quinta-feira, 15 de novembro de 2007

ALERTA AOS ALIENÍGENAS

Estamos vivendo uma época em que ser vocacionado, conservador, íntegro e responsável. Os que encontram no trabalho honrado, o caminho para suas realizações profissionais e humanas, são considerados perante alguns como seres retrógrados e indesejáveis, cujas virtudes são tidas como um crime imperdoável!

Infelizmente, alguns se entregam à sôfrega e insaciável sede de poder, vendendo sua dignidade e anestesiando suas consciências, fazendo das badalações, e das corrupções, trampolins para galgarem postos, e da infelicidade alheia meio de se enriquecerem.

Sem dúvida alguma, grande parte da humanidade está se deteriorando moral e espiritualmente. O ser humano está cada vez mais animalesco e cruéis, em cujos crimes demonstram ferocidade, os quais estão aumentando dia a dia, e cada vez mais brutais, de forma que nenhum governante terá condições de contê-los, cuja única arma para combatê-los será primeiramente a sua automoralização, e depois o rigor das Leis, o respeito às normas legais, com punições exemplares e severas aos infratores, não importando a idade, o sexo e as posições sociais.

As religiões por sua vez estão desvirtuando seus fins, se locupletando com a ignorância, o fanatismo e a desgraça alheia, cujos fieis na sua grande maioria são sugestionáveis e infelizes, que por esta razão agarram-se a estas religiões, como as únicas tábuas da salvação, e são sempre enganados pelos falsos profetas.

Outros são vítimas das prepotências, das arbitrariedades, do egocentrismo e das maldades próprias dos déspotas e traidores, que infelizmente atingem o poder, enganando a fé pública e o povo, pisando e esmagando os seus semelhantes, em face aos desvios de caráter, e suas ganâncias desenfreadas, seus recalques e frustrações; com os condimentos da falsidade, da invencionice , das detrações, das mentiras e das corrupções, que volatilizadas no ar, depois de tramadas, sussurradas, cochichadas, e acobertadas pelas altas cúpulas, em face aos interesses escusos, principalmente os interesses políticos.

E pelo fato destas práticas fazerem parte de um “Sistema”, seus atos se tornam impalpáveis como os germes das grandes epidemias. Lamentavelmente, o homem que quiser sobreviver com menos percalços, discriminações, perseguições e sofrimentos, neste mundo das formas, mesmo contra a sua formação moral, terá de dançar de acordo com a sintonia da batuta corrupta do maestro, no ritmo da hipocrisia, da incompetência, da corrupção e da falsidade, que nos atingem como um punhal, com a crueldade dos aleives.

Sem dúvida alguma, a exemplo de outras civilizações que sucumbiram, estamos nas últimas páginas da história deste “Planeta dos Homens Maus”. Mas, para nos conformarmos, servindo-nos de bálsamo, o vosso irmão, Jesus, também foi considerado em seu tempo como um perturbador da ordem pública, uma ameaça para os senhores donos absolutos da verdade, numa época em que o povo o aclamava e o campo estava inculto.

Era ousado demais... Chegava a ser insulto aos Césares, ao Clero, e aos poderosos, que tinham medo de serem desmoralizados, de perderem seus poderes políticos com a conscientização daquele povo liderado pelo seu mestre e profeta, que muito embora não fosse deste mundo, preocupava-se com as injustiças do seu tempo, aclamando que todos que o céu cobria eram irmãos eram iguais... Que não havia superiores, nem grandes, nem pequenos, servos ou senhores, e por isso, foi traído pelo seu irmão de sangue chamado Judas.

Ele julgado pelos seus próprios discípulos, e sentenciado por Poncio Pilatos a morrer na cruz, pelas mãos dos romanos. E para que não mais haja outros Ieshus condenados a morrerem na cruz, pedimos a intervenção urgente por parte de vocês, Seres Alienígenas e que podemos chamar de “Irmãos do Espaço”, para elaborarem e aplicarem a verdadeira Justiça, acabando de vez, com a corrupção e a impunidade que assola os governantes, os políticos, na sua grande maioria corruptos e os poderosos, os quais são exemplos e estímulos para todos os criminosos comuns, que estão a cada minuto mais violento, atacando com ferocidade novas vítimas, dentre outras práticas nocivas; seqüestrando, estuprando e matando inocentes.
Eles estão acabando com a paz social, protegidos pelos resquícios da impunidade, da insensibilidade e omissão dos governantes e parlamentares e até da própria Justiça.

Dr. JOSÉ GUILHERME RAIMUNDO
Professor de Direito Penal e Processo Penal na Universidade Bandeirantes de São Paulo. Doutor em Psicologia, pela Universidade Metropolitana de São Paulo

(Escrevi este artigo, o qual publicado no Jornal O Estado de São Paulo, quarta-feira, dia quatro de outubro de
1994, num desabafo, ao constatar tantas corrupções políticas e administrativas em nosso País.
Com insensibilidade e impunidade por parte das Leis, morosidade da Justiça, e covardia dos políticos e governantes). Escrevi este artigo naquela época, sendo fácil imaginar o que está ocorrendo hoje.

Falsas Memórias: Por que lembramos de coisas que não aconteceram?

Lilian Milnitsky Stein
Carmem Beatriz Neufeld


Apresentaremos, inicialmente, uma revisão histórica sobre o estudo das falsas memórias. A seguir, discutiremos a taxinomia das falsas memórias, bem como, o modo como elas vem sendo estudadas. Serão abordados alguns dos modelos teóricos explicativos sobre as falsas memórias, suas principais contribuições e limitações.

Apresentaremos também algumas das manipulações experimentais freqüentemente encontradas nos estudos sobre falsas memórias, e suas implicações práticas nas áreas da Psicologia Jurídica e Clínica.

Ao longo deste século, os pesquisadores têm se interessado cada vez mais pelos estudos sobre a falsificação da memória, ou seja, o fato de lembrarmos de eventos que na realidade não ocorreram, e de como se dá esse processo de falsificação.

Motivados por suas implicações legais e clínicas, os estudos sobre as falsas memórias tem proliferado, especialmente na última década, tendo como base os aportes da Psicologia Experimental Cognitiva.
Questões relacionadas a habilidade das pessoas de relatarem fidedignamente os fatos testemunhados, tanto como vítimas de abuso físico ou sexual, quanto como testemunhas oculares de contravenções em geral, têm incentivado os estudos científicos na área das falsas memórias.

De acordo com ROEDIGER
(1996), os primeiros experimentos demonstrando a ilusão ou falsificação da memória em crianças foram os de BINET em 1900, na França, e os de STERN em 1910, na Alemanha. O primeiro autor a pesquisar a falsificação da memória em adultos foi BARTLETT (1932).

Bartlett ressaltou a importância das expectativas individuais para o entendimento e a recordação dos fatos. No seu clássico experimento, Bartlett apresentou a sujeitos ingleses uma lenda do folclore dos índios norte-americanos, onde muitos dos fatos, bem como sua seqüência, eram estranhos à lógica ocidental.

Ao solicitar aos sujeitos que recordassem a lenda, Bartlett constatou que os mesmos reconstruíam a estória, com base em suas expectativas e suposições ocidentais, ao invés de lembrá-la literalmente como havia sido apresentada. Era como se a memória dos sujeitos para a estória realmente apresentada tivesse sido internamente distorcida.

Outro trabalho pioneiro sobre falsas memórias em adultos foi realizado por Elizabeth Loftus e seus colaboradores. LOFTUS e PALMER
(1974)
introduziram um novo paradigma para o estudo dos processos de falsificação da memória, o chamado paradigma da falsa informação ou sugestão.

Num típico experimento com o paradigma da falsa informação, uma cena original era apresentada aos sujeitos, apresentando, por exemplo, um acidente de carro devido ao avanço inapropriado de um dos motoristas na placa de "dê a preferência".
Numa segunda etapa, o experimentador sugeria, para metade do grupo de participantes do experimento, alterações quanto ao que havia sido visto na cena original (por exemplo: ao invés da placa de "dê a preferência", era sugerido que a placa era de "pare").

Num terceiro momento, quando a memória para a cena original era testada, a grande maioria dos sujeitos que havia sofrido a sugestão da informação falsa, respondiam de acordo com ela, ou seja, afirmavam terem visto a placa de “pare”, apesar de terem sido instruídos a responderem com base somente na cena original, apresentada anteriormente na seqüência de slides.

Hoje em dia, não há mais dúvidas quanto a existência deste fenômeno denominado de falsas memórias (SCHACTER,
1999
). A dificuldade está em explicar, com uma sólida base teórica, porque e como ele ocorre na mente humana. A primeira tentativa de explicar as falsas memórias foi do Construtivismo, representado por Bartlett e Loftus.

Outra teoria que também tem buscado explicar o fenômeno das falsas memórias foi proposta por Marcia Johnson e seus colegas (JOHNSON e RAYE,
1981).
Seu trabalho centrou-se em como os sujeitos distinguiam a origem da informação na qual a memória se baseava, seja de fonte externa (eventos realmente vividos) ou fonte interna onde as informações seriam derivadas internamente (eventos imaginados ou produzidos).

Sua teoria foi denominada de Teoria do Monitoramento da Fonte da Informação (JOHNSON, HASHTROUDI e LINDSAY,
1993). A teoria do Traço Difuso (REYNA e BRAINERD, 1995) também propõe uma explicação para o fenômeno da falsificação da memória, sendo este o referencial teórico que atualmente, segundo BJORKLUND (1995),
tem melhor dado conta de explicar o fenômeno das falsas memórias.

Continua
A TAXINOMIA E O ESTUDO DAS FALSAS MEMÓRIAS
O fenômeno das falsas memórias pode originar-se de duas formas: de forma espontânea ou via implantação externa através de sugestão. As falsas memórias espontâneas são aquelas onde a distorção da memória se dá de maneira interna ou endógena ao sujeito, através da auto-sugestão.

Segundo BRAINERD e REYNA
(1995
), a auto-sugestão acontece quando o indivíduo lembra tão somente do significado, da essência do fato ocorrido, ou seja, o indivíduo recupera a memória da essência sobre o fato vivido, uma vez que a memória literal do que ocorreu não está mais acessível devido, por exemplo, a interferência pelo processamento de novas informações.

Assim, quando o sujeito deve decidir se viu uma determinada informação, ele compara a memória da essência do evento vivenciado com esta informação, e julga lembrar da segunda informação devido a similaridade de significado desta com o evento realmente vivido (por exemplo, você viu uma saia vermelha em uma vitrine, depois de algum tempo passa a se lembrar que viu um vestido, devido a similaridade da essência dos dois eventos).

Já as falsas memórias sugeridas surgem a partir da implantação externa ou exógena ao sujeito, através de sugestão deliberada ou acidental de informação falsa. O efeito da sugestibilidade na memória pode ser definido como uma aceitação, e subseqüente incorporação na memória original, de informação posterior ao evento ocorrido (GUDJONSON,
1986
).

Essa definição implica alguns pressupostos quanto a sugestão: a não consciência do processo, bem como ser resultado de informação apresentada posterior ao evento em questão. Cabe ressaltar que tanto as falsas memórias espontâneas quanto as sugeridas são fenômenos de base mnemônica, lembranças, e não de base social, como uma mentira ou simulação por pressão social.

Nos estudos sobre falsas memórias espontâneas são utilizados basicamente três procedimentos: primeiro os sujeitos (adultos ou crianças) são expostos a algum material alvo a ser memorizado (listas de palavras, figuras, sentenças, frases formando narrativas, eventos reais ou filmados).

Logo após é introduzida uma atividade de distração de qualquer tipo, com objetivo de desviar a atenção do sujeito do material alvo. E no terceiro procedimento, os sujeitos respondem ao teste de memória (BRAINERD, REYNA e POOLE, no prelo).

Já nos estudos sobre falsas memórias sugeridas, é utilizado o paradigma clássico de interferência adaptado por Loftus (
1979). Inicialmente é apresentado um evento alvo ao sujeito. Após a atividade de distração, é apresentada uma sugestão de falsa informação, geralmente inserida em uma entrevista ou narrativa. Finalmente, a memória para o evento alvo é testada (Stein, 1999
).

Nos estudos sobre falsas memórias, os testes, aos quais adultos e crianças são submetidos para avaliar sua memória, podem ser de recordação (BAKER-WARD, GORDON, ORNSTEIN, LARUS e CLUBB,
1993; HOWE, 1991) ou, mais comumente para as crianças, de reconhecimento (CECI e BRUCK, 1993
).

Os testes de reconhecimento são compostos por alvos (itens estudados no material alvo) e distratores. Os distratores podem ser de dois tipos:
a) um item novo relacionado, que pode ser semanticamente relacionado com o alvo (se CACHOEIRA fosse um alvo, CASCATA seria um distrator relacionado), ou acusticamente semelhante (se CACHOEIRA fosse um alvo, FILEIRA seria um distrator relacionado);

b) um distrator não relacionado semântica ou acusticamente com o alvo (PLANTAÇÃO seria um distrator não-relacionado, se CACHOEIRA fosse o alvo) (STEIN,
1999).

Quando um alvo é apresentado como um item do teste de reconhecimento, e a pessoa o reconhece corretamente como tendo sido apresentado anteriormente no material estudado, considera-se esta uma resposta verdadeira. Porém, quando um distrator é incorretamente aceito num teste de reconhecimento, considera-se esta uma resposta falsa.

Os estudos sobre as falsas memórias espontâneas geralmente produzem os seguintes resultados nos testes de reconhecimento: alvos são mais aceitos do que distratores; distratores semanticamente relacionados são mais aceitos do que outros distratores não relacionados (BRAINERD e MOJARDIN,
1998;
BRAINERD e REYNA, 1996; REYNA e KIERNAN, 1994).

Este é o efeito do reconhecimento falso ou alarme falso, em que, apesar dos sujeitos não terem sofrido sugestão de informação falsa, eles reconhecem falsamente itens não apresentados no material alvo como tendo sido apresentados.
Nas pesquisas sobre as falsas memórias sugeridas, dois achados são mais comumente encontrados: os índices de aceitação dos alvos são menores quando apresentada informação falsa, e o número de alarmes falsos para distratores sugeridos é maior do que para distratores não sugeridos (MOJARDIN, 1998; PEZDEK e ROE, 1995). Este fenômeno é chamado de efeito da falsa informação, em que os sujeitos reconhecem a falsa informação sugerida como tendo sido o alvo apresentado.

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Falsas Memórias: Por que lembramos de coisas que não aconteceram?

MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DAS FALSAS MEMÓRIAS
O fenômeno das falsas memórias tem sido explicado por três diferentes modelos teóricos, quais sejam: o modelo Construtivista, o modelo do Monitoramento da Fonte e o modelo da teoria do Traço Difuso.

1. CONSTRUTIVISMO - O modelo Construtivista postula que a memória é inacurada por natureza (REYNA e LLOYD, 1997). Para esta teoria a explicação para as falsas memórias advém do pressuposto construtivista de que a memória é construída.

Portanto, os erros de memória se dão devido ao fato de eventos realmente vividos serem influenciados por nossas inferências (experiências prévias) e outras elaborações (conhecimentos sobre o assunto) que vão além da experiência, integrando-se ao evento vivido (LOFTUS,
1995
).

Assim, para o Construtivismo, as falsas memórias são elaborações com uma base semântica, uma vez que refletem osignificado que o indivíduo abstrai do evento (PARIS e CARTER,
1973). A informação inicial é integrada a informações prévias que o sujeito possui, distorcendo ou sobrepondo a memória inicial (REYNA e LLOYD, 1997
).

