sexta-feira, 6 de abril de 2007

No rastro de um antigo matador

[continuação]


Tampouco há razões para pensarmos em uma situação envolvendo epidemia (embora seja bem difícil identificar doenças por restos fósseis). Pelo fato de os animais terem morrido em momentos diferentes, não temos por suspeitos eventos instantâneos e calamitosos como terremotos, inundações ou incêndios.


Seja lá o que os tenha matado-, o que sabemos é que ele agiu ao longo do tempo e atacava as vítimas uma a uma quando elas se aproximavam do rio - ao qual chegavam por vontade própria. Também temos indícios irrefutáveis de que o assassino realizava seus ataques em locais diferentes, mas valendo-se sempre da mesma tática.
Esses animais não sucumbiram fulminados durante um único dia ruim no Cretáceo tardio - foram vários dias ruins. Quando todas as evidências são consideradas, é possível apontar com segurança o assassino: a seca. Oportunidade para isso certamente houve.
Esse era um ecossistema subtropical com claras indicações de aridez e estações bem marcadas. Além disso, podemos ver que os animais se reuniam no leito seco do rio, muito provavelmente ao redor das poucas poças d'água remanescentes, morrendo à medida que a água limpa e os alimentos iam acabando.



Na atualidade, secas mortíferas, sobretudo em partes da África e no interior da Austrália, levam os animais a se juntar em torno dos poucos recursos que sobraram. Durante uma seca longa, milhares de animais podem perecer a poucos metros de sua última esperança de beber água, e as carcaças se acumularem em "zonas da morte" por anos e anos.

Estudos de mortandades modernas relacionadas a secas indicam que os desafortunados animais preservados nas brechas ósseas da Formação Maevarano poderiam, em última análise, ter morrido de inúmeras causas: desidratação, insolação, desnutrição, talvez até mesmo intoxicação, uma vez que a água vai aos poucos se tornando pútrida e insalubre.


De fato, temos indícios muito seguros de que ocorreram florações de algas nocivas nas poças d'água que os atraíram. Michael Zavada, especialista em pólen do Cretáceo da Universidade Estadual do Leste do Tennessee, conseguiu isolar minúsculos esporos de algas nas pedras ligadas aos ossos; no entanto, ainda resta confirmar se esses esporos são indícios de florações de algas tóxicas.

Mas como é que os corpos dos animais puderam ser preservados - alguns, por sinal, em excelentes condições? Restos biológicos tendem a resistir muito pouco na superfície, onde animais necrófagos e o sol devagar e sempre agem sobre os ossos, destruindo até mesmo os maiores, rachando-os até virarem pó.


Quando se trata da preservação de registros fósseis por longuíssimos períodos, o enterro deve acontecer o mais cedo possível. Com efeito, poderíamos argumentar que, do ponto de vista de um fóssil, um enterro rápido é o caminho mais curto para a imortalidade.

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