sexta-feira, 6 de abril de 2007

No rastro de um antigo matador

Membros da equipe dos autores escavaram cuidadosamente os restos fósseis,
envolvendo-os em seguida em gesso para serem transportados para os Estados Unidos,
onde os pesquisadores os estudaram detalhadamente em busca
de pistas que indicassem a causa da morte.

As pistas estavam frias - os ossos na vala comum tinham 70 milhões de anos. Mas indícios importantes permitiram descobrir a identidade do assassino.
Por: Raymond R. Rogers e David W. Krause



Um dos corpos encontrava-se deitado sobre o lado esquerdo, com a cabeça e o pescoço próximos à pélvis - uma posição clássica de morte. Braços e pernas pareciam intactos anatomicamente, mas uma inspeção mais detida revelou o deslocamento dos ossos das mãos e dos pés - embora a maioria das partes tenha sido encontrada.



O crânio também estava desconjuntado, com as partes que o compõem uma ao lado da outra. Curiosamente, a ponta do rabo havia sumido por completo. Os outros corpos das imediações apresentavam diferentes estados de preservação e desarranjo.



Enquanto alguns estavam praticamente inteiros, de outros só encontramos o crânio, uma clavícula ou um único osso das pernas ou dos braços. Essas infelizes criaturas teriam morrido aqui ou foram trazidas a esse local após sua morte? Morreram todas no mesmo instante ou em momentos diferentes? E o que as matou?



Nossa equipe começou a levantar tais questões assim que encontramos esse cemitério coletivo em antigos sedimentos no noroeste de Madagascar, no início de 2005 - ilha cuja terra rubra inspirou seu apelido: Grande Ilha Vermelha. Juntamos algumas informações importantes enquanto procurávamos as respostas; no entanto, o caminho até elas talvez seja tão ou mais interessante quanto as respostas em si.



Antes de qualquer coisa, batizamos o sítio arqueológico, designando-o
MAD05-42 para indicar o ano em que foi encontrado e sua posição na seqüência de descobertas de sítios arqueológicos na área. O segundo passo foi identificar os mortos. Baseados em nossas descobertas em outros lugares da região, rapidamente inferimos que a maioria dos restos era de dinossauros de várias espécies.



Esse cemitério de dinossauros não é o único no noroeste de Madagascar. Ele faz parte de um padrão que temos observado repetidas vezes ao longo de uma década de pesquisas geológicas nas pradarias semi-áridas nas proximidades do remoto vilarejo Berivotra.



Nessa região descobrimos camadas e mais camadas de cemitérios coletivos, com restos de animais grandes e pequenos, jovens e velhos, enterrados juntos formando espetaculares brechas ósseas (bonebed, em inglês).



Assim, enquanto trabalhávamos tentando descobrir o que matou os animais no MAD05-42, não podíamos deixar de nos perguntar por que encontramos tantas brechas ósseas naquela região e como elas se mantiveram tão bem preservadas.



Raymond R. Rogers e David W. Krause - Raymond R. Rogers e David W. Krause escavam as espetaculares brechas ósseas de Madagascar desde 1996. Rogers é professor associado e chefe do Departamento de Geologia do Macalaster College e pesquisador associado do Museu Field, em Chicago, e do Museu de Ciências, de Minnesota. Recebeu seu Ph.D. em geologia na Universidade de Chicago em 1995. Krause é professor emérito do Departamento de Ciências Anatômicas da Universidade Stony Brook e pesquisador associado do Museu Field. Obteve o doutorado em geologia na Universidade de Michigan em Ann Arbor, em 1982. Seu trabalho em Madagascar, o quarto país mais pobre do mundo, o levou a criar o Fundo Madagascar Ankizy (www.ankizy.org), entidade sem fins lucrativos que constrói escolas e oferece tratamento médico para crianças em áreas remotas da ilha.


Nenhum comentário: