sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

O colapso dos rapanui. - Pesquisas Iniciais

A praia de Anakena, provavelmente onde ocorreu a primeira colonização de Rapa Nui,
foi o local onde o autor conduziu suas escavações arqueológicas.
O colapso dos rapanui.
Ao contrário do que sugerem as teses vigentes sobre a extinção
dessa civilização no Pacífico Sul, foram roedores, e não humanos,
os grandes agentes da degradação ambiental na Ilha de Páscoa.
Todos os anos, milhares de turistas do mundo inteiro percorrem longas distâncias pelo Pacífico Sul para ver as famosas estátuas de pedra da Ilha da Páscoa. Desde 1722, quando os primeiros europeus ali chegaram, essas figuras megalíticas, os moais, intrigam visitantes. O interesse em saber como foram construídos e movidos levou a outra questão também enigmática: o que aconteceu às pessoas que os criaram?

De acordo com o relato corrente sobre o passado da ilha, os habitantes nativos - que se autodenominam rapanui e se referem à ilha como Rapa Nui - outrora formavam uma sociedade grande e próspera que entrou em colapso em conseqüência da degradação ambiental.

Segundo essa teoria, um pequeno grupo de colonizadores da Polinésia teria chegado entre os séculos IX e X. Trezentos anos depois, o aumento populacional acelerado e a obsessão em construir moais levaram a uma pressão cada vez maior no ambiente.
No final do século XVII, os rapanui haviam desmatado a ilha, o que resultou em guerras, fome e colapso cultural.

Jared Diamond, geógrafo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, usou os rapanui como parábola sobre os perigos da destruição ambiental. "Em apenas alguns séculos", escreveu em 1995, "os habitantes da Ilha de Páscoa liquidaram suas florestas, levaram suas plantas e animais à extinção, e viram sua complexa sociedade rumar para o caos e o canibalismo.

Estamos perto de seguir seu exemplo?" Em Colapso, publicado em 2005, Diamond descreveu Rapa Nui como "o exemplo mais claro de uma sociedade que se auto destruiu ao explorar demais os próprios recursos".

Dois elementos chave no relato de Diamond - que certamente não está sozinho ao descrever Rapa Nui como um conto sobre a moralidade ambiental - são o grande número de polinésios vivendo na ilha e sua tendência a derrubar árvores. Ao analisar estimativas sobre a população nativa, diz que não ficaria surpreso se excedesse 15 mil indivíduos em seu auge.

Uma vez derrubadas todas as árvores do grande grupo de palmeiras, seguiram-se "fome, declínio da população e canibalismo". Quando os europeus chegaram, no século XVIII, encontraram somente um pequeno vestígio dessa civilização.

Em minha primeira viagem a Rapa Nui esperava confirmar essas teses. Em vez disso, encontrei evidências que não se encaixavam na linha do tempo básica.

Quando examinei os dados de escavações arqueológicas disponíveis e alguns trabalhos similares realizados em outras ilhas do Pacífico, percebi que muito do que era atribuído à pré-história de Rapa Nui não passava de especulação.
Estou convencido, agora, de que simplesmente o colapso ambiental auto-induzido não explica a queda dos rapanui. Datações de carbono que fizemos e dados paleoambientais apontam para uma explicação diferente sobre o que aconteceu nessa pequena ilha. A história é mais complexa do que a comumente descrita.

Os primeiros colonizadores podem ter chegado muito depois do que se acreditava, e eles não viajavam sozinhos. Traziam galinhas e ratos, ambos utilizados como alimento. Mais importante é, no entanto, o que os ratos comiam.
Esses roedores prolíferos podem ter sido a principal causa da degradação ambiental. Usar os rapanui como exemplo de "ecocídio", como Diamond o chamou, torna a narrativa atraente, mas a realidade da história trágica da ilha não é menos significativa.

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