que há fontes químicas de energia lá, em outras palavras – alimento para possíveis vidas. Ainda não sabemos o suficiente para confirmar ou rejeitar a idéia de que há vida em Titã hoje. Há algumas qualidades promissoras, e eu acho que vale a pena manter a mente aberta.

A exobiologia é um campo interdisciplinar que combina aspectos da astronomia, da biologia e geologia, e que considera a origem da vida na Terra e em outros lugares. (N. da T., fonte:
www.wikipedia.org). No português, ficaria como BIET (Busca por Inteligência Extraterrestre). Para quem compreende inglês, há um site sobre o projeto: <http://setiathome.berkeley.edu>. (N. da T.). Cassini: A sonda Cassini-Huygens é um projeto colaborativo entre a ESA (agência européia da qual Portugal faz parte) e a NASA para estudar Saturno e as suas luas através de uma missão espacial não tripulada. A nave espacial consiste de dois elementos principais: a Cassini orbiter e a sonda Huygens. Foi lançada a 15 de outubro de 1997 e entrou na órbita de Saturno em de julho de 2004. É a primeira sonda a orbitar Saturno. (Nota da IHU On-Line)
continua

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