A crítica feita a esse modelo refere-se exatamente a afirmação de que a memória original daria lugar a essa nova memória, advinda da integração da primeira com memórias prévias, pressupondo assim que a memória original já não existiria mais. Todavia, resultados de diversos estudos não tem corroborado este pressuposto.

Por exemplo, segundo a teoria do Monitoramento da Fonte, tanto as memórias originais quanto as memórias advindas dos processos de integração podem manterem-se intactas e separadamente, porém a informação sobre a origem de cada uma dessas memórias pode não estar mais disponível.

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Falsas Memórias: Por que lembramos de coisas que não aconteceram?

2. MONITORAMENTO DA FONTE - A teoria do Monitoramento da Fonte caracteriza as falsas memórias por confusão ou erro de julgamento de atribuição da fonte ou origem da memória (JOHNSON et al., 1993). Segundo este modelo, as falsas memórias ocorrem pela dificuldade do indivíduo em diferenciar se a fonte da informação é advinda de dentro (experiências anteriores) ou de fora (evento vivenciado) (REYNA e LLOYD, 1997).

Para JOHNSON e seu colegas
(1993), as falsas memórias podem se dar pelo julgamento de familiaridade entre a memória inicial e uma outra informação prévia, uma vez que a informação da fonte da informação não se encontra necessariamente representada na memória (ZARAGOZA, et al., 1997).

3. TEORIA DO TRAÇO DIFUSO - Para a teoria do Traço Difuso (FTT – Fuzzy Trace Theory) a memória não é um sistema unitário. Este modelo concebe a memória como dois sistemas independentes: a memória literal e a memória da essência.

A memória da essência armazena somente o significado do fato ocorrido, enquanto a memória literal contém a lembrança dos detalhes específicos do evento (BRAINERD, STEIN e REYNA,
1998
). Por exemplo, uma memória literal seria lembrarmo-nos da exata posição e local em que se encontra um determinado objeto no interior de um armário.

Já a memória da essência seria lembrarmo-nos que guardamos este mesmo objeto em algum dos armários de nossa casa, sem poder precisar o local exato em que ele se encontra. As representações literais e da essência também diferem em sua durabilidade.

A memória literal é mais susceptível aos efeitos de interferência por processamento de informações, tornando-se inacessível mais rapidamente do que a memória da essência, considerada mais duradoura e mais robusta que a primeira(BRAINERD, HOWE e REYNA,
1996).

Para a FTT, os traços de memória da essência não são extraídos dos traços literais, são processados em paralelo e independentemente uns dos outros. Assim, representações literais e da essência da mesma experiência são codificadas em paralelo e armazenadas separadamente de forma dissociada (REYNA e LLOYD,
1997
).

Da mesma forma, a recuperação das duas memórias também é dissociada. Por exemplo, no momento em que você está guardando determinado objeto num armário específico em sua casa, você estará provavelmente armazenando, ao mesmo tempo e de forma independente, memórias literais a respeito desse evento (o objeto em questão é uma chave e está sendo guardado na terceira gaveta da porta esquerda do armário da cozinha), bem como memórias da essência a respeito desse mesmo evento (estou guardando uma coisa dentro de um armário).

Devido as diferenças na durabilidade dos traços literais e da essência, sendo os primeiros menos duráveis do que os segundos, com o passar do tempo ficará bem mais difícil para você recordar o local exato onde foi guardado o objeto, ainda que lembre de tê-lo guardado em algum armário da casa.

Devido a dissociação entre os dois sistemas de memória, num teste de reconhecimento, os itens alvo são geralmente melhores pistas para a recuperação de traços literais do que para traços da essência (BRAINERD, REYNA e KNEER,
1995). Como distratores relacionados são melhores pistas para traços da essência do que para traços literais (REYNA e KIERNAN, 1994), e traços literais se tornam inacessíveis mais rapidamente do que traços da essência (MURPHY e SHAPIRO, 1994
), com a passagem do tempo a base de memória para alvos decai mais rapidamente do que para alarmes falsos, ou seja, aceitar distratores relacionados.

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Falsas Memórias: Por que lembramos de coisas que não aconteceram?

3.1 AS BASES MNEMÔNICAS DAS FALSAS MEMÓRIAS - Dois tipos de respostas podem ocorrer tanto nos estudos de reconhecimento falso (alarmes falsos espontâneos), quanto nos estudos sobre o efeito da sugestão (alarmes falsos sugeridos):
(1)
a rejeição incorreta de itens alvo; ou
(2) a aceitação dos distratores relacionados, ou seja, alarmes falsos (STEIN, 1999).

O fato surpreendente é que ambas respostas falsas podem surgir com base em memórias armazenadas durante a exposição do material alvo (BRAINERD e REYNA,
1998). Outro tipo de resposta que pode ocorrer é a aceitação incorreta dos distratores não-relacionados, respostas estas sem base mnemônica, já que não apresentam ligação semântica alguma com o material alvo.

Quanto ao primeiro tipo de resposta, tanto em estudos de falsas memórias espontâneas quanto sugeridas, a rejeição incorreta de um alvo pode ocorrer devido a recuperação de memórias literais de outros alvos (por exemplo: não lembra de CACHOEIRA, mas lembra de MAÇÃ, outra palavra alvo, assim rejeita CACHOEIRA).

Já no caso específico das falsas memórias sugeridas, a rejeição errônea de alvos pode ocorrer devido a recuperação de memórias literais sugeridas (por exemplo: rejeita o alvo CACHOEIRA, pois lembra de CASCATA, palavra apresentada como sugestão falsa) (STEIN,
1999
).

No segundo tipo de resposta, pode-se reconhecer falsamente um distrator com base em memórias da essência, que preservam os significados compartilhados pela informação alvo e o seus distratores. Por exemplo, a palavra ALICATE foi estudada como alvo e a palavra MARTELO é apresentada posteriormente como item do teste de reconhecimento.

Neste caso, como ambas as palavras compartilham um sentido comum e, possivelmente, a forma literal do alvo não esteja mais disponível (especialmente num teste de memória dias após a apresentação do material alvo), somente existirá uma vaga lembrança de que a lista estudada continha o nome de uma ferramenta de algum tipo.

Assim, quando o distrator relacionado MARTELO é testado, esta palavra é falsamente aceita como tendo sido estudada no material original, pois preserva o sentido da informação alvo (REYNA e TITCOMB,
1996
). Portanto, a aceitação de distratores relacionados, nas falsas memórias espontâneas, pode ocorrer devido a recordação de memórias da essênciaque preservam o significado do alvo estudado, significado este que também é compartilhado pelo distrator relacionado.

No que concerne aos delineamentos de sugestão falsa, os alarmes falsos podem estar baseados em ambas memórias da essência e literais. Como nos estudos sobre falso reconhecimento, a memória da essência, que é compartilhada pelo alvo (CACHOEIRA) e pelo distrator sugerido (CASCATA), poderia sustentar a aceitação errônea do distrator num teste de memória posterior.

No que diz respeito as memórias literais, o distrator CASCATA pode ser falsamente aceito como tendo sido apresentado no material alvo, porque os sujeitos podem recuperar a memória literal da informação falsa sugerida. E ainda, os alarmes falsos podem ocorrer devido a vários processos não mnemônicos (por exemplo: quando o item do teste não provoca recuperação de nenhuma memória relevante) (BRAINERD, REYNA, e POOLE, no prelo).

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Falsas Memórias: Por que lembramos de coisas que não aconteceram?

CONSIDERAÇÕES FINAIS - As influências de algumas manipulações experimentais para a produção e perpetuação das falsas memórias espontâneas e sugeridas podem ter implicações para situações aplicadas, principalmente na área jurídica, por exemplo na avaliação de testemunhos.

Dentre estas manipulações experimentais podemos citar o momento da testagem da memória e o momento em que a sugestão é apresentada. Estudos, como por exemplo o de ROEDIGER e MCDERMOTT
(1995),
utilizando o paradigma das listas de palavras associadas, observaram um aumento significativo no índice de falsas memórias num segundo teste de memória com adultos, sete dias após a apresentação da lista original, em comparação a um teste realizado imediatamente após a apresentação do material alvo.

Portanto, com o passar de apenas uma semana podemos afirmar que houve um decréscimo das respostas verdadeiras e um aumento significativo dos alarmes falsos (palavras reconhecidas como tendo sido realmente apresentadas, mas que na realidade não o foram).

Já em relação a sugestibilidade da memória, a variável temporal também exerce influência. Em situações forenses, a sugestão de informações falsas freqüentemente ocorre muito tempo após o testemunho do evento investigado. Manipulações experimentais do momento da apresentação da sugestão de informação falsa evidenciaram resultados como os de WARREN e LANE
(1995
), que observaram que a memória de adultos era mais afetada pela sugestão de falsa informação quando esta era apresentada uma semana após a apresentação do evento alvo.

BELLI, WINDSCHITL, MCCARTHY e WINFREY (
1992)
também obtiverem resultados similares. Outras manipulações experimentais que vem sendo estudadas referem-se ao efeito da persistência das falsas memórias e o efeito de um teste anterior sobre um teste posterior.

O efeito da persistência das falsas memórias refere-se ao fenômeno, já demonstrado com crianças (BRAINERD, REYNA e BRANDSE,
1995; POOLE, 1995; STEIN, 1998) e com adultos (PAYNE, ELIE, BLACKWELL e NEUSCHATZ, 1996
), de que as falsas memórias podem sobreviver tanto ou mais que as memórias verdadeiras.

Em uma pesquisa realizada com advogados e juízes, FISHER e CUTLER (1992) constataram que a consistência de relatos em uma série de entrevistas com a mesma testemunha é um critério chave muito utilizado no âmbito forense,
para determinar a credibilidade do testemunho. No entanto, alguns estudos recentes sobre a persistência de ambas memórias, verdadeiras e falsas, levantam dúvidas sobre a validade do critério de consistência (REYNA, no prelo).

A influência de um questionamento anterior, ou seja, o efeito de um mero teste de memória anterior sobre um teste de memória posterior apresenta dois componentes: a proteção das memórias verdadeiras contra o esquecimento e a criação de memórias falsas.

A proteção ou inoculação da memória verdadeira refere-se ao efeito de que num teste posterior há um aumento de respostas corretas (verdadeiras), quando os participantes receberam um teste anterior (BRAINERD e ORNSTEIN,
1991). Já a criação de falsas memórias ocorre devido a uma maior aceitação de distratores semanticamente relacionados ao evento original no teste posterior, quando os participantes receberam um teste anterior (BRAINERD e REYNA,1996).

Assim, o fato da memória das pessoas ter sido testada, ou seja, o fato das pessoas terem sido, por exemplo, entrevistadas ou indagadas a respeito de um determinado assunto, colabora para um aumento significativo das falsas memórias (BRAINERD e MOJARDIN,
1998
).

No âmbito da Psicologia Clínica, normalmente as sessões terapêuticas desenvolvem-se em torno de uma temática central (por exemplo, um trauma emocional ou físico), em que as experiências trazidas pelo paciente são exploradas em relação a este tema principal.

O mesmo ocorre em situações jurídicas, nas quais tanto os procedimentos usuais de perícia psicológica quanto os questionamento de testemunhas versam sobre um tópico central (neste caso, pode ser um crime que está sendo investigado).

Portanto, tendo por base os resultados de experimentos que investigam os mecanismos responsáveis pelas falsas memórias como os de STEIN e PERGHER (no prelo), entre outros, não é de se admirar que seja bastante comum a situação em que pessoas, submetidas a psicoterapia ou sob investigação forense, produzam falsos relatos, que não sejam baseados em simulação (i.e., mentira), mas sim em memórias que substanciam o foco central do fato em questão.

Pode-se citar ainda outros fatores que podem vir a comprometer a fidedignidade do relato de crianças e adultos, como os questionamentos repetidos durante longo intervalo de tempo, o tipo de perguntas feitas e o status do entrevistador (BRUCK et al.,
1995; CECI e BRUCK, 1996; CECI et al., 1987
).

As manipulações experimentais aqui apresentadas têm importantes implicações jurídicas e clínicas, uma vez que revelam fatores que contribuem para falsificação da memória. A morosidade do sistema judiciário, os sucessivos questionamentos sobre um evento, o modo de fazer os questionamentos são alguns exemplos dos fatores que propiciam uma maior ocorrência de falsas memórias.

O estudo das falsas memórias, apesar de ser ainda uma área nova, está em crescente expansão. As pesquisas apontam caminhos, porém ainda há várias questões a serem elucidadas em relação aos mecanismos e processos responsáveis pelo aparecimento das falsas memórias, bem como em relação às questões ligadas ao desenvolvimento das mesmas.

Arquivo. Ciência. Saúde Unipar, 5(2): mai./ago., 2001.

O Deus de Einstein

Por: Marcelo Gleiser

A religiosidade de Einstein, que cresceu dentro da tradição judaica, certamente não pertencia à ortodoxia. Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu". "Por que você me escreve dizendo que "Deus deveria punir os ingleses?"
Não tenho relação íntima com um ou outro. Vejo apenas com grande tristeza que Deus pune tantas de suas crianças por seus inúmeros atos de estupidez, atos pelos quais Deus apenas deveria ser o responsável; em minha opinião, apenas a sua não-existência poderia desculpá-lo".
Assim escreveu Albert Einstein a seu colega Edgar Meyer em carta datada 2 de janeiro de 1915, o ano em que concluiu sua teoria da relatividade geral, que reformulou nossa concepção da gravidade. Essas são as palavras de alguém que carrega um grande senso de traição com relação à religião organizada, à crença em um Deus onipresente, o Deus bíblico.

A religiosidade do físico suíço-alemão, que cresceu dentro da tradição judaica, certamente não se encaixava na ortodoxia. Contraste o texto acima com este: "Tudo é determinado... por forças além de nosso controle. Isto é verdade para um inseto ou uma estrela.

Seres humanos, vegetais, grãos de poeira todos dançam segundo uma melodia misteriosa, entoada à distância por um flautista invisível". ("Saturday Evening Post",
26 de outubro de 1929). Ou este: "Acredito no Deus de Espinosa, revelado na harmonia de tudo o que existe, mas não em um Deus que se preocupa com o destino e as ações dos homens". (Telegrama para um jornal judaico datado de
1929).

O "flautista invisível" representa um Deus que se revela através da "harmonia de tudo o que existe", no discorrer das transformações do mundo natural. Espinosa, um filósofo que viveu no século 17, acreditava que Deus e o mundo material eram indistinguíveis, que, quanto melhor compreendemos o funcionamento do Universo, mais nos aproximamos de Deus.

Para Einstein, a ciência é essencialmente uma atividade religiosa. Religião, claro, que trata a natureza como metáfora do divino e o cientista como seu sacerdote, aquele capaz de desvendar os seus mistérios. Essa atitude tem suas raízes em Platão, que via a essência do divino na razão humana.

A elegância das figuras geométricas, suas relações e proporções, formam a linguagem que usamos para decifrar o código usado por "Deus" para construir o cosmo. A matemática é o alfabeto da Criação. "O comportamento ético dos homens deve se basear na simpatia, educação e nos laços sociais; não é necessário base religiosa.

Os homens estariam em péssima situação se tivessem que ser controlados pelo medo de punição [divina] ou pela esperança de salvação após a morte." ("New York Times Magazine",
9 de novembro de 1930
). Aqui Einstein argumenta que a religião organizada não é necessária para estabelecer as bases de um comportamento ético.

Impor o controle social pelo medo ou pelas crenças mostra o quão imaturo é ainda o homem. A essência do equilíbrio social não se encontra na religião mas no respeito à vida, ao outro, ao mundo.
Einstein (1879-1955) sobreviveu a duas guerras mundiais, foi testemunha do genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas, de um número ainda maior de russos por Stálin, de centenas de milhares de japoneses pelas bombas atômicas americanas.

Se estivesse vivo hoje, veria que pouco mudamos. Imagino que se trancaria em seu escritório e tentaria desvendar mais um mistério, rabiscando fórmulas matemáticas em um papel, a única prece que acreditava poder purificar a sua essência.

A doce vida do embaixador do reino dos ETs

Líder dos raelianos, a seita que anunciou a criação de um clone humano, diz que a clonagem vai levar o homem à imortalidade.

O francês Claude Vorilhon, de 56 anos, diz ter passeado de disco voador. Numa das viagens, teria se encontrado com Moisés, Jesus, Buda e Maomé. Ele já foi sem-teto, piloto de provas e jornalista. Com o nome de Rael, o francês agora é líder dos raelianos, uma seita que acredita em extraterrestres.

Uma de suas mais conhecidas integrantes, a química francesa Brigitte Boisselier, anunciou logo depois do Natal o nascimento do primeiro ser humano clonado. A experiência gerou muita desconfiança por não terem sido exibidas provas científicas da existência do clone.

Até agora, o anúncio do primeiro clone humano teve o efeito de chamar a atenção para o líder da seita dos amigos dos ETs. O francês Rael leva um vidão. Ele atraiu mais de
50.000
membros em todo o mundo, dos quais cobra contribuições mensais.

A eles acena com a promessa de que a clonagem humana será apenas o primeiro passo para conquistas mais formidáveis no futuro. Rael prega que em breve a vida eterna estará ao alcance da humanidade, por meio de cópias clonadas dos seres humanos.

"A tecnologia nos permitirá transferir nossa memória para clones de nós mesmos, como se nossa mente estivesse trocando um invólucro envelhecido por uma versão mais nova", diz ele. Desde o nascimento da ovelha Dolly, em
1997
, Vorilhon e os raelianos embarcaram na obsessão de produzir o primeiro clone humano.

Duas semanas atrás, Brigitte Boisselier, executiva-chefe de uma empresa chamada Clonaid, reuniu a imprensa nos Estados Unidos para informar o nascimento do que, segundo ela, se trataria do primeiro clone humano – uma menina que seria cópia idêntica de sua mãe, uma americana de
31
anos.

"É nossa pequena Eva", disse a pesquisadora, ao fazer o anúncio. Boisselier ocupou as manchetes há dois anos, quando anunciou que seu grupo tentaria clonar um bebê morto aos
10
meses de idade. A família da criança desistiu da experiência.

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A doce vida do embaixador do reino dos ETs

Na quinta-feira passada, Rael impediu que cientistas independentes fizessem um teste simples capaz de confirmar que a experiência anunciada por Boisselier não é uma fraude. O teste consiste em tirar uma gota de sangue do dedo do bebê e comparar seu conteúdo genético com o da mãe.

Se eles forem rigorosamente idênticos, ficaria confirmada a existência do primeiro clone humano. Sem o teste, o anúncio não pode ser levado a sério. Como escreveu o astrônomo Carl Sagan, que morreu seis anos atrás, a respeito da hipótese de vida extraterrestre: "Afirmações extraordinárias exigem provas extraordinárias".

Mesmo sem oferecer provas, nem mesmo provas ordinárias, o grupo de Rael atraiu críticas e condenações depois do anúncio da experiência. O porta-voz do papa João Paulo II repudiou mais uma vez experiências desse tipo. Cientistas dos principais centros de genética do mundo reagiram com ceticismo.

Concorrentes que também tentam clonar bebês, como o italiano Severino Antinori, dizem que a francesa e seus técnicos não têm experiência nem competência para um feito desse porte. "Esse anúncio me faz rir. Essa doutora Boisselier não tem a menor credibilidade", atacou Antinori.

Em novembro, ele afirmou que médicos ligados a seu grupo de pesquisa se preparavam para o nascimento de um bebê clonado em janeiro. O líder dos raelianos aproveitou a onda de publicidade e, numa entrevista à rede de televisão americana CNN, deu sua versão do episódio. "A senhora Boisselier faz parte do nosso grupo, mas não temos vínculos com a empresa dela", disse Rael.

Na mesma entrevista, ele manifestou sua fé em que a clonagem humana logo estará ao alcance de milhares de pessoas no mundo. "Não há como deter esse movimento. Os clones virão, e, no futuro, seremos capazes de transferir nossa consciência para eles, de modo que atingiremos a vida eterna", disse Rael.

A salada filosófica de Vorilhon, ou Rael, mistura ufologia, princípios da genética e da biotecnologia e textos bíblicos. A motivação para criar a seita, segundo ele, teria vindo de dois encontros com extraterrestres, que lhe teriam revelado as origens da humanidade.

O contato entre Rael e os alienígenas teria ocorrido em dezembro de
1973
, numa área montanhosa na região central da França. Na época, o futuro líder dos raelianos produzia e editava uma pequena revista especializada em corrida de automóveis chamada Autopop.

Durante um passeio pelas montanhas, Vorilhon teria visto um disco voador com
7 metros de diâmetro pousar na cratera de um vulcão extinto. Ele conta que um humanóide de cerca de 1,20
metro de altura e pele esverdeada, muito parecido com seres humanos, desceu da nave e foi a seu encontro.

Ele conversou com Vorilhon num francês impecável. Explicou quem era, que vinha de um planeta muito distante. Rael sustenta que ele fez então a revelação que mudou sua vida. O extraterrestre disse que a humanidade foi criada há
25 000
anos, a partir de clonagem e manipulação genética das células dos seres do espaço.

Os raelianos afirmam que seu líder passou seis dias em companhia de alienígenas, que diziam pertencer a uma raça chamada Elohim. Enquanto aprendia a "verdadeira história do homem" com os extraterrestres, Vorilhon conta ter recebido as atenções de seis andróides mulheres "voluptuosas e encantadoras".

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A QUÍMICA BRIGITTE BOISSELIER:
laboratório nos Estados Unidos tinha insetos e ovários de vaca obtidos em um matadouro.

Rael então desceu da montanha e passou a anunciar que recebera a instrução para construir uma embaixada perto de Jerusalém e preparar a humanidade para um visita de extraterrestres, prevista para 2035. Foi assim que ele conquistou visibilidade entre a numerosíssima galeria de profetas que propagam, em diversos idiomas, seus encontros com sábios extraterrestres.

A acirrada concorrência levou Rael a extremos de criatividade e ousadia. Enquanto se divertia com as andróides "voluptuosas e encantadoras", Rael teria sido informado de que sua linhagem era muito sagrada para que gastasse seu tempo escrevendo sobre automóveis.

Os ETs o informaram de que ele é "meio-irmão" de Jesus Cristo, o qual teria exercido antes dele o mesmo papel de embaixador da sabedoria intergaláctica. Depois de receber tamanhas honrarias, Rael passou a visitar planetas exteriores com a freqüência de quem vai à praia.

Numa das visitas teria participado de um bate-papo que reuniu numa mesma roda os clones em carne e osso de Moisés, Jesus, Buda, Maomé e do ex-editor da revista Autopop. Segundo Rael, eles cuidaram dos detalhes da visita dos ETs em
2035
. Moisés, Jesus, Buda e Maomé teriam assegurado a Rael que farão parte da comitiva.

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"A palavra Deus é uma tradução malfeita da palavra Elohim, que significa aqueles que vêm do céu", observa Rael. Dois anos depois do primeiro encontro, o líder dos raelianos viveu uma nova experiência, muito mais empolgante do ponto de vista científico.

Na mesma visita em que debateu com os clones dos profetas, Rael teria sido brindado com a visita a um laboratório onde seus anfitriões fizeram a apresentação de um processo de clonagem acelerada, em que a partir de uma célula se produz não um bebê, mas um ser adulto.

"É nesse estágio que queremos chegar. Em vez de você precisar de uma gestação de nove meses e depois mais dezoito anos para fazer um adulto, poderemos realizar isso em poucas horas, como fazem os Elohim", disse Rael na semana passada ao jornal americano Miami Herald. "E o melhor é que essa cópia adulta será como uma fita virgem, sem memória nem personalidade. Será apenas um hardware pronto a receber uma consciência e uma memória."

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O AMERICANO APPLEWHITE:
suicídio coletivo para pegar carona na cauda de um cometa.

Desde 1990, o ex-jornalista Vorilhon vive no Canadá, país que é mais tolerante com suas fantasias do que sua França natal. Em 1997 e no ano passado, membros do movimento raeliano foram condenados por pedofilia nos tribunais franceses.

No Canadá, Vorilhon construiu um museu da história raeliana, chamado Ufolândia, e fortaleceu a religião, que, além da biotecnologia, tem por base o amor, a busca do prazer e a liberdade, tanto de pensamento quanto sexual. Um dos principais rituais dos raelianos é chamado de meditação sensual, destinada a estimular os praticantes a obter maior prazer sexual, e com isso maior harmonia com o infinito.

Vorilhon-Rael estima que existam
55.000 raelianos em 84
países. Boa parte dos adeptos entrou para a seita nos últimos cinco anos, quando os raelianos alcançaram notoriedade por sua defesa da clonagem humana. Para Vorilhon, finalmente a ciência acertou o passo com suas visões.

Ele até criou um novo grupo de seguidoras, a Ordem dos Anjos, formado por jovens beldades, cuja missão será servir aos Elohim. Mas, enquanto eles não aparecem, elas treinam suas habilidades de dar prazer com o próprio Rael. Suas atribuições iriam desde oferecer favores sexuais ao líder até a disponibilização de úteros e óvulos para experiências de clonagem.

Com isso, Vorilhon-Rael acredita ter conseguido transpor um dos maiores obstáculos colocados aos cientistas que querem clonar humanos: conseguir um grande volume de doadoras de óvulos e de barrigas de aluguel. Isso é que é profeta, convenhamos.

Sexo no presente, vida eterna em breve e amigos ilustres no céu. Seus predecessores foram mais trágicos. Antes de Rael, o embaixador mais popular dos discos voadores era um certo Marshall Applewhite, um americano fanático que se suicidou e levou para a morte
38 membros de sua seita. Eles se mataram coletivamente em 1997
, ano em que o cometa Hale-Bopp passou nas imediações da Terra. Applewhite os convenceu de que um disco voador escondido na cauda do cometa conduziria suas almas ao paraíso.

http://veja.abril.com.br/080103/p_074.html