quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Falsas Memórias: Por que lembramos de coisas que não aconteceram?

3.1 AS BASES MNEMÔNICAS DAS FALSAS MEMÓRIAS - Dois tipos de respostas podem ocorrer tanto nos estudos de reconhecimento falso (alarmes falsos espontâneos), quanto nos estudos sobre o efeito da sugestão (alarmes falsos sugeridos):
(1)
a rejeição incorreta de itens alvo; ou
(2) a aceitação dos distratores relacionados, ou seja, alarmes falsos (STEIN, 1999).

O fato surpreendente é que ambas respostas falsas podem surgir com base em memórias armazenadas durante a exposição do material alvo (BRAINERD e REYNA,
1998). Outro tipo de resposta que pode ocorrer é a aceitação incorreta dos distratores não-relacionados, respostas estas sem base mnemônica, já que não apresentam ligação semântica alguma com o material alvo.

Quanto ao primeiro tipo de resposta, tanto em estudos de falsas memórias espontâneas quanto sugeridas, a rejeição incorreta de um alvo pode ocorrer devido a recuperação de memórias literais de outros alvos (por exemplo: não lembra de CACHOEIRA, mas lembra de MAÇÃ, outra palavra alvo, assim rejeita CACHOEIRA).

Já no caso específico das falsas memórias sugeridas, a rejeição errônea de alvos pode ocorrer devido a recuperação de memórias literais sugeridas (por exemplo: rejeita o alvo CACHOEIRA, pois lembra de CASCATA, palavra apresentada como sugestão falsa) (STEIN,
1999
).

No segundo tipo de resposta, pode-se reconhecer falsamente um distrator com base em memórias da essência, que preservam os significados compartilhados pela informação alvo e o seus distratores. Por exemplo, a palavra ALICATE foi estudada como alvo e a palavra MARTELO é apresentada posteriormente como item do teste de reconhecimento.

Neste caso, como ambas as palavras compartilham um sentido comum e, possivelmente, a forma literal do alvo não esteja mais disponível (especialmente num teste de memória dias após a apresentação do material alvo), somente existirá uma vaga lembrança de que a lista estudada continha o nome de uma ferramenta de algum tipo.

Assim, quando o distrator relacionado MARTELO é testado, esta palavra é falsamente aceita como tendo sido estudada no material original, pois preserva o sentido da informação alvo (REYNA e TITCOMB,
1996
). Portanto, a aceitação de distratores relacionados, nas falsas memórias espontâneas, pode ocorrer devido a recordação de memórias da essênciaque preservam o significado do alvo estudado, significado este que também é compartilhado pelo distrator relacionado.

No que concerne aos delineamentos de sugestão falsa, os alarmes falsos podem estar baseados em ambas memórias da essência e literais. Como nos estudos sobre falso reconhecimento, a memória da essência, que é compartilhada pelo alvo (CACHOEIRA) e pelo distrator sugerido (CASCATA), poderia sustentar a aceitação errônea do distrator num teste de memória posterior.

No que diz respeito as memórias literais, o distrator CASCATA pode ser falsamente aceito como tendo sido apresentado no material alvo, porque os sujeitos podem recuperar a memória literal da informação falsa sugerida. E ainda, os alarmes falsos podem ocorrer devido a vários processos não mnemônicos (por exemplo: quando o item do teste não provoca recuperação de nenhuma memória relevante) (BRAINERD, REYNA, e POOLE, no prelo).

Continua

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