terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Einstein e Buda - II

Dr. Capra Quando estamos resfriados ou com gripe, achamos que “pegamos” um vírus ou um micróbio. Mas um brasileiro, membro de uma tribo analfabeta, atribuirá seu resfriado à uma má ação cometida contra sua família, ou aos maus espíritos susceptíveis de tê-lo rodeado, ou ainda à um feitiço que alguém lhe tenha feito. Esta interpretação de enfermidade ilustra a maneira em que os pontos de vista podem revelar-se radicalmente diferentes.

Ryder-Smith – Entretanto, se nos referimos a elementos que a maioria das pessoas considera como constantes ao seu redor, como as pedras, as árvores, as mesas, as casas, pode-se supor uma diferença de ponto de vista sobre os elementos físicos desta natureza?

Dr. Capra – Naturalmente. Basta compreender que a pessoa que vivia na época medieval, ou antes, cria que tudo estava animado por espíritos ou fantasmas, e não pensava em tudo em termos de objetos separados, de sistemas mecânicos, etc. Esta concepção que compartilhamos agora, ao vivê-la em nossa realidade cotidiana, nasceu essencialmente no Século XVII com o desenvolvimento da ciência.

Ryder-Smith – A concepção científica do mundo que prevalece em nossa civilização foi consideravelmente modificada em alguns decênios. Até os trabalhos de Einstein, a física se fundamentava na concepção do mundo que vinha do século dezessete, elaborada, entre outros, por Newton, Descartes e Bacon.

Dr. Capra – Poderíamos dizer que esta visão do mundo era “mecanicista”, pois considerava o mundo como uma máquina, composta de elementos separados que funcionavam conjuntamente. O observador era considerado como objetivo, ou seja, independente deste universo mecânico.

Os diversos elementos, compostos de blocos básicos de construção, pareciam feitos de uma substância material fundamental. Então, este ponto de vista foi enormemente modificado durante os primeiros decênios do Século XX. Pela primeira vez os físicos estudaram os átomos, analisando a sua estrutura, e depois as partículas subatômicas.

Assim descobriram que a maioria dos conceitos clássicos já não era fiáveis, pois não correspondiam à esta nova realidade atômica e subatômica. A atual concepção já não considera o mundo como uma máquina composta de elementos separados, mas muito como um conjunto orgânico, ou rede, uma teia de aranha tecida por todas estas conexões na qual o observador se encontra fundamentalmente incluído.

Ryder-Smith – Este ponto de vista é o da física moderna. Hoje os físicos estudam as partículas subatômicas como os prótons e nêutrons no núcleo atômico, e os elétrons e outras partículas que circulam ao seu redor.

Dr. Capra – Um dos resultados mais espetaculares e fundamentais destas investigações é dar-se conta de que não se pode compreender estas partículas atômicas como entidades físicas distintas e isoladas. Muito ao contrário, existem inter-relações ou correlações entre diversos processos de observação e avaliação.

Vemo-nos, pois, forçados a concluir que se pode declarar razoavelmente que um objeto se compõe de moléculas, que estas moléculas se compõem de átomos, e que os átomos estão constituídos por partículas, que já não são entidades independentes, mas interconexões numa rede única e dinâmica de relações.

Então torna-se evidente que se estas partículas não são independentes, conseqüentemente, os átomos não são independentes, nem por outra parte os sólidos, líquidos e gases formados por estes átomos. Assim, tudo está inter-relacionado e não constitui nada mais que um único conjunto global.

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