sábado, 10 de março de 2007

Primeiro vôo espacial tripulado completa 41 anos

Primeiro vôo espacial tripulado completa 41 anos

Brasília, 15 (Agência Brasil - ABr) - A agência oficial de notícias russa Itar Tass divulgava em todo o mundo, no dia 12 de abril 1941, que o primeiro vôo espacial tripulado iria começar dentro de uma hora. Hoje, a façanha completa 41 anos. Na época, o mundo se dividiu em duas partes, metade perplexa e excitada com a notícia e a outra incrédula, diante do rádio.

A seqüência da notícia já se sabe. Yuri Alekseyevich Gagarin, astronauta russo (então soviético) deu a volta ao redor da Terra, a uma altura máxima de 327 quilômetros, em 1 hora e 48 minutos. De sua nave, a Vostok 1, Gagarin disparou frases até hoje lembradas pela humanidade, como: "A Terra é azul" ou "As estrelas não piscam".

Depois de ser lançado ao espaço, da base de Baikonur, hoje na República do Cazaquistão, Gagarin levou 108 minutos orbitando em volta do planeta e aterrisou na cidade de Sarátov.
Lá se vão 41 anos e até hoje ninguém conseguiu ultrapassar a altitude que ele chegou, numa nave de um só astronauta. Depois dele, mais de 400 astronautas foram ao espaço, número que dá a dimensão da era inaugurada por Gagarin.

Ele próprio previu e antecipou, na época, que muitos outros seguiriam seu caminho e conheceriam a imensidão do universo. Como que alheio ao evento político da época, que confrontava inclusive e, talvez, principalmente, na área espacial, as duas potências mundiais, Gagarin se emocionou ao ver a Terra.

Depois do vôo, o major da Força Aérea Soviética, com 27 anos de idade, ganhou fama e notoriedade, tão rápido como nenhum outro homem. Fez diversas viagens para relatar a façanha, conheceu muita gente. Foi também de sua autoria a frase que parecia arrefecer os ânimos de uma disputa nada amigável:

"A União Soviética deseja empregar seus conhecimentos da ciência em favor da humanidade". Mas o pano de fundo de sua aventura era algo bem mais político que suas frases inocentes, quase alienadas, como diriam cientistas políticos. Era o tempo da Guerra Fria e a corrida espacial foi o palco dos embates históricos entre Estados Unidos e a então União Soviética.

A ex-URSS ganhou alguns desses embates e o primeiro ficou "entalado na garganta" dos norte-americanos por algum tempo, se não até hoje. Enquanto o primeiro ministro Nikita Kruchev declarava, provocador, que "somos favoráveis a uma competição pacífica e nossos compatriotas já conquistaram vitórias.

Nosso caminho é justo e nesse caminho seremos vencedores", o presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower apresentava uma justificativa insossa, afirmando que seu país não pretendia competir com nenhuma nação no domínio de satélite artificial.
Pouco depois, o embaixador americano na Organização das Nações Unidas (ONU), Adlai Stevenson reconheceu que os soviéticos haviam vencido no campo das pesquisas científicas espaciais.

Foi também a ex-URSS que lançou o primeiro satélite artificial da Terra, o Sputinik 1, que significa Amigo Viajante. Ele foi lançado ao espaço no dia 4 de outubro de 1957. A ex-URSS obteve ainda as primeiras imagens da Lua, em 1959, com os vôos das naves Luna 2 e Luna 3.

Tantos êxitos, propagados pelo então primeiro ministro Nikita Kruchev, mexeram com os brios do povo americano, que deu o troco seguidas vezes depois.
A revanche não foi bem ao colocar o primeiro norte-americano em órbita terrestre, o que ocorreu em 1962, com John Glenn, que inclusive repetiu o feito em 2000, aos 62 anos de idade.

Os Estados Unidos ousaram e, depois de algumas tentativas frustradas, conseguiram pousar na lua a primeira nave e fazer com sua tripulação pisasse o solo lunar, trazendo material para pesquisa.
Os primeiros astronautas a pisarem na Lua, em 20 de julho de 1969, foram Neil Armstrong e Edwin Aldrin. Michael Collins, o terceiro componente da tripulação permaneceu no módulo espacial.

Só para adicionar mais um êxito na lista americana, não se pode esquecer de outro aniversário comemorado no dia 12. Há 21 anos, a nave espacial Columbia foi a primeira a voltar à Terra, aterrissando como um avião.
Talvez Gagarin tenha passado a imagem de alienação diante da corrida política das duas potências, mas acertou em cheio quando falou em paz.

Um dos pedidos feitos por ele, na época, foi para que a humanidade zelasse pela paz. Nada mais atual. A Guerra Fria acabou, mas a corrida armamentista deu lugar à disputa científica aparentemente pacífica.

Na semana passada, durante a Reunião do Sub-Comitê Jurídico da ONU para o espaço, em Moscou, o presidente russo Vladimir Putin, pediu a cooperação dos países-membros na luta pelo o uso pacífico do espaço, em conferência para mais de 250 delegados de cem países.

O tema fazia alusão à ambigüidade entre luta e paz : "O espaço sem armas, arena de cooperação pacífica no século XXI". O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, destacou que a maioria dos países apóia a iniciativa de aproveitar o espaço para a paz.

Não pôde dizer unanimidade, até porque não havia representantes norte-americanos e ingleses na reunião. Além disso, é público que os Estados Unidos querem implantar, no espaço, o projeto Nation Missile Defense (NMD), batizado de Guerra nas Estrelas.
O NMD nada mais é que um escudo a ser instalado no espaço aéreo norte-americano e no de seus aliados, capaz de destruir mísseis de longo alcance.

Concebido nos anos 80, durante o governo Ronald Reagan, o projeto, avaliam especialistas, provocará uma corrida armamentista e transformar a órbita terrestre num campo minado, com tecnologia bélica.
Evocando a arena de paz, Vladimir Putin presidiu na 6ª feira a cerimônia de comemoração dos 41 anos em que o primeiro homem ultrapassou a fronteira da Terra, sem qualquer tom de superioridade em relação aos feitos espaciais.

Até porque, hoje, a Rússia ainda é uma potência na área, apesar da derrocada do comunismo e de seu sistema econômico. Tanto que é o segundo maior colaborador do programa de construção da Estação Espacial Internacional, o maior laboratório espacial já projetado até hoje, com tripulação russa e americana.

Analisar a viagem de Gagarin, separada do contexto político, tanto da época como do atual, se faz necessário para entender o que ele fez e não é à toa que norte-americanos reconhecem a singularidade de seu êxito. "Ele nos chamou todos para o cosmos", disse Neil Armstrong sobre o astronauta russo.

Ninguém tinha dúvida sobre sua coragem, até porque nada se sabia sobre os efeitos de uma viagem espacial ao corpo humano. O próprio Kruchev quando recebeu a notícia de que a cápsula de Gagarin havia aterrissado perguntou se o cosmonauta estava vivo.

Yuri Gagarin nasceu em 1934, na parte central da Rússia. De família pobre, concluiu seus estudos na aldeia onde morava, Klúshino. Depois, foi para a escola de aprendizagem técnica, tornando-se fundidor de aço. Na escola média de Saratov freqüentou o clube aéreo e entrou na escola de aviação, sem apoio dos pais.

Quando soube do lançamento do Sputinik se sentiu atraído pelo cosmos e, quando o governo soviético anunciou o processo de seleção de astronauta, ele não dúvidas. Concorreu junto com 3 mil candidatos e passou por testes rigorosos depois de escolhido.

Por abrir as perspectivas da conquista espacial, seu êxito fez com que o governo fixasse a data como o Dia da Época Aeroespacial. Em 1962, para comemorar o primeiro aniversário da viagem, a equipe do Centro de Direcionamento de Vôos, cuja sede fica nos arredores de Moscou, preparou um filme documental chamado "Nosso Yuri".

A história é contada em forma de entrevista com o astronauta, onde ele expõe sua opinião sobre a conquista do espaço, fala de seus sonhos e planos futuros. Num dos trechos, ele mostra sua humildade, lembrando os que participaram do lançamento da Vostok e do colega norte-americano Glenn.

"Eu, como participante desta façanha, como testemunha do acolhimento entusiasmado deste grande evento pelo nosso povo, pelos povos de todo o Globo, gostaria nesta ocasião de manifestar os meus agradecimentos a todos aqueles que tomaram parte na criação do potente foguete que me levou à órbita.

No ano decorrido, a família de dois astronautas soviéticos - eu e Guerman Titov, cujo vôo durou 25 horas e possibilitou dar 17 voltar em torno da Terra - viu-se aumentada com o nosso colega norte-americano John Glenn. Estou seguro que a família dos astronautas vai aumentar de ano em ano".

As palavras parecem proféticas, mas talvez ele tivesse mesmo uma visão realista. Afinal, depois de desvendado o mistério de sobrevoar a órbita terrestre, o homem seguiria avançando mais, era sua análise. Mais palavras de Gagarin, no filme "Nosso Yuri", dão uma noção da grandeza de seu pioneirismo.

"Após 12 de abril de 1961, todos os acontecimentos, toda minha vida virou um evento único, indivisível. Tive encontros diferentes, tive a oportunidade de ver muitas coisas.
Durante um ano estive em 17 países, tive encontros maravilhosos com muita gente. Maravilhosos mesmo! Fiquei conquistado pelo seu entusiasmo, suas saudações, suas atitudes com o povo soviético, a quem se deve, no essencial, o primeiro vôo espacial pilotado".

Sua fama não foi breve. Mesmo sem fazer outra viagem ao espaço, num período de sete anos, o povo soviético ainda se lembrava de seu herói, que era o título de Gagarin para seus compatriotas. E eles provaram sua fidelidade enchendo as ruas de Moscou no dia de sua morte, em 27 de março de 1968.
Flâmulas com sua foto, vestido de uniforme militar, eram carregadas por toda parte. A URSS perdeu Gagarin num acidente aéreo experimental, que fazia parte de seus treinos para voltar à órbita.

Ele e o piloto-instrutor Vladimir Serioguin, estavam a bordo de um caça, quando 12 minutos depois da decolagem, e das comunicações de praxe com a torre, as mensagens cessaram. Um minuto depois, o caça havia caído. Horas depois, encontraram os destroços do avião e os restos mortais dos dois pilotos. As investigações não descobriram o motivo do choque.

Os equipamentos da aeronave funcionavam bem, não houve incêndio, nem explosão. Especula-se que algum obstáculo tenha surgido inesperadamente à frente do aparelho, precipitando uma manobra brusca que, por sua vez, causou o "vôo em parafuso".

O astronauta soviético veterano Vladimir Chatalov, certo dia, expressou o que significava para a Rússia a perda de Gagarin: "Yuri não está conosco. E mesmo assim ele continua presente em cada novo vôo. Milhares de pessoas participam hoje na exploração do cosmos.
E todas elas se lembram e se lembrarão sempre do nome do primeiro cosmonauta, Yuri Gagarin, Colombo do Universo". (Lana Cristina).

fonte: http://www.radiobras.com.br/ct/2002/materia_120402_7.htm - 14k

Nenhum comentário